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André Barroso

Artista plástico da escola de Belas Artes da UFRJ com curso de pós-graduação em Educação e patrimônio cultural e artístico pela UNB. Trabalhou nos jornais O Fluminense, Diário da tarde (MG), Jornal do Sol (BA), O Dia, Jornal do Brasil, Extra e Diário Lance; além do semanário pasquim e colaboração com a Folha de São Paulo e Correio Braziliense. 18h50 pronto

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A bomba de fumaça de Milei. A cartilha da extrema direita

Se o povo começa a questionar alguma coisa, o presidente tenta desviar a atenção com alguma barbaridade

Javier Milei (Foto: Reuters/Ammar Awad)

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Uma especulação absolutamente inútil: seria possível Javier Milei parar de atacar seus principais parceiros comerciais pelo bem da economia? Penso que não. Afinal, Milei segue uma cartilha da extrema direita mundial. Se o povo começa a questionar alguma coisa, o presidente tenta desviar a atenção com alguma barbaridade onde a imprensa e as trends de social media replicam e deixa muita gente ocupada discutindo a frase controversa e esquece o real problema. O chamado caos planejado foi muito bem utilizado por governos de extrema direita anteriormente. Quem não se lembra, quando o debate público recaiu sobre “onde está o Queiroz?”, o ex-presidente Bolsonaro provoca discussão na internet sobre Golden Shower ou quando Flávio Bolsonaro compra uma mansão de seis milhões no Lago Sul de Brasília, Bolsonaro critica o isolamento social dizendo: “chega de frescura, de mimimi.”.

A agressividade como estratégia, é vista por Marcos Nobre em seu livro ‘Ponto final: a guerra de Bolsonaro contra a democracia’, como um método do caos’. Mas não pensem que são fatos isolados. A extrema direita é muito bem organizada mundialmente. Compartilham sites, conspirações, conteúdos falsos, usam as mesmas falas e recebem sempre muitos fundos. O grupo Vox na Espanha, promoveu um grande encontro recentemente, onde líderes dessa extrema direita puderam vociferar seu veneno para todos os lados e inflamar quem estava presente e quem ouve recortes em redes sociais. Inclusive Milei foi um dos destaques, falando mal do casal Pedro Sánchez Pérez-Castejón.

Foi divulgada uma inflação na Argentina de três dígitos, com remarcação de preços ao menos três vezes ao dia, levando ao desespero pelo menos metade da população do país. Os produtores estão começando a jogar fora a sua produção alimentícia, como a laranja, pois a população não tem dinheiro mais para comprar. Essa é uma face do capitalismo, que visa produzir apenas com o propósito do lucro, e não para suprir as necessidades de seus semelhantes. 

Mas nem todo fascista ligado à extrema direita vive do livro Mein Kampf. Tem também O Campo dos Santos, de Jean Raspal. Um romance de embrulhar o estômago e racista, onde imigrantes indianos chegam à França e se espalham pelo país, causando entre os locais uma revolta e sendo tratados como lixo. Esse livro foi inspiração para a campanha de Trump. O livro é de 1973, mas mostra uma profética guerra cultural entre os extremos da esquerda e a ultradireita. 

Agora, nesse momento, você está vendo crescer na Europa, através do livro o Grand Remplacement, ou a grande substituição, de Renaud Camus, uma teoria nacionalista branca nazifascista de extrema direita, que está impulsionando extremistas do mundo inteiro a crescerem, principalmente na França. O mote que fascistas europeus captam a população em geral é sobre imigrantes que chegam para roubar seus lugares na economia local. “Nesse momento, foram espalhados cartazes com dizeres: ‘Donnons um avenir aux enfants blancs’”. Ou seja, vamos dar um futuro para as crianças brancas. Algo que foi tirado dos supremacistas brancos dos Estados Unidos, através do neonazista David Lane. 

Milei segue muito bem essa cartilha mundial, mas com tempero sul-americano. Daquele que precisa de chimichurri. Chamando opositores de perfeitos dinossauros idiotas ou o contumaz comunistas para líderes de esquerda. A metralhadora não se importa se somos o maior investidor do país, afinal, essas costuras são feitas por empresários e setores do governo. Uma crise diplomática pode acontecer para dificultar essas relações e agravar mais a crise do governo argentino que ainda está no começo.

É claro que, muitas vezes, falastrões da extrema direita falam para cortina de fumaça e lacrar nas redes sociais. Depois pode ser desmentido ou explicado, e se fica com o efeito literário sem arriscar o embaraço público ou aliança desfeita. A política de extrema direita é a arte de se desdizer.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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