Agora está provado: Moro é anti-Lula
"No dia em que o STF tiver interesse em retornar ao julgamento da suspeição de Moro contra Lula, os documentos de VEJA serão grande utilidade"escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; "Seletivo, o ex-juiz manteve os casos de Lula sob sua toga mas fez oposição permanente uma delação de Eduardo Cunha, grande arquivo vivos da corrupção brasileira"
Por Paulo Moreira Leite, membro do Jornalistas pela Democracia
Exibido nas páginas da VEJA, um novo calhamaço de diálogos eletronicos obtidos pelo Intercept-Brasil oferece um retrato ao vivo e a cores da atividade de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol nos bastidores da Lava jato. Pela força dos documentos, pela clareza dos diálogos e pelos objetivos ali definidos, é preciso reconhecer que ali se encontra uma sequencia de métodos e práticas que transformam operações judiciais em instrumentos de ataque a democracia, primeiro passo para um regime de exceção
As cenas e trocas de mensagem não mostram um ambiente jurídico, que se define como local diversificado, no qual homens e mulheres de várias origens e opiniões plurais se dedicam a colher provas, julgar fatos e ouvir testemunhas e tomar decisões. O quadro é de um ambiente sem contrraponto, de convicções formadas, típicas de um partido político, com programa e projeto de poder, que distribui tarefas e discute prioridades para atingir objetivos. O Partido Anti-Lula.
A frase "Aha uhu o Fachin é nosso", pronunciada por Dellagnol após uma conversa de 45 minutos no gabinete de Edson Facchin, ministro responsável pela Lava Jato no STF logo apos a tragica morte de Teori Zavaski, é um claro sinal dos tempos de liberou geral num sistema que tem regras específicas que todos deveriam cumprir.
Numa observação que diz respeito direto a investigação e condenação de Lula a revista informa que "uma das obsessões de Moro envolvia manter os casos da Lava Jato em seu poder em Curitiba, a exemplo dos procesos de Lula no triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Nesse esforço, o magistrado mentiu a um ministro do STF, ou, na hipótese mais benigna, ocultou dele uma prova importante, conforme mostra um dos diálogos".
O episódio em causa mostra que o olhar de Moro avistava longe para alcançar objetivos políticos e chegava a controlar o tempo de despachos de acordo com sua conveniencia.
Temeroso de que uma investigação em torno da usina nuclear de Angra dos Reis fosse levada para o STF, já que incluia vários políticos entre os suspeitos de receber propina, orientou os subordinados a atrasar a tramitação do caso pelo sistema judiciário. Quando um procurador procurou a delegada Erika Marena, então responsável pelo trabalho, para perguntar o que estava acontecendo, ela respondeu que, por orientação de "Russo", apelido interno de Moro, não tinha tido pressa em protocolar o documento e acabara esquecendo.
Plenipotenciário, Moro cobra a inclusão de um acusação contra um lobista que Dellagnol mencionara numa conversa anterior, mas havia ficado fora da denuncia. Num episódio que chama atenção pelo currículo do personagem envolvido, questiona Dellagnol quando ouve o rumor de que Eduardo Cunha estaria disposto a fazer uma delação premiada. "Espero que não procedam," escreve ao chefe da força tarefa. "Só rumores. Não procedem," devolve Dallagnol.
"Agradeço se me manter informado," responde Moro. "Sou contra, como sabe", insiste, numa postura especialmente curiosa, para uma operação que fez das delações um instrumento de trabalho multi-uso. Cunha é um operador de longo curso dos bastidores da política brasileira, em atividade desde os tempos de PC Farias e Fernando Collor, com tantas histórias para contar, tantos nomes falar, não é mesmo?
Passados 31 anos desde a promulgação da Constituição-cidadã, a papelada que o condomínio da Lava Jato transformou-se na força dominante do Poder Judiciário e, partir de um esquema subterrâneo e sem controles, passou a tomar decisões fundamentais para os destinos do país. Não há sujeitos reais na troca de mensagens, a quem se deve acima de tudo a presunção da inocência, mas marionetes que se movimentam de acordo com a conveniencia dos donos do jogo.
Num ambiente distante das regras de imparcialidade e insenção que os juiz sãoa obrigados a cumprir, como está previsto no Código de Processo Penal, é fácil de entender como e por que a Lava Jato reforçou as fraquezas do Legislativo, desafiou e se impôs sobre o STF e ajudou a impedir Lula de disputar a presidência em 2018.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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