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    Plínio de Arruda Sampaio Jr.

    Professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp e editor do site Contrapoder

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    A maldição de Aécio

    "O PSOL se enredou na armadilha institucional do eleitoralismo e do cretinismo parlamentar", escreve Plínio de Arruda Sampaio Jr.

    Deputado federal Aécio Neves (Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados)

    Por Plínio de Arruda Sampaio Jr. 

    (Publicado no site A Terra é Redonda)

    A adesão à Frente Ampla liderada por Lula e Alckmin nas eleições de 2022 e a decisão de selar uma Federação com a Rede Sustentabilidade de Marina Silva comprometeram irremediavelmente a capacidade do PSOL de atuar como um partido que luta pelos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. O partido que surgiu como reação à adaptação do Partido dos Trabalhadores à ordem deixou definitivamente de ser um espaço de organização da luta pelo socialismo e pela liberdade.

    A indigência teórica bloqueou qualquer possibilidade de um debate crítico sobre o caráter extraordinariamente destrutivo e incontrolável do capitalismo contemporâneo e seus efeitos particularmente devastadores sobre a sociedade brasileira. A linha de menor resistência como orientação política enredou o partido na armadilha institucional do eleitoralismo e do cretinismo parlamentar.

    Incapaz de ir além dos rígidos parâmetros da institucionalidade burguesa, o partido que surgiu como uma esperança de renovação da esquerda socialista, com a aspiração de evitar tanto a armadilha da cooptação às benesses da ordem como a esterilidade do sectarismo dogmático, foi progressivamente se adaptando às exigências do capital e adquirindo os cacoetes da política tradicional. A incapacidade de superar a ilusão que significa o programa democrático popular numa formação social subdesenvolvida, em franca reversão neocolonial, terminou levando o PSOL a sucumbir ao “melhorismo”. A maldição de Aécio se realizou. O PSOL acabou se transformando em mero “puxadinho do PT”.

    Na hora decisiva, quando a ofensiva reacionária contra os direitos dos trabalhadores atingiu o clímax e a escalada autoritária colocou em risco a própria continuidade do Estado de direito, o PSOL falhou inapelavelmente como instrumento de elaboração, organização, mobilização e conscientização dos oprimidos e explorados. A pretexto de evitar a ameaça despótica de Bolsonaro, o partido cedeu às pressões dos donos do poder e sancionou o acordão que tem como objetivo precípuo legitimar os ataques que destituíram o pouco que ainda restava de conteúdo democrático e republicano da Constituição de 1988.

    Ao renunciar à possibilidade de se apresentar como alternativa política contra a ordem, o PSOL rendeu-se à miséria do possível. Ao descartar a mobilização direta dos trabalhadores como elemento central da tática, aceitou como fato consumado a correlação de forças responsável pela ofensiva avassaladora do capital sobre o trabalho.

    O vazio de ideias e o silêncio das ruas fortaleceram a ofensiva reacionária. Sem enfrentar pela raiz os condicionantes estruturais da barbárie capitalista – a causa dos males que envenena a vida dos brasileiros – e sem acumular força para mudanças estruturais, é simplório imaginar a possibilidade efetiva de melhoria nas condições de vida dos trabalhadores, o fim da violência política e a reversão da devastação ambiental, seja em um governo de verniz democrático, com Lula e Alckmin, seja em um abertamente ditatorial, com Bolsonaro e os militares.

    A captura do PSOL pelo Estado neoliberal fechou definitivamente o circuito político à participação da esquerda socialista. O padrão de dominação que se pretende consolidar não permite nada que vá além de uma moderada pauta de reivindicações pós-moderna. Barrados de representação parlamentar pela cláusula de barreira e marginalizados dos meios de comunicação pelos grandes monopólios que o debate público, os partidos de esquerda que não se renderam às pressões da ordem foram, de facto, ainda que não de jure, banidos da vida política nacional. Como as classes sociais não atuam sem a mediação de agentes políticos, os trabalhadores ficaram sem instrumentos independentes para se expressar na esfera política.

    Circunscrever a disputa política à miséria do possível, num contexto histórico particularmente adverso, marcado pela escalada da barbárie capitalista, é dobrar a aposta na marcha insensata dos acontecimentos. Ainda que a neutralização da oposição política ao status quo signifique, no curtíssimo prazo, uma importante vitória para a plutocracia que se locupleta com os grandes e pequenos negócios do padrão de acumulação liberal-periférico, trata-se, na verdade, de uma vitória de Pirro. Ao bloquear os canais de expressão das contradições reais que mobilizam a luta de classes, a burguesia aprofunda a crise estrutural de legitimidade que corroi as instituições e acirra os antagonismos sociais que impulsionam a luta de classes.

    Não é o momento de evasões conciliatórias. A melancólica trajetória do PSOL e a extrema debilidade e fragmentação das organizações socialistas que não se renderam à ordem evidenciam a urgência de uma profunda e radical reorganização da esquerda revolucionária. A neutralização do potencial revolucionário das classes subalternas inviabiliza qualquer possibilidade de uma solução autenticamente democrática, de baixo para cima, para a crise civilizatória que assola a sociedade brasileira.

    Na ausência de uma Frente de Esquerda Socialista, que unifique as lutas dos trabalhadores e lhe dê direção política por fora das amarras das instituições burguesas, os trabalhadores ficam sem instrumentos políticos para se contrapor à ofensiva reacionária da burguesia.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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