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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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A democracia e a invasão do atraso

A eleição para a maior cidade do país tem trazido preocupações à reflexão sobre a democracia, seus postulados e suas saídas para as crises

Pablo Marçal no debate da Band (Foto: Reprodução Band)

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A eleição para a maior cidade do país tem trazido preocupações à reflexão sobre a democracia, seus postulados e suas saídas para as crises. O ingresso das emissoras de televisão enquanto comunicadoras e difusoras de propostas, em substituição aos saudosos comícios de outrora alterou com novidades estranhas a escolha dos nomes destinados a cargos públicos. Passamos a assistir em nossas salas, em vez de propostas, um concurso de calúnias, difamação e acusações que, pelo visto, agarram a atenção dos espectadores e influem na popularidade de uns sobre outros. Em semelhante quesito, compreende-se que os bem educados se hajam retirado das telas, cansados de responder a baixarias, praticamente sem direito a contestação. 

O tal de Marçal descobriu, em seguida, que, questionado, retrucaria pelo instagram e se pouparia de mobilizar a inteligência, delegando a assessores a tarefa de fazê-lo. Nada de mais grotesco ao que um dia se entendeu como debate, ajudando a esclarecer posições e definir a opinião dos eleitores.  Amarrados a essa estrutura, numa espécie de evolução aceita por todos, tornou-se difícil, no auge da catástrofe, dar um basta aos exageros. Eles fariam parte da atualidade, cabendo ao povo a ação de discernir se caminha para um lado ou para outro. Soberano, o votante imperaria nos labirintos da verdade e, por meio de sextos sentidos, optaria pela escolha correta. Alexis de Tocqueville, no livro Democracia na América, havia percebido certas perversões do sistema. Sem gravidade, acrescentara ele, na medida em que a população, independentemente de seus gestores, tomava as providências necessárias para a gravidade dos problemas. Ele não observou a anomalia à luz dos holofotes televisivos, é claro, já que isso, em seu tempo, inexistia.  A máxima ‘governo do povo’, frente às transformações tecnológicas e demais adereços, já vem sofrendo golpes com a passagem do tempo. 

Como nos defender, na sociedade do espetáculo, das luzes em neon com forte capacidade de manipulação – e seus desdobramentos? Cabe, nesse momento, a intervenção de métodos legais ou dentro em pouco desceremos a ladeira da opressão, não mais pelos tanques, mas pela esperteza de bandidos ou chantagistas, ancorados no desejo da maioria. Para tanto, existem os tribunais com a função de impedir que desonestos, por pura desonestidade, tomem conta da situação e a encaminhem a seu bel prazer. Ninguém perderá pelo uso do bom senso... – e a nação reagirá com satisfação depois, na administração de suas instituições.  

Pruridos na hora de não tocar nos princípios da nossa escolha de governo não impedirão que milicianos, traficantes e corajosos representantes da má-fé dominem a situação. Cumpre implementar medidas antes da instalação das seções eleitorais ou entraremos na esfera do imponderável, orando aos céus para nos salvar. Pode existir melhor motivo para regulamentar a democracia do que orientá-la, seguindo o alvo da correção? Pouco a pouco atingiremos um limite e não romperemos com ele sem que o Estado tome medidas de preservação... Antes que o caldo entorne.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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