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    Carlos Carvalho

    Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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    Aqueles que mataram Pedro

    Pedro foi morto pela mesma burguesia que queima as florestas, polui os rios, assassina indígenas, aplica golpes em velhinhos, atropela e mata com seus carros

    (Foto: Reprodução)

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    Deveria haver uma lei universal que proibisse pais e mães de terem que passar pela dor de perder um filho, pois não há nada no mundo capaz de mitigar tanta tristeza. E é nesse poço sem fundo de desespero e angústia que mergulharam a mãe do Pedro, rasgando-a por dentro, eviscerando-a viva e destruindo sua existência.

    Pedro era um garoto negro, periférico e gay, que estudava em uma das escolas mais caras da capital paulista, cuja mensalidade custa por volta de 4,5 mil reais, mas da qual nunca realmente fez parte, pois, bolsista, sentia diariamente como a vida funcionava: discriminação por causa da sua orientação sexual, da sua classe e sua cor. Os demais alunos da escola o transformaram em alvo a ser achincalhado, humilhado e ofendido, tendo Pedro que ouvir todo dia, várias vezes por dia, que ali não era o seu lugar. Pedro não aguentou. Pouquíssimos aguentariam. No trabalho, a mãe de Pedro, que é auxiliar de limpeza em uma escola municipal da Zona Oeste, foi avisada pela escola, por telefone (Parabéns! É assim que se comunica a uma mãe da morte de seu filho), que seu filho teria desistido de viver. Este fato veio à tona, com a matéria “Tragédia antes da aula”, escrita por João Batista Jr, e publicada pela revista Piauí no dia 21/08/24, disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/suicidio-aluno-colegio-bandeirantes/. Pedro, que ouvia Gal Costa e Rita Lee, agora só existe na memória das pessoas que o amavam incondicionalmente. Pedro está morto.Enquanto escrevo, escuto “Mônica”, de Angela Ro Ro, e me pergunto: quem mata menino se dá mal? A pergunta é retórica, pois nada, absolutamente nada acontecerá com aqueles que empurraram Pedro para a morte, negando-lhe tudo o que ele poderia ser, mas não vai. Pedro foi morto pela burguesia brasileira, que acha feio e odeia tudo que não é espelho. Pedro foi morto pela estupidez humana, pela intolerância e pela omissão de todos aqueles que tinham a obrigação de cuidar e protegê-lo. Mas nada disso foi feito. Ah, Pedro era pobre, preto e gay! Pedro também era bolsista, bolsa que conquistou por méritos próprios ao vencer uma difícil seleção. Mas cotistas, teria dito um assessor da tal escola, são agressivos, e escola não é clínica psicológica (leia aqui e tente não vomitar: https://www.brasil247.com/regionais/sudeste/bandeirantes-apos-suicidio-de-adolescente-assessor-afirma-que-bolsistas-sao-agressivos-e-que-escola-nao-e-clinica-psicologica).

    Pedro foi morto pela mesma burguesia que queima as florestas, polui os rios, assassina indígenas, aplica golpes em velhinhos, atropela e mata com seus carros de luxo, e dorme o sono dos tranquilos, pois sabe muito bem que os bracinhos curtos da justiça jamais os alcançarão. Foi o ódio dessa gente que matou Pedro, um ódio que tem passado de geração em geração adoecendo uma nação inteira. Como pensar em um futuro para este país, quando garotas e garotos em idade escolar normalizam o racismo, a crueldade e a covardia? Que tipo de gente nossas escolas estão formando? Pedro foi morto. Pedro foi morto. Pedro foi morto. Pedro foi morto. Nenhuma mãe deveria passar por isso. E qualquer silêncio vindo de todos nós nada mais é que conivência.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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