A chantagem do “centro” derrotado nas urnas
"Não precisará também esconder a cor vermelha das caminhadas, sem prejuízo para o necessário aumento do número de bandeiras do Brasil", diz Igor Felipe Santos
Por Igor Felipe Santos
Só será possível fazer um balanço político mais preciso das eleições de 2022 depois do fechamento das urnas em 30 de outubro. No entanto, o resultado da votação no primeiro turno autoriza a concluir que o grande derrotado foi o apelidado “centro”, que consiste nos partidos e forças sociais não alinhados a Lula e a Bolsonaro.
A chamada 3ª via, que congrega os partidos políticos da direita não-bolsonarista, tem a preferência da grande burguesia e expressa os interesses dos grandes meios de comunicação, conquistou com a sua candidatura puro sangue Simone Tebet 5 milhões de votos, em torno de 4%. A polarização nacional Lula x Bolsonaro levou o “centro” a minguar na política nacional, tanto com o naufrágio da candidatura à presidência e a derrota nos estados, especialmente São Paulo, como também com o resultado para o Congresso Nacional.
Depois do fechamento das urnas, que deu ao ex-presidente Lula 57 milhões de votos, mas não encerrou a fatura no primeiro turno, o tal centro passou a falar grosso e fazer chantagem com o candidato do PT, que obteve 48,5% dos votos válidos. Assim, estamos diante de um contra-senso: os maiores derrotados das eleições se auto-proclamaram fiadores de uma provável vitória eleitoral do Lula. O “pacote da chantagem” vem com exigência do nome do ministro da Economia, do detalhamento do programa de governo, da linha da política econômica, especialmente da nova âncora fiscal. Agora, até o vermelho das roupas e bandeiras da militância dos partidos, movimentos populares e sindicatos de esquerda virou um problema.
O resultado da votação de Simone Tebet, que defendeu a manutenção do teto de gastos e nomeou como coordenadora de programa de governo a economista Elena Landau, famosa por ter conduzido a política de privatizações do governo FHC, comprova que beijar a cruz do mercado e trajar azul nas caminhadas pode agradar a Faria Lima, mas não rende votos.
Não se trata aqui nem de subestimar a dureza da guerra política no 2º turno entre Lula e Bolsonaro nem de ignorar a importância do eleitorado que votou em outras candidaturas ou se absteve. Não obstante, o que a maioria do eleitorado procura está muito longe do que a chamada 3ª via tem oferecido como saída para a profunda crise brasileira.
Lula já fez diversas sinalizações e esforços para contemplar o eleitorado mais centrista. A ampliação da aliança para o centro, a composição da chapa com o ex-governador Geraldo Alckmin e a suavização de propostas no programa de governo são alguns exemplos. Com isso, inclusive, arrastou uma boa parte desses eleitores ainda no 1º turno.
O principal desafio da campanha do Lula é conquistar o voto dos eleitores do sudeste, ampliando a margem entre os mais pobres e disputando um contingente com renda em torno de cinco salários mínimos, que integra uma camada de trabalhadores mais qualificados, de profissionais liberais ou pequenos empreendedores. Parte desse segmento não identifica no petista, reconhecido pelas políticas sociais para os mais pobres, um candidato preocupado e capaz de resolver os seus problemas.
Com propostas concretas para atender essa faixa da população, Lula conseguirá incidir sobre eleitores que são decisivos para a disputa no sudeste. Assim, não dependerá de intermediários do “centro”, que faz chantagem para proteger os interesses da grande burguesia e blindar a política econômica implementada desde a ofensiva golpista de 2015. Não precisará também esconder a cor vermelha das caminhadas, sem prejuízo para o necessário aumento do número de bandeiras do Brasil para disputar a simbologia nacional.
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