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Haverá "ataques" para "evitar que assumamos", denuncia candidato presidencial da Guatemala

Bernardo Arévalo, durante a campanha eleitoral, enfrentou alguns embates judiciais que prometem continuar mesmo ele liderando seu oponente por 30 pontos

Bernardo Arévalo (Foto: Reuters)

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(Por Dacil Lanza, Télam) — O candidato presidencial Bernardo Arévalo, favorito para o segundo turno no domingo na Guatemala, considerou hoje, em entrevista à Télam, que "devemos estar preparados para os ataques", em relação às tentativas judiciais de excluí-lo da eleição, e falou sobre o apoio popular, seus possíveis aliados no Congresso e a nível internacional.

O sociólogo e deputado de 64 anos, que surpreendeu no primeiro turno, promete seguir os passos de seu pai, o ex-presidente Juan José Arévalo (1945-1951), que foi o primeiro mandatário democrático após décadas de ditaduras, a última liderada por Jorge Ubico, um admirador de Adolf Hitler que submeteu os indígenas maias ao trabalho forçado e governou por 13 anos.

O líder do Movimento Semente (MS), durante a campanha eleitoral, enfrentou alguns embates judiciais que prometem continuar mesmo se as pesquisas se confirmarem, nas quais ele lidera seu oponente por 30 pontos. Esta é a síntese da videoconferência que ele teve com a Télam.

Télam: Um grupo de partidos fez uma apresentação judicial para desconhecer os resultados de junho. Teme que possam tentar deslegitimar um resultado favorável a você no domingo?

Bernardo Arévalo: Desde 2017, começamos a nos integrar como um partido que se posicionava contra o sistema político corrupto estabelecido no país, e nunca escondemos que compreendemos que o desenvolvimento nacional de que precisamos para superar esses indicadores vergonhosos de pobreza, fome, falta de educação e infraestrutura precária passa pela eliminação dos corruptos do poder. Não fazemos parte dessa elite política criminosa que se organiza em partidos políticos como ferramenta para obter fundos públicos. Sabemos que foram vazados áudios ou vídeos que instruem como impugnar as mesas eleitorais. Vemos toda uma trama de corrupção onde infelizmente o partido adversário já faz parte, juntamente com o Estado, o governo, e estão tentando encontrar uma maneira de burlar a vontade popular que será expressa neste domingo.

T: Setores da população manifestaram-se contra as decisões judiciais de desqualificar o MS e parte desse apoio também está refletido nas pesquisas. Você se vê como vencedor?

BA: Desde 25 de junho, vimos que a população saiu espontaneamente para manifestar-se contra essas tentativas de burlar a vontade popular por meio de ilegalidades. Tivemos apoio de organizações e movimentos indígenas até o setor empresarial organizado, todos os setores profissionais, religiosos... todos convergindo para que (no domingo) haja eleições entre os dois candidatos eleitos em junho. Essa foi uma das primeiras barreiras que esse pacto de corruptos encontrou ao tentar atrapalhar o processo eleitoral. Temos um alinhamento na sociedade que esperamos que se mantenha após a vitória que acredito que vamos obter. Após essa vitória, devemos estar preparados para os ataques que ocorrerão para tentar evitar que assumamos o poder em 14 de janeiro.

T: Ontem, o promotor especial contra a corrupção, Rafael Curruchiche - sancionado pelos Estados Unidos -, estimou que depois de 20 de agosto seu partido poderia ser suspenso, seguindo o que vimos durante a campanha, onde ele impulsionou uma ação penal para desqualificar o MS por supostas irregularidades nas afiliações. O Tribunal Superior Eleitoral e a Corte Constitucional permitiram sua participação no segundo turno, mas o processo continua. Como você acha que esse processo vai continuar?

BA: Vemos uma clara continuação da perseguição judicial que começou em 25 de junho, quando conquistamos o direito de participar do segundo turno. Segue a mesma lógica. É uma violação dos compromissos que supostamente foram assumidos de não tomar ações que interferissem no processo eleitoral antes do segundo turno. Isso tem um claro efeito intimidante, gerando desconfiança. Mais do que uma medida judicial, é uma medida eleitoral. Evidencia até que ponto já existe um conluio entre o governo (do presidente Alejandro Giammattei), o Ministério Público e uma candidata (Sandra Torres) que acusa fraude no dia seguinte após ver as pesquisas eleitorais.

T: Seja qual for o resultado no domingo, nenhum vencedor terá maioria no congresso. Quem poderiam ser seus aliados?

BA: Estamos vendo uma quebra dos alinhamentos históricos e a abertura de novos, então não devemos presumir que tudo o que vemos agora permanecerá. Existe um sistema político em que a maioria está envolvida nos negócios da corrupção, e o óleo que lubrifica a corrupção é o orçamento de investimento em infraestrutura. Essa fonte de recursos será fechada. Além disso, vamos adotar uma estratégia de colocar as leis à frente, de criar alianças em torno dos assuntos, de abrir o espaço de governabilidade para os setores sociais, por exemplo, tomando iniciativas de lei com grupos de trabalho nos quais a sociedade participe para gerar consenso social que possa ser levado posteriormente ao Congresso. E em terceiro lugar, embora o ideal seja trabalhar com o legislativo, não ficaremos presos nem permitiremos que sequestrarem um Congresso que não consegue chegar a acordos. Vamos buscar uma governabilidade no âmbito dos poderes que as leis do Estado conferem ao Executivo.

T: Que países você vê como possíveis parceiros ou aliados para a Guatemala?

BA: Identificamos o problema de novas formas de sequestro do Estado por elites políticas criminosas que se organizam para a corrupção e que caem em derivações autoritárias. Primeiro, apostamos na recuperação das instituições democráticas, o que alimentará nossa política externa, que deve ser o esforço de criar internacionalmente as condições que mais beneficiem os objetivos de desenvolvimento em nível nacional. Fundamentar e resgatar a democracia e os governos democráticos em todo o mundo.

T: Como você avalia processos de integração como os propostos pela CELAC ou pelos países da América do Norte?

BA: Acreditamos que os esforços de integração são sempre positivos. O fortalecimento das instituições multilaterais é o que mais convém a países como a Guatemala, que não possuem a capacidade dos grandes países de hegemonizar o cenário internacional, e a partir daí construiremos nossas relações internacionais.

T: O que você pensa sobre países vizinhos com políticas autoritárias, como El Salvador?

BA: A natureza do nosso problema criminal é diferente da de El Salvador. Seremos tão firmes quanto eles, mas sempre dentro do respeito aos direitos humanos. E no caso da Nicarágua, denunciamos publicamente o processo de reconstituição de uma ditadura lá, e somos o único partido que propôs no Congresso uma resolução denunciando esse fato.

T: Sua adversária, Sandra Torres, fez uma aliança com ex-militares esta semana. Como você vê essa aproximação?

BA: Temos um exército que, nas crises políticas dos últimos 20 anos, se manteve à margem. Em contrapartida, os militares aposentados se tornaram uma força política. Essas são as alianças que ela busca.

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