A impunidade como ignição do golpismo
Os bolsonaristas envolvidos em atos antidemocráticos são apenas a franja de um problema civilizatório, que é a impunidade
Por Sérgio Fontenele
Os bolsonaristas envolvidos em atos antidemocráticos, portanto, golpistas, na alucinação coletiva de que houve fraude nas eleições presidenciais que consagraram Lula, são apenas a franja de um problema civilizatório, que é a impunidade. À medida em que atacam as instituições, inclusive ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), dentro e fora do País, seja qual o lugar que estejam, com ameaças consideradas reais – inclusive contra a integridade física desses magistrados –, os extremistas sinalizam por caminho perigoso.
Como frisou a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, quanto aos episódios da segunda-feira (14-11), em Nova York, onde os ministros do STF, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, foram perseguidos e agredidos por lunáticos travestidos de camisa da CBF e bandeira do Brasil. Corroborando Gleisi Hoffmann, tais ataques representam intolerável ameaça ao estado democrático de direito. Mas os atos golpistas vêm acontecendo desde o dia seguinte à vitória acachapante do presidente eleito Lula.
Foi triunfo incontestável, gigantesco, esmagador, não pela diferença numérica superior a dois milhões de votos, em favor do líder petista – sobre seu sinistro adversário –, mas sobretudo pelo simbolismo do histórico episódio e pelo aspecto da vitória da resistência popular, que ecoou no mundo. E pode até mudar os rumos da humanidade, no que se refere à contenção da extrema-direita mundial, atingida em sua essência pela vitória de um homem contra um sistema que despejou bilhões, públicos e privados, para reeleger o falso messias.
“Intervenção militar”
A questão da impunidade, no caso específico do desrespeito à Constituição Federal e às instituições e seus agentes, pode se tornar perigosa, se não for contida com o rigor da lei e Carta Magna, preservado o devido contraditório. Qualquer impunidade deve ser impedida, independente da situação, especificamente no caso desses fanáticos marionetes de extrema-direita, pedindo “intervenção militar” – leia-se golpe militar – causando tumulto, bloqueando estradas e avenidas ou fazendo aglomerações nos arredores de quartéis do Exército.
Devem ser identificados, processados e punidos, mas o mais importante é que a regra deve valer para seus financiadores, sabidamente empresários fora-da-lei, do agronegócio, comércio, indústria, etc. Como dizem os estadunidenses, é só seguir a trajetória do dinheiro – “follow the money”. Certamente, provas suficientes há. Só falta decisão jurídico-política, podendo agir de ofício ou provocado pelo Ministério Público, porém o atual comandante da Procuradoria-Geral da República atua como espécie de linha auxiliar do Palácio do Planalto.
Contudo, não seria efetivo processar apenas aqueles indivíduos, fanatizados ou não, mal intencionados ou iludidos. A impunidade, no caso golpista, deve ser reprimida pelo exemplo a ser dado na denúncia, inquérito, julgamento e punição de gente grande como o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, agonizando o ocaso de um final de mandato que entrará para a história como um governo que trabalhou para destruir o Brasil, sua soberania e suas estruturas institucionais, sociais, humanas, culturais e ambientais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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