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    Miguel Paiva

    Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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    A festinha do presidente

    "Os músicos tocavam alto para disfarçar o som do panelaço que vinha das ruas. Bolsonaro dizia que era uma forma carinhosa e democrática de dar parabéns", ironiza o colunista Miguel Paiva, do Jornalistas pela Democracia

    (Foto: Charge Miguel Paiva 23/032020)

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    Por Miguel Paiva, para o Jornalistas pela Democracia - O bolo ainda não tinha chegado. A confeiteira alegava que não tinha finalizado o bolo porque seu confeiteiro não tinha conseguido chegar ao trabalho. Estava dando prioridade à sua vida e optou por ficar em casa. A cozinha do Alvorada tentava resolver o problema. Só dava para sair um bolo de fubá com cobertura de chocolate. Bolsonaro acabou topando. Ele queria mesmo era soprar as velinhas em forma de arminhas. 

    A família começou a chegar e a receber máscaras mandadas fazer especialmente para o evento, cada uma de uma cor. Só a do aniversariante era verde e amarela. Apesar da garantia dada pelo fabricante e das recomendações na embalagem, tanto ele quanto os convidados não se preocuparam muito ao manuseá-las. Dos dedos sujos de chantilly aos goles de espumante diretos sobre a máscara, cada um se divertiu como pode naquele baile de máscaras tupiniquim. Os músicos tocavam alto para disfarçar o som do panelaço que vinha das ruas. Bolsonaro dizia que era uma forma carinhosa e democrática de dar parabéns. Todos dançaram ao som do Fora Bolsonaro misturado a algum sucesso sertanejo não identificado. 

    Os convidados que apareceram se escondiam das câmeras atrás das máscaras. Os que queriam aparecer abraçavam contagiosamente o presidente para tirar uma selfie. O sorriso era presente em todos os rostos quando as máscaras caíam para as fotos. Um garçom passava com novas máscaras que substituíam as descartadas. Alguns guardavam as usadas nos bolsos como lembrança apesar da festa ter providenciado, como nos aniversários de crianças e nos casamentos, lembrancinhas para quem ia embora. Docinhos com mensagens nos papéis em tom ameaçador diziam que se alguma informação falsa saísse dali iria ser desmentida. Ao lado da mensagem um emoji com um sorrisinho e um coração.

    Mas até irem embora muita festa ainda aconteceu. O Ministro da Saúde foi e levou uma ambulância do SUS de presente. Disse que ela ficaria na porta do palácio para qualquer eventualidade. A probabilidade era grande já que o presidente tem um toque de midas ao contrário. Tudo que ele toca se contamina. Um animador de festas começava as brincadeiras. A dança das cadeiras foi a preferida, afinal era bem conhecida no Planalto. Ex- ministros se recusaram a participar mesmo tendo ido à festa. Os filhos do presidente organizaram um torneio de Paint Ball nos jardins do Alvorada. O alvo era o governador Dória.

    A festa rolou até a madrugada quando o presidente, exausto, se retirou com sua esposa. A animação continuou, mas logo que o presidente bateu a porta atrás de si todos correram para a saída onde os frascos de álcool em gel foram atacados. Várias brigas e disputas aconteceram no desejo descontrolado de limpar as mãos. Alguns saíram bebendo no gargalo a vodka servida achando que aquele álcool era melhor que o gel para higienizar a boca.

    Enfermeiros esperavam os convidados para fazer os testes rápidos do coronavírus. Quase todos recusaram dizendo que já tinham nos bolsos um teste providenciado pelo presidente com o resultado negativo.

    Logo todos desapareceram pela noite de Brasília e da janela do Alvorada, o presidente, abraçado à sua mulher dizia que não seria uma gripezinha que iria acabar com a sua festa. 

    No meio do jardim, um penetra haitiano gritava em português perfeito mas com sotaque.

    - Acabou Bolsonaro. Você acabou. 

    Bolsonaro tossiu e fechou a janela. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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