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Elisabeth Lopes

Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

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A isenção ideológica na aparência

Ao nos conectarmos a esse modelo neoliberal de imprensa fica nítido o modo como comunicam a materialidade dos acontecimentos da sociedade civil

Controle remoto e televisão (Foto: Divulgação)

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Nesse texto, relato algumas impressões sobre um tema que há muito me incomoda e inquieta pela ressonância que tem no fenômeno de manipulação de mentes. Falo sobre a mídia corporativa, sobretudo sobre o conglomerado dirigido pelos Marinhos, a mídia que se anuncia como comunicadora de fatos da sociedade, tal como se produzem e com a máxima isenção ideológica. Basta não estarmos distraídos para percebermos que essa justificativa de efeito não passa de uma declaração fictícia.

Ao nos conectarmos a esse modelo neoliberal de imprensa, ao assistirmos os canais da TV aberta e os demais canais afiliados à rede Globo, à Record, à Bandeirantes, entre outras emissoras espalhadas pelo país, como a CNN, ou lermos os jornais Folha de São Paulo, O Globo, o Estadão e os demais associados aos mesmos princípios neoliberais, ou assistirmos os canais por assinatura dessas redes, fica nítido o modo como comunicam a materialidade dos acontecimentos da sociedade civil e da sociedade política. Todos, sem exceção, orientam-se por editoriais comprometidos inteiramente com os interesses e vieses que defendem em nome de seus financiadores.

Por mais que a mídia corporativa alardeie cinicamente a denominada isenção ou neutralidade em suas comunicações, é visível, a olhos nus, a tendenciosidade cada vez mais pronunciada contra qualquer posição que bata de frente com os interesses neoliberais políticos e econômicos, que em nome da classe dominante querem preservar. 

Essas manifestações se dão em todos os seus programas. A título de exemplo, um dos temas atualmente mais tratados é o da desoneração fiscal a setores econômicos privilegiados. É gritante a defesa de isenções fiscais em favor da preservação de ganhos absurdos em detrimento da legitimidade das políticas públicas de desenvolvimento social do país já implementadas ou previstas pelo governo.

Para a grande mídia, os pobres devem arcar com as dificuldades das contas do governo, pagando mais impostos ou arcando com os prejuízos causados pela fome rentista da elite beneficiada pela desoneração nas folhas de pagamento das empresas, entre outras isenções fiscais. 

Os veículos hegemônicos da imprensa, de modo insistente, argumentam em favor do setor privado beneficiado, alegando que se forem retiradas as isenções, há risco de inviabilidade produtiva e de desemprego. Sabemos que esses argumentos falseiam a verdade, se nos atentarmos aos lucros aferidos por esse segmento produtivo.

Subliminarmente, para não parecer tão evidentes suas inclinações neoliberais, geralmente defendem os cortes em áreas essenciais para o bem-estar do povo, referindo que são exagerados, ainda que o país esteja longe de dirimir a triste realidade da desigualdade social. O governo Lula tem se debatido diariamente com esse impasse de equilibrar os gastos sem atingir o povo pobre. 

Os setores do mercado financeiro, reconhecidos pela frase "Elite da Faria Lima", gritam com suas vozes reacionárias e vorazes para que sejam feitos cortes nos pisos para a saúde, educação, além da crueldade com cortes na previdência e assistência social, desatrelando os benefícios dos aposentados do reajuste pelo salário mínimo.

Não há justificativas plausíveis para a gula do setor financeiro, que quer o Estado Mínimo para os pobres e Estado Máximo para seus privilégios fiscais, ou para recorrer ao Estado toda vez que seu acúmulo de capital não for suficiente para surfar nas suas benesses de hiper riqueza. 

Neste governo progressista de reconstrução nacional, a despeito de ter herdado uma economia degradada e um absoluto caos em diversas áreas sociais, como a triste volta da fome e da miséria, em pouco tempo a atual gestão vai recuperando a economia, o bem-estar social, a imagem internacional do país, dados comprovados pelos índices crescentes de aprovação do governo, apresentados pelas agências de pesquisa nesta segunda metade do corrente mês.

É fato que, na prática do dia a dia do país, por mais que a mídia corporativa queira encobrir os avanços com suas críticas indevidas, é visível a retomada do crescimento da economia, o aumento da empregabilidade, o elevado planejamento social, concretizado em várias políticas públicas que beneficiam diretamente os mais excluídos. O auxílio dado pelo governo federal na recuperação do Estado do Rio Grande do Sul, pela recente catástrofe vivida pela crise climática, é sem precedentes. Nenhum governo, até então, dedicou-se tanto a reestabelecer a sustentabilidade de uma unidade federativa.

Ainda que o país já figure, pelo desenvolvimento recorde do país em menos de dois anos do atual governo, como a 8ª economia no ranking mundial, superando um país historicamente desenvolvido como a Itália, há sempre representantes de plantão da mídia corporativa que, falaciosamente, se dizem isentos, a realizarem críticas sobre todos os atos do governo. 

Quando admitem o inegável, o fazem com críticas veladas. No programa do Estúdio i da Globo News, apresentado em 18/06/2024, o grilo falante de seus patrões, Merval Pereira, inacreditavelmente membro da Academia Brasileira de Letras, referiu que o governo Lula faz sua gestão baseada nas orientações do Partido dos Trabalhadores, complementando que o atual governo não se pauta por ações de centro-direita. Nesse ponto, bem que gostaríamos que o Presidente pudesse pautar mais questões de bem-estar social do que ficar se equilibrando entre o mercado e as necessidades do povo.

Sendo um governo de coalizão, com a presença de representantes dos partidos de direita e tendo como inimiga a maioria torpe da bancada do Congresso Nacional, além das decisões de boicote ao crescimento econômico do país pela taxa de juros escorchantes, determinadas pelo declarado político bolsonarista, Presidente do Banco Central, Campos Neto, é quase inverossímil o governo Lula ter obtido os bons resultados na direção do desenvolvimento com justiça social. É importante assinalar que a taxa de juros operada pelo BC é a maior do mundo.

Nesse movimento de falseamento da realidade pela mídia corporativa, os comentaristas, com raríssimas exceções, emitem suas análises a partir dos fundamentos do neoliberalismo como parâmetro ideal a ser seguido. Sempre a favor do mercado, da privatização inescrupulosa dos bens públicos, dos ideais dos especuladores financeiros, a grande mídia sugere encaminhamentos de gestão do país em detrimento de um desenvolvimento sustentável e prioritário no combate à desigualdade social, um dos problemas graves das economias em desenvolvimento como a do Brasil.

Como se não bastasse tais ingerências comunicativas, a mídia patrocinada pelo mercado já lançou seu próximo candidato a presidente do Brasil, o governador bolsonarista da extrema-direita disfarçada de direita, Tarcísio de Freitas. Não chegamos nem na metade do governo Lula e já anunciam diariamente o governador de São Paulo como sendo um candidato forte e com uma gestão exitosa na avaliação deles. A campanha para um governo neoliberal mais palatável que o governo anterior está escancarada.

Encerro este texto com a divulgação de um site extremamente útil para quem estiver interessado em acompanhar as inclinações da grande mídia. Na semana passada, ao assistir ao Programa "Forças do Brasil" transmitido pela TV 247, canal de jornalismo independente, democrático, progressista e plural, fiquei conhecendo um site denominado Manchetômetro que realiza acompanhamentos da cobertura da grande mídia sobre temas como economia e política.

O conteúdo desse site é produzido pelo Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública registrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e localizado no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. É importante referir que o Manchetômetro não tem filiação com partidos ou grupos econômicos, o que nos sinaliza a não inclinação ideológica à direita, ao centro-direita, ou à esquerda, além de não ser patrocinado.

Esse site, em uma de suas pesquisas de acompanhamento da cobertura da grande mídia realizada em março deste ano, apurou que o atual Presidente da República do Brasil foi avaliado como uma "persona non grata" na imprensa brasileira. O documento analisou as repercussões da fala de Lula em 18 de fevereiro de 2024, em sua visita à Etiópia, em que o presidente fez uma crítica sobre as ações de Israel na Faixa de Gaza. Segundo este site, a mídia hegemônica, alinhada à política externa orientada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelos países europeus ocidentais, que na ocasião apoiavam de modo inconteste o Estado de Israel, criticaram duramente as declarações do Presidente Lula.

Segundo a nota do Manchetômetro: "os grandes jornais brasileiros seguem fielmente uma linha política de política externa muito alinhada ao Departamento de Estado dos Estados Unidos e às potências europeias ocidentais. É natural que o projeto de colocar o Brasil novamente na liderança do Sul Global, que é abertamente abraçado por Lula e seu governo, se choque frequentemente com a orientação editorial dos jornalões, para os quais ainda vale a velha frase do embaixador Juracy Magalhães, dos tempos da ditadura, segundo o qual 'o que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil'. Essa reportagem, na íntegra, está disponível em: https://manchetometro.com.br/2024/03/11/lula-persona-non-grata-na-imprensa-brasileira/.

Mediante o exposto, fica impossível concordar com a isenção propalada pelos prepostos dos donos dos conglomerados da mídia corporativa ao apresentarem seus conteúdos tendenciosos aos usuários. Resta-nos ter olhos e ouvidos sempre muito atentos às meias-verdades, às distorções dos fatos, à falsa isenção ideológica anunciada pela bela voz grave e aparentemente convincente do âncora do Jornal Nacional.

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