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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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A ética ladeira abaixo

Aos políticos sem ética reserva-se a lata de lixo da História

Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli (Foto: Paulo Sérgio/Câmara dos Deputados | Billy Boss/Câmara dos Deputados)

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Política, entre os gregos, era um termo designativo da polis, uma forma de dispor sobre a sociedade, a comunidade, seus interesses e seu bem-estar. Nesse sentido, o vocábulo entrou na era moderna, em particular nas democracias burguesas, evocando a necessidade do bom comportamento, de atitudes que visam usos e costumes, sem os quais não se realizam entendimentos no seio dos pares. Fazer política aponta para ideais, projetos e disposições em favor de normas que favoreçam a todos, e não apenas a um ou a outro... Compreende-se então que, nas assembleias de representantes do povo os debates se efetuem com alinhamento na ética, de modo que, ainda que se acirrem, o principal de sua vocação não se desvirtue. Nada em tais particulares justifica as ações espúrias que canalizam os seres humanos para aquilo que possuem de pior ou de pernicioso. Parece exagero empregar semelhante conceito, quando, transmitidos pela televisão, a população assiste muitas vezes a qualidade dos argumentos caírem ladeira abaixo, aproximando-se da sarjeta. 

Na verdade, os bons quadros da nossa política, inclusive o Presidente Lula (sobretudo se comparado a seu antecessor), sabem que a elegância, bem mais do que os maus bofes, indica um hábito a valorizar e destacar nos exemplos da militância participativa. Afinal, se não dignificarmos a ética, levando-a a acompanhar nossos movimentos, o que restará dos princípios de fraternidade, liberdade e igualdade, tidos como importantes desde a Revolução Francesa? Nem sempre os envolvidos na disputa entendem o valor destas condutas. Permanecem aqueles que, ao contrário, trabalham nos bastidores, favorecidos pela tecnologia das redes sociais, para caluniar e difamar adversários, enquanto tais tramoias não se desmoralizam. Assim, Eduardo Bolsonaro publicou um vídeo para tentar comprometer Celso Amorim e prejudicar suas atuais missões diplomáticas. Logo se verificou que realizara uma montagem, recorrendo a imagens de três anos atrás para simular uma cena da atualidade. Surpreendido na falcatrua, deve agora, a pedido da Gleisi Hoffmann, responder no Conselho de Ética na Câmara dos Deputados. 

Nova tentativa de forçar a barra na propaganda negativa, desta feita, aparentemente com o dedo de Carla Zambelli, aconteceu com a visita de Lula ao Chile, numa de suas cerimônias oficiais. Nas cenas gravadas, somou-se uma trilha sonora com o som de vaias, detalhe que, a despeito de um mínimo de repercussão, logo se verificou representar uma falsificação. 

Os autores da armação não temem o julgamento que virá, cedo ou tarde. Por falta de formação e gosto pela ilicitude nos hábitos do sistema democrático, são bandidos que, se não roubam objetos, expressam desejos de apropriação indébita de imagem a qualquer preço. Uma democracia sólida e bem instalada dentro de suas estruturas desenvolverá, com certeza, medidas com capacidade de coibir os abusos como criminosos que não respeitam os códigos. Note-se que, ao final da ladeira, se o assunto diz respeito à ética, é a lama, o subterrâneo dos comportamentos, a vilania dos desejos, um risco que não se deve enfrentar. Aos políticos sem ética reserva-se a lata de lixo da História. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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