A juventude brasileira não está com Kim Kataguiri
Nossos mais de 30 milhões de jovens estão lutando para sobreviver, não para derrubar um governo democraticamente eleito
Durante a marcha que as entidades estudantis, União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), União Nacional de Estudantes (UNE) e Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) promoveram em Brasília antes da votação do primeiro turno da PEC 171 na Câmara dos Deputados, contra a redução da maioridade penal, eu caminhava ajudando a organizar os estudantes secundaristas das escolas do Distrito Federal. Enquanto isso, presidentas das entidades estudantis faziam discursos efusivos.
Ao passar pela esplanada dos ministérios, encontramos outra manifestação, essa organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG). A juventude, organizada na faixa esquerda daquela via, saudou calorosamente a luta do povo brasileiro. Nesse momento avistei um menino, filho de um dos trabalhadores rurais, olhando emocionado para jovens da idade dele, gritando palavras de ordem contra a redução da maioridade penal. Não pude deixar de parar. Perto dele, batemos um papo rápido. Não podendo esperar mais, tirei meu broche da ANPG e colei nele, lhe dizendo que algum dia o queria na pós-graduação, para mudar este país de verdade.
Não, a juventude brasileira não está à destra de Kim Kataguiri. A juventude brasileira não está com Kim. Nossos mais de 30 milhões de jovens estão lutando para sobreviver, não para derrubar um governo democraticamente eleito. Quando viajo pelo Brasil ou quando volto para o gueto de onde eu saí, me emociono grandemente ao ver aqueles meninos e meninas voltando da escola com seu fardamento e seus livros. É essa a juventude brasileira, a que está tendo a primeira oportunidade histórica de pensar, porque, nos idos da década de 90 a maioria não comia, e quem não come não pensa. A juventude de favela não odeia o PT, odeia a política, por causa dos políticos que, historicamente, tratam o Estado brasileiro como seu palácio de privilégios. A juventude brasileira, que come pela primeira vez, é a mesma que, adentrando as novas universidades criadas, os bancos de faculdade atingidos através do ProUni e FIES, ou nas centenas de novos campi de Institutos Federais, está participando da maior revolução educacional da história do Brasil. Não, a juventude não é fascista. O grupo organizado por Kim Kataguiri é uma minoria da classe média abastada que nunca viu uma panela vazia ao meio dia, é uma minoria que nunca viu o pai ser escravizado para ganhar 8 reais ao dia pelo trabalho rural, é uma minoria que nunca viu a fome. O grupo organizado por Kim está muito longe de representar o que a juventude brasileira precisa.
Talvez Kim nunca vá aprender, porque quem constrói ódio não aprende nada, mas a juventude brasileira aprendeu a sonhar. Eu mesmo aprendi. Quando eu era menino ainda, queria me formar. Hoje quero acabar o doutorado. E tenho centenas de amigos dos rincões deste país fazendo mestrado e doutorado. Eles serão os primeiros doutores de suas famílias como eu serei da minha. Isso não é propaganda do PT e nem marketing eleitoral. Nunca estivemos e não estamos ao lado de Kim. Ele só representa aqueles que, coberto de privilégios, não aprenderam a perder. A juventude que conquistou os 10% do PIB para a educação no Plano Nacional de Educação (PNE), 75% dos royalties e 50% do fundo social do petróleo não é a mesma que Kim quer mobilizar. A juventude das grandes conquistas educacionais é a que defende a estabilidade democrática e o mandato constitucional da presidenta Dilma, porque precisa do Brasil avançando. E é nas escolas e universidades que a nossa turma estará, Kim, de cabeça erguida e defendendo a democracia, fazendo o debate do futuro e não esse coro golpista e saudosista representado por você e por gente que nunca estudou história.
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