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    Paulo Moreira Leite

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    A reconstrução do Rio Grande do Sul cabe ao Brasil

    Cabe a Lula, como presidente, assumir lugar central nas decisões necessárias ao país enfrentar uma tragédia que envolve necessidades e carências do país inteiro

    Chuvas no Rio Grande do Sul (Foto: Lauro Alves / Secom)

    O governador Eduardo Leite apresentou uma ideia lúcida para o país enfrentar a tragédia das chuvas torrenciais do Rio Grande do Sul, desde já uma das grandes catástrofes na história do país.

    Apoiado pela conhecida observação de que situações extraordinárias exigem respostas também extraordinárias, Eduardo Leite disse que "a gente vai precisar de uma espécie de Plano Marshall de reconstrução".

    O governador fez uma referência conhecida -- o gigantesco projeto de reconstrução da Europa Ocidental após a catástrofe produzida pela Segunda Guerra Mundial.

    Num mundo onde se temia que a Europa deixasse de ser uma das referências essenciais do progresso humano para se transformado num cemitério a céu aberto, a história caminhou de outra maneira e hoje é fácil aplaudir o que se fez. Alimentados por colossais investimentos externos, em particular do governo norte-americano, num volume que jamais seria produzido pelo mercado, assiustiu-se a uma transformação que nem todo mundo conseguia enxergar.

    Países destroçados, que antes da Segunda Guerra constituiam o núcleo avançado do Velho Mundo, foram capazers de recuperar suas economias, que retomaram investimentos em larga escala, permitindo a construção de um Estado de Bem-Estar que se tornou exemplo mundial.

    Embora os números completos do desastre no Rio Grande do Sul ainda não sejam conhecidos, os dados disponíveis impressionam desde já. Ao todo, 334 dos 497 municípios gaúchos foram afetados com gravidade variável. Até domingo, 5 de maio, o número contabilizado de mortos atingia 75, enquanto os desaparecidos chegavam a 100. No Estado inteiro, que tem uma população de 11,5 milhões, a tragédia atingiu diretamente 510 000 pessoas.

    Sem alarmismos desnecessários, é prudente lembrar que será preciso aguardar pelo rebaixamento das águas e o retorno de todas as famílias a suas residências para se ter uma visão adequada do que ocorreu. Já é possível, desde já, debater a necessidade de um esforço nacional para resgatar o Rio Grande do Sul.

    A reconstrução de uma Europa esmagada pela mais devastadora guerra registrada pela história moderna só foi possível em função de uma decisão política inédita até ali. Embora a reconstrução tenha sido alimentada por um pensamento que hoje chamamos "desenvolvimentismo," em cuja origem se encontram as idéias de John Maynnard Keynes, o principal arquiteto do plano não era economista nem tecnocrata.

    Era um general, George Catlett Marshall, com autoridade firmada como comandante do Exército norte-americano nos campos de batalha contra o Eixo. Esta credencial lhe permitiu assumir um caminho -- antes de tudo político -- que iria redesenhar a Europa e boa parte das relações diplomáticas do período, com base em financiamentos gigantescos, que custaram 1,350 trilhão de dólares ao longo de décadas de investimentos.

    Com números muito diferentes, mas envolvendo um quadro de destruição semelhante, a responsabilidade pela reconstrução do Rio Grande do Sul não pode ser atribuida exclusivamente às autoridades locais, a começar pelo governador Eduardo Leite.

    Mas cabe a Luiz Inácio Lula da Silva, como presidente da República, assumir o lugar central nas decisões necessárias para o país enfrentar uma tragédia que envolve necessidades e carências do país inteiro e não apenas do Rio Grande do Sul. Com a sensibilidade única que possui, e uma liderança que o Brasil e o mundo aprenderam a respeitar, Lula tem um papel único a desempenhar num momento de tantos desafios.

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