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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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A luta política: debate ou banditismo

Os Estados Unidos se posicionam como polícia de prontidão para influir aqui e ali, no momento, em particular no Oriente Médio.

Benjamin Netanyahu e Joe Biden (Foto: REUTERS/Elizabeth Frantz)

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Montesquieu, em O espírito das leis, previu uma fórmula para acabar com as disputas individuais, até então travadas no braço ou através de duelos e vinganças. O sistema judiciário, gerindo os conflitos, constituía-se num árbitro, surgindo como uma boa solução, desde que as partes o aceitassem e obedecessem às suas determinações. Assim, as democracias modernas impuseram limites a contenciosos de outra maneira perigosos e prontos para transbordar em imprevisíveis situações. Avançamos em tal ponto na maior parte do planeta, faltando ainda espaços em branco, não tanto no interior, mas no âmbito dos relacionamentos internacionais. A Liga das Nações, pioneira em tais acordos e, depois da II Grande Guerra, a ONU, surgiram num desdobramento das ideias do pensador francês, com a hipótese de regular os entendimentos entre participantes e cercear erupções que, em geral, se traduzem em guerras. Era um propósito vanguardista que em nosso tempo, infelizmente, não vingou. Mergulhados em interesses próprios, países nem sempre obedecem às recomendações e se atiram às execuções de força, com armamentos pesados e epidemias de mortes.  Será impossível que um dia alcancemos os patamares de Montesquieu, inclusive no âmbito internacional? Quem sabe... Por enquanto, a vantagem dos debates não impera sobre armamentos do poderio bélico. 

Os Estados Unidos se posicionam como polícia de prontidão para influir aqui e ali, no momento, em particular no Oriente Médio. E a moral, condenando a barbárie, recolhe dispositivos mentais sem assistir ao cenário de uma época que tristemente, de vez em quando, beira as possibilidades de um apocalipse. Cabe destacar como as discussões entre pares e ímpares resvala para a brutalidade nos conflitos sucessivos e mais recentes, como a invasão do Iraque, o Afeganistão e, agora, o genocídio dos palestinos nas regiões dominadas por Israel. A convenção de Genebra, criada para atenuar violências não se faz presente e é solenemente ignorada pelos soldados e comandantes de Netanyahu. Moral... Como se pode mencionar semelhante categoria? A polícia secreta de Tel Aviv permanece pronta para assassinar adversários, onde estiverem, ainda que tais atentados ponham risco quaisquer acordos. Ismail Hanieh, refugiado no Irã, durante a cerimônia de posse do novo presidente, tombou alvejado por bombas de agentes que não hesitam em fazer o papel de mafiosos armados pelo governo de Israel. Era um personagem mais moderado que, dependendo das circunstâncias, contribuiria para a pacificação, com vistas a um ponto final nas mortes desenfreadas. Na polarização debate versus banditismo nos nossos dias, ganha o segundo, apesar dos esforços da opinião em sentido contrário. 

A Casa Branca enfrenta a ONU e enfrenta o clamor público, desconsiderando os estudantes que, de vez em quando, ocupam as ruas e as universidades, aos gritos contra o genocídio. Contudo, opinião, embora não nos demos conta, representa uma força na prática da existência. E tudo cansa, até a matança. Pode ser que assistamos de repente, num lapso, a punição dos covardes que fuzilam por ideias e se conduzem pela estupidez humana.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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