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    Wellington Mesquita

    Jornalista com pós-graduação em Filosofia Social em Roma. Trabalhou em rádios e veículos no Brasil e no exterior. Foi coordenador de jornalismo na Agência Radioweb e publicou o livro “A Sucessão no Vaticano”

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    A extrema Europa

    A última vez que a extrema-direita teve poder na Europa, o mundo conheceu a sua maior tragédia

    Presidente francês, Emmanuel Macron, e líder de extrema-direita Marine Le Pen no Palácio do Eliseu 21/06/2022 (Foto: Ludovic Marin/Pool via REUTERS)

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    O fantasma da extrema-direita assombra o Velho Continente. É o que se viu nas eleições para o Europarlamento, celebradas neste domingo. Partidos extremistas obtiveram resultados expressivos por todos os lados, incluindo França e Alemanha, considerados os motores da União Europeia. Na França, a vitória acachapante do Reagrupamento Nacional de Marine Le Pen levou Macron a dissolver a Assembleia Nacional e convocar novas eleições. Na Alemanha, simpatizantes do III Reich (Alternativa para a Alemanha - AfD) formarão a segunda bancada do país no parlamento europeu. Na terceira força eleitoral do continente, a Itália, não foi diferente. O partido da primeira-ministra Giorgia Meloni, que mantém a chama fascista acesa em seu brasão, também venceu.

    Todavia, a extrema-direita não golpeou apenas o coração do sistema. Forças racistas, xenófobas e extremistas crescem também nas beiradas e se multiplicam como minions, assumindo diversas formas e roupagens. Na Espanha, se não bastasse o crescimento do VOX, que abriu as portas para Javier Milei, o “partido” “Se acabó la Fiesta”, cujo líder foi até banido do X por propagar fake news, abocanhou 800 mil votos e terá três cadeiras no Europarlamento.

    O português Chega, próximo aos Bolsonaro, pela primeira vez terá assento em Bruxelas. Na Bélgica o extremista Vlaams Belang liderou a disputa. Já o húngaro Viktor Orbán segue firme e forte. Embora tenha perdido votos em relação à última eleição, será peça chave na composição das forças no legislativo continental. Na Áustria, que há 86 anos abria os braços à anexação de Hitler, a extrema-direita (FOI) também triunfou com 27% dos votos.

    A ascensão da extrema-direita só não é maior que a queda de Verdes (de 71 para 52 deputados) e Liberais (102 para 79). Direita e centro-esquerda seguem no topo como os dois grupos mais votados no Velho Continente. Mas é apenas um respiro. O Partido Popular Europeu, que flertou com o extremismo durante a campanha, chegou a 185 deputados. O grupo social-democrata, de centro-esquerda, apesar dos reveses, se mantém como segunda força com 137 cadeiras. Os dois grupos europeístas lideram, mas agora com os dentes do ultranacionalismo no pescoço, e com sede de poder.

    Unidas, as forças extremistas terão a terceira bancada do europarlamento. Hoje, estão divididas em dois grandes grupos: “Reformistas e Conservadores Europeus” (73 deputados), capitaneados por Giorgia Meloni, e “Identidade e Democracia” (58 deputados), liderado por Marine Le Pen. Somam-se aos dois inúmeros deputados sem partido, que se juntaram ao bloco. Nada mal para quem, desde a tragédia da Segunda Guerra Mundial, foi isolado e ocupou apenas posições irrelevantes no continente. O cenário definitivamente mudou.

    As razões são múltiplas. Obviamente, a economia estagnada e a queda do poder de compra do cidadão médio europeu estão entre as principais causas. A inflação preocupa e o desemprego ainda é alto em algumas regiões, principalmente entre os jovens. Os Anos Dourados de crescimento e pleno emprego ficaram apenas nos filmes. Comprar um imóvel é um sonho distante da massa assalariada europeia.

    Ao mesmo tempo, a guerra na Ucrânia, a transferência de recursos e armamentos a Kiev, e a ameaça de enviar soldados ao front, ameaça feita recentemente por Macron, tiram o sono da população. Parte da extrema-direita é contra o envolvimento da UE na guerra. O massacre em Gaza sem o devido repúdio da UE desde o início da ofensiva israelense também é impopular. Para completar, o fluxo contínuo de imigrantes desembarcando no

    continente (e os milhares que morrem no Mediterrâneo) e a falta de política em Bruxelas para gerir esta crise, tudo isso se torna prato cheio e suculento para o discurso extremista.

    Para todas essas preocupações, a extrema-direita apresenta soluções fáceis, obviamente recheadas de preconceito, violência, ataque aos direitos humanos, eurocentrismo e euroceticismo. Mensagens simplistas que circulam em alta velocidade pelas redes, algo que nos familiarizamos no Brasil nos últimos anos, e que continua matando as democracias mundo afora. Se os partidos tradicionais não mudarem radicalmente sua política e suas estratégias, logo, logo, o extremismo dará as cartas em Bruxelas. Isso não é pouca coisa. A última vez que a extrema-direita teve poder na Europa, o mundo conheceu a sua maior tragédia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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