A saúde de Lula e as enfermidades da esquerda brasileira
A saúde de Lula e o futuro da esquerda: desafios políticos, econômicos e ideológicos em um Brasil polarizado, marcado pela ascensão da extrema direita.
“Nunca se entregueNasça sempre com as manhãs Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar Fé na vida, fé no homem, fé no que virá Nós podemos tudo, nós podemos mais Vamos lá fazer o que será” (Gonzaguinha)
Após a notícia de que o presidente da República foi submetido a uma cirurgia de urgência para retirar um hematoma na região do crânio, ficou perceptível uma tensão entre o público de esquerda com preocupações sobre a saúde de Lula. Enquanto nas redes sociais e até na porta do hospital, “cães fascistas” rogavam praga desejando a morte do presidente, entre os eleitores petistas, a militância e dirigentes partidários da esquerda em geral, inevitavelmente uma reflexão pesou o clima, o futuro da disputa política no Brasil virou pauta. Uma pergunta virou manchete nos debates midiáticos: “estamos preparados para enfrentar a extrema direita e as forças neoliberais radicais sem Lula?” Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, em entrevista recente à AFP, respondeu essa pergunta: “ Lula está perto dos 80 anos de idade… e ele não tem substituto, essa é a desgraça do Brasil”. Certo ou errado, trata-se de uma questão que não podemos fingir que não é importante para o futuro da luta política que se desenvolve no país.
A eleição de 2022, revelou que não só a esquerda dependia de Lula para vencer Bolsonaro, mas também todas as instituições e forças políticas que queriam defender o mínimo de liberdade democrática contra as aproximações sucessivas dos golpistas. Mesmo perdendo, Bolsonaro ainda liderou, planejou e tentou um golpe de Estado com requintes de crueldade, no qual o assassinato de Lula envenenado estava na lista de tarefas do plano que agora está sendo exposto pela investigação da Polícia Federal e talvez fiquemos sabendo de mais detalhes com as possíveis delações de generais que já se encontram presos. Aliás, a prisão de Braga Neto, um general quatro estrelas, no mesmo dia do aniversário de Dilma Rousseff, ex-presidenta do Brasil, vítima da ditadura, é um fato da história brasileira incrivelmente inédito. Mas vamos nos lembrar de que se tratam de prisões provisórias, de que há uma luta política em curso e de que não é correto terceirizar o combate aos golpistas para o STF. As palavras de ordem “Sem Anistia” precisam estar na pauta prioritária da esquerda em geral, associadas às lutas que mobilizam.
A existência de Lula e o símbolo que ele representa na consciência de milhões de brasileiros de distintas gerações é fruto do triunfo das grandes mobilizações de rua, das greves do apogeu sindical brasileiro e da reorganização da esquerda e das forças democráticas que conseguiram virar a página dos “anos de chumbo” de uma ditadura violenta e covarde, que destroçou todos aqueles que corajosamente ousaram errar na tática política para enfrentar com armas os governos militares. Muitos pagaram caro, outros pagaram até mesmo com a própria vida. Só quem não entende nada de política, não reconhece esse fato, ou ainda, somente gente muito sectária com dificuldade de ouvir os ecos da história despreza o significado da importância de Lula para a esquerda brasileira e mundial. A coragem da luta coletiva de milhares de operários nas greves do ABC paulista que lotavam estádios de futebol em assembleias de campanhas salariais desafiando o general Figueiredo reverbera no tempo e está encarnada na figura simbólica de Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda que o mesmo não seja mais um operário sindicalista e líder de greves…
Provavelmente o fato do ascenso de lutas no final do século XX, que derrotou a ditadura militar no Brasil, ter sido o último capaz de mudar completamente a correlação de forças no país, movendo placas tectônicas na disputa política e abrindo um novo ciclo histórico, explica ainda não termos visto o surgimento de novas lideranças de massas com o alcance e a capacidade de mover multidões equivalente às façanhas feitas pelo filho de dona Lindu. Da mesma forma que as massas populares que lutam por um pedaço de justiça social dependem politicamente de Lula, podemos dizer o mesmo da sua maior obra, a construção do Partido dos Trabalhadores. Que foi o encontro de brilhantes dirigentes que vinham de derrotas nos anos sessenta e setenta, com uma nova geração destemida que surgia nos anos 80… Esse reconhecimento histórico é uma necessidade de toda esquerda que quiser sobreviver no próximo período, como também é uma obrigação para Lula e para o PT, ter consciência da responsabilidade que precisam ter com o povo trabalhador e com a luta de classes brasileira, tamanha é a esperança depositada.
Menosprezar o inimigo, a grande enfermidade da esquerda brasileira… - As primeiras décadas do século XXI são completamente diferentes do que ocorreu no início do século XX na geopolítica mundial, retrocedemos historicamente, as consequências são graves e estão em desenvolvimento. Os estados operários do leste europeu não existem mais, e já por muitas décadas não existem revoluções socialistas triunfantes capazes de expropriar a burguesia de algum país. Não há partidos de estratégia revolucionária com influência de massas em nenhum lugar do mundo, não há multidões em luta abraçadas com um programa de ruptura com o capitalismo em nenhum continente. Organizações de extrema direita com programa reacionário e conservador estão em ascensão em todo mundo num franco combate contra direitos civis e democráticos de uma sociedade diversa, guerras regionais escalam a cada dia colocando o advento de uma possível terceira guerra mundial no horizonte. A temperatura da terra ameaça a vida no planeta como resultado do padrão de consumo imposto pelo sistema capitalista, crises climáticas, pandemias, adoecimento mental e desigualdade social são chagas contemporâneas. A classe trabalhadora está mais fragmentada, desorganizada, em crise de subjetividade e seus sindicatos desmoralizados, com a maioria das lutas em curso num vetor defensivo. Estamos tentando mitigar a expropriação material e democrática a que estamos todos submetidos, em desvantagem na luta ideológica e tentando reconhecer o terreno de uma guerra cultural em meio a redes sociais que não controlamos e nem sabemos ao certo sobre o funcionamento enigmático de seus algoritmos. As vitórias são cada vez mais pontuais, isoladas e de permanência ameaçada pela força do capital, um inimigo poderoso em ofensiva, que exige de nós uma atualização programática constante, em especial pela aceleração dos acontecimentos de uma correlação de forças que se desequilibrou e está colocando não só a situação material da maioria dos povos em ampla desigualdade, mas também ameaça a existência da vida das mais variadas espécies de seres vivos na biosfera.
O Brasil reflete totalmente essa realidade mundial, mas infelizmente distintas frações das forças de esquerda parecem não perceber ainda a nova etapa histórica em que estamos, e acabam na prática menosprezando a força e o instinto predador do inimigo. Em geral, a esquerda brasileira se divide em duas frações que atuam menosprezando a influência das ideias da extrema direita na consciência popular, uma no campo da esquerda moderada e outra no campo da esquerda radical… Vamos começar com uma breve análise sobre um setor da esquerda brasileira que por obrigação de ofício e pela sua envergadura política precisam ter mais responsabilidade. Há uma parte da esquerda brasileira que acredita ser possível se acomodar por dentro da lógica neoliberal num momento onde o capitalismo apresenta uma crise capaz de levar o planeta para um ponto de não retorno, abrindo mão do confronto, da luta ideológica e com pouca disposição para se dedicar a organização de base permanente. Apresentando um programa que capitula exageradamente aos cálculos eleitorais, com dificuldades de reconhecer erros que causam prejuízos de grande magnitude na disputa de consciências, arriscando conviver com o inimigo na base de uma confiança excessiva, e muitas vezes virando as costas para aliados leais e comprometidos com o sucesso da luta de classes. Apostam todas as fichas na luta institucional, encaram toda critica, até as construtivas, como ataques desleais, são negacionistas de esquerda por defender o governo em atitude bajuladora e incondicional. Ao não reconhecer essa enfermidade, colocam em risco o futuro do próprio governo, o resultado das eleições municipais de outubro deveria servir de alerta, muito mais que o resultado da pesquisa Quaest desse mês de dezembro.
O bom desempenho do PIB que expressa uma economia aquecida, o desemprego em queda e a diminuição das taxas de pobreza e extrema pobreza são números importantes que precisamos celebrar, há um balanço positivo das iniciativas do governo Lula nesses temas e expressa uma imensa diferença se compararmos com os governos anteriores. Definitivamente não é correto caracterizar o governo Lula como neoliberal colocando um sinal de igual com Bolsonaro e Temer, principalmente após a pesquisa Quaest mostrar que 90% do mercado financeiro desaprova Lula e prefere Bolsonaro. Mas precisamos reconhecer que os aspectos positivos do governo Lula III, são vulneráveis ao tempo e as adversidades de agentes externos, se não houver um salto em temas estruturais urgentemente, não haverá consistência no desenvolvimento progressivo de questões sociais e a rebordosa pode ser fatal. Entre os temas estruturais mais importantes que deveria estar na pauta prioritária do governo, destacamos o desenvolvimento da indústria high-tech aliada a produção de ciência e tecnologia em nichos que o Brasil pode brigar pelo protagonismo internacional, utilizando o potencial ainda pouco aproveitado do sistema federal de ensino brasileiro, um dos maiores do mundo, como também o que nos sobrou de bancos e empresas estatais estratégicas, nas áreas de energia, saneamento, telecomunicações e transporte. Infelizmente estamos assistindo o BNDES sob o comando de Aloizio Mercadante financiar projetos privatizantes que vão custar caro ao país. Quanto mais a economia brasileira for dependente de exportação de produtos primários, dando protagonismo econômico e político aos magnatas do agronegócios e da mineração, mais o Brasil será refém de uma fração da burguesia brasileira de pensamento colonial, reacionário e conservador.
Outro elemento estratégico que precisa ser enfrentado é a atual política econômica que está perseguindo metas que inevitavelmente são contraditórias aos interesses da classe trabalhadora brasileira, a atual conjuntura internacional não permite que o Brasil tenha como obrigação destruir oportunidades econômicas para alcançar uma inflação de 3% ao ano e um déficit zero nas contas públicas, principalmente sem a burguesia brasileira ter qualquer disposição em contribuir com a sua parte para o alcance dessas metas. Assim, o ajuste fiscal proposto pelo ministro Fernando Haddad, tem aspectos neoliberais, pois capitula as pressões do sistema financeiro, que por sua vez, tem capacidade de chantagear e desestabilizar a economia do país. Embora a autonomia do Banco Central tenha sido uma derrota imposta pelo mercado e seus aliados, agora o governo teve a chance de indicar nomes para dirigir o BC com uma concepção totalmente distinta do bolsonarista Campos Neto, mas não parece que Galípolo tenha um perfil muito diferente, tanto é assim que no recente aumento da taxa selic, não houve diferenças na última reunião do copom, o que é muito grave. A alta escandalosa da taxa de juros com possibilidade de chegar a 14,5% em março de 2025, é um golpe pesado nos investimentos e nas contas públicas do país, que pode fazer o ano que vem perder todos os avanços que tivemos em 2024, com consequências políticas vantajosas para a extrema direita dar um salto e construir um movimento político contra o governo.
Transformar a agricultura familiar, a reforma agrária e a agroecologia num combo de políticas públicas para combater a destruição da natureza aliado a produção de alimentos voltada para o mercado interno. Não está correto o governo quebrar recordes todo ano em investimento estatal em planos safras para um setor da economia que gera pouco emprego, drena exageradamente recursos naturais e financia golpes antidemocráticos no Brasil. Ao mesmo tempo em que vem negligenciando investimentos na agricultura familiar que possa proteger a renda das famílias mais pobres da alta inflação dos gêneros alimentícios. É preciso mais investimentos para construção de infraestrutura e crédito para pequenos agricultores, construir uma rede de armazéns e restaurantes populares para garantir a segurança alimentar com qualidade, gerando um fluxo progressivo para o desenvolvimento econômico da agricultura familiar.
E por último, a regulamentação das redes sociais também é uma tarefa imediata para a esquerda brasileira, tem sido um campo de atuação privilegiado da extrema direita principalmente por conta do poder econômico forjado pela associação entre as Bigtechs e o Big Money. O governo brasileiro precisa atuar para mitigar o fluxo exagerado de informações falsas e que tem potencial para disseminar ideias que podem desestabilizar a atual estrutura democrática do país, assim como destruir reputações políticas em questão de segundos ou fazer notícias nocivas colocar vidas em risco. As grandes Bigtechs atuam no Brasil sem controle algum, conseguem lucrar bilhões de dólares, e não são responsabilizadas por absolutamente nada do que é publicado em suas plataformas. Trata-se de um perigo imenso para a democracia e representa uma interferência política que desrespeita nossa soberania, com uma possibilidade de influenciar disputas eleitorais jamais vistas na história. Não é possível disputar em pé de igualdade com as forças da burguesia nas redes sociais, pois o algoritmo entrega para mais pessoas a propaganda de quem paga mais. Ao mesmo tempo que interrompe o fluxo de determinada propaganda que não interessa em determinado momento de uma disputa política específica, e não há como reclamar nada para ninguém, para reaver algum prejuízo de alguma campanha paga nas redes sociais que não foi efetivada.
Caso nesses anos de governo Lula não aproveitarmos as oportunidades para avançar em temas estruturais, fazendo do Brasil uma nação mais independente, soberana e de desenvolvimento anticolonial, dificilmente vamos dar um salto necessário que permita virar a atual página de nossa história. A ascensão da extrema direita em todos os terrenos de nossa sociedade não será interrompida, ao contrário, pelo poder que acumulam na sociedade brasileira hoje, podem inclusive nos impor uma derrota histórica, com Bolsonaro preso ou não. Essa tarefa não é possível ser realizada sem confronto, disputa política e ideológica, assim como é também uma obrigação de todas as forças de esquerda, evidentemente tem mais responsabilidades aqueles que estão melhor localizados nas atuais estruturas de poder e decisão do país. Hoje não existe vontade política da maioria da direção do maior partido da esquerda brasileira em construir e liderar uma frente única de mobilização permanente no país. Nem mesmo quando se abre uma brecha histórica para colocar na cadeia generais golpistas e o principal líder da extrema direita no Brasil, há poucas iniciativas por parte das direções petistas em fortalecer um processo de lutas que coloque a palavra de ordem “sem anistia” na boca das massas proletárias de todo país. Isso significa que parte importante da esquerda brasileira e suas principais direções precisam se relocalizar na disputa política, e romper com a lógica de se adaptar e se acomodar ao neoliberalismo contemporâneo, uma luta política interna no PT está se iniciando com o Processo de Eleições Diretas - PED 2025, está aí uma grande oportunidade para mudar os rumos de sua direção.
O esquerdismo ‘autoproclamatório’ também é parte das enfermidades da esquerda brasileira… - Não é só a esquerda que confia na relação tóxica com as forças neoliberais que precisa se curar de sua enfermidade, mas há também forças políticas importantes que atuam no movimento social brasileiro, que apesar de algumas serem irrelevantes eleitoralmente, conseguem fazer um estrago no debate publico e na necessidade da construção de uma frente única para lutar. O esquerdismo ‘autoproclamatório’ também é uma enfermidade que acaba menosprezando as forças da extrema direita. Não necessariamente essas frações esquerdistas e sectárias têm o mesmo projeto e programa político, mas a atitude e o comportamento na disputa política é muito parecida, é o caso de Ciro Gomes (PDT) e Jones Manoel (PCBR), entre outros... Embora com projetos políticos distintos, agitam cotidianamente que o governo Lula e o PT são neoliberais, inimigos de seus projetos políticos e devem ser combatidos, assim como combatemos o bolsonarismo. O primeiro é oposição ao governo Lula porque tem o projeto de ser presidente do país a qualquer custo, por se achar o único sujeito capaz de governar o Brasil através de uma agenda desenvolvimentista. O segundo é oposição, porque acredita que já estão dadas as condições para uma revolução socialista no Brasil, então é preciso tratar o atual governo como inimigo para se autoproclamar uma alternativa de poder. Duas utopias reacionárias, pois na medida que a principal alternativa concreta de poder diante da derrota do atual governo é a extrema direita, o esquerdismo inconsequente presta um favor aos reacionários ao ajudar a derrotar Lula.
A única tática desses setores, ao menos a que predomina em suas publicações, é a denúncia sistemática do atual governo como prioridade de suas elaborações e agitação política. Propondo tarefas que as massas não estão dispostas a abraçar, e desprezo total em reconhecer que estamos numa situação defensiva, com refluxo significativo das lutas sociais e superdimensionando determinados fatos isolados da luta de classes para tentar sustentar seu discurso. Jones Manoel chegou a publicar um vídeo recentemente em seu canal no YouTube com o título “Sintomas de Revolução”, para Jones, o fato de um CEO de uma seguradora de saúde dos EUA ter sido assassinado a tiros, e isso ter gerado apoio popular por parte da população irritada com a ganância dos planos de saúde nos EUA, é um sintoma da revolução norte-americana que está por vir. Detalhe, que em suas argumentações, ele chega a insinuar que a própria votação em Trump que acaba de vencer a eleição presidencial, pode ser um sinal de uma insatisfação popular com o sistema, o que na conta política do PCBR (um racha recente do PCB) é algo progressivo, ou nas próprias palavras dele, um “sintoma de revolução”. Da mesma forma Ciro Gomes, diante de uma acirradíssima disputa eleitoral pela prefeitura de Fortaleza, capitulou ao seu ódio ao PT e acabou apoiando o candidato bolsonarista, gerando uma forte crise interna no PDT, partido que compõe o governo Lula.
Para se ter ideia de como é preciso levar a sério o tema da correlação de forças política atual, após a eleição de 2024, o resultado eleitoral confirma a difícil condição dos partidos de esquerda para existir institucionalmente, até mesmo a federação Psol/Rede não alcançou uma votação que permite atingir a cláusula de barreira, caso isso se repetir em 2026, poderá ser um importante retrocesso político para esquerda brasileira. Para o ultraesquerdismo no Brasil nada disso tem importância, a análise da correlação de forças é tratada como um “mito” e a participação nas eleições é um detalhe. Na verdade esse tipo de comportamento sectário nunca teve sucesso no Brasil e tem mais potencial para dividir as próprias organizações esquerdistas, ajudando a fragmentar, pulverizar e marginalizar ainda mais forças de esquerda. Não há tarefa maior para nossa geração, que não seja derrotar historicamente a extrema direita brasileira, em especial o bolsonarismo e isso não será possível sem a construção de uma frente única com a CUT, MST, o PT e o próprio Lula.
Ao propor como tarefa prioritária neste momento construir uma alternativa política ao petismo, tentando destruí-los, estamos ajudando muito mais a extrema direita a avançar. Criticar Lula e o PT sim, tratá-los como inimigos não! A localização dessas forças ultraesquerdistas na oposição ao governo Lula, tem como estratégia final derrotá-lo, o que é nesse momento imediato da luta política no Brasil um erro que pode nos levar a uma derrota histórica e ideológica que consumiria várias gerações. Menosprezar as forças da extrema direita, superestimar as forças da esquerda socialista e tratar possíveis aliados táticos como inimigos permanentemente é um erro grosseiro, fruto de uma enfermidade da esquerda brasileira, que se não tiver cura, poderá trazer retrocessos irreparáveis no próximo período.
O que fazer em 2025? - Vamos ser humildes, reconhecer que temos muito o que fazer para acumular forças, que o dia tem somente 24 horas e que temos apenas duas pernas e dois braços e não vamos abraçar o mundo do dia para a noite. Vamos admitir que o inimigo avançou na última década, que ganhou influência sobre a consciência da massa do povo trabalhador e que divididos teremos poucas chances de fazer avançar organizações de base para fortalecer a luta política e ideológica. Não vamos menosprezar a capacidade de reação da extrema direita, das forças neoliberais e de seus agentes que vão atuar em 2025 não só para evitar a prisão dos golpistas, mas também vão operar pelo desgaste do governo Lula. Que por sua vez vai presidir os BRICS, no primeiro ano do novo governo Trump, que jurou guerra a quem ameaçar o dólar e a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao Swift. A especulação em torno do dólar e a política de juros que atinge negativamente a economia do país, a chantagem do congresso nacional para conseguir mais emendas e espaço no governo, a denúncia permanente de parte da grande mídia e das redes sociais contra as forças de esquerda são instrumentos que a burguesia sabe muito bem manejar para desestabilizar a luta política e impor sua agenda.
Ter noção das proporções históricas é o primeiro passo para começar o próximo ano conscientes das tarefas que temos pela frente, e entre as mais importantes, está a capacidade de construir um movimento unitário que levante a bandeira da consigna “sem anistia” em todos os cantos do país, nas ruas e nas redes sociais. A prisão definitiva de generais de quatro estrelas e de Bolsonaro está na ordem do dia e precisa ser encarada como parte da luta política e ideológica contra aqueles que querem destruir a constituição de 88 e os pequenos avanços democráticos que conquistamos após o fim da ditadura militar. A prisão dos golpistas não é a garantia de uma derrota definitiva da extrema direita brasileira, mas é um salto de qualidade na disputa política contra essas forças reacionárias e conservadoras.
A luta em frente única pela prisão dos golpistas associada a outras bandeiras da agenda de interesse da classe trabalhadora e da vida dos mais pobres é a chave na atual etapa histórica. Assim, vamos poder potencializar lutas econômicas, sociais, ambientais e por direitos civis e democráticos. Despertar a consciência de massas sobre a urgência das crises climáticas e a defesa da biodiversidade no ano que o Brasil vai sediar a COP 30, o combate aos pontos de retrocesso do ajuste fiscal e o apoio a isenção do IR para quem ganha até 5 salários mínimos, assim como a reivindicação do fim da escala 6x1 exigindo vida além do trabalho são exemplos de lutas que podem fazer parte de uma agenda mínima para mobilizar o povo brasileiro.
Luiz Inácio Lula da Silva saiu do hospital e parece estar em boa recuperação de sua saúde, esperamos todos que viva por muito tempo fazendo parte ativa da luta do povo por dias melhores, pois é um filho do ascenso da luta da classe trabalhadora brasileira. Lula não é um comunista, mas provavelmente não teria comunistas no Brasil sem Lula.
Novos levantes de massas virão, fé na vida, fé no que virá, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será…
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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