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Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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As Olimpíadas de Ciro Gomes no time do bolsonarismo

"A extrema direita continua atraindo os que ficaram sem rumo e sem turma", escreve o colunista Moisés Mendes

Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes 29/09/2022 (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

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Ciro Gomes buscou a medalha de ouro em quatro tentativas de chegar à presidência da República, nos mais variados times e com as mais diversas camisetas. Virou um perdedor e tenta agora a repescagem, sem grandes ambições, para o que der e vier, bem acomodado no barco da extrema direita.

Ciro reforça o fenômeno dos que buscam a proteção dos bolsonaristas que antes repeliam. Não é a ilusão do retorno a algo semelhante à velha direita. É pior do que um retorno, mas é o normal hoje.

Ciro sabe que, antes do esgotamento da ditadura, muitos nomes de peso da direita correram para o centro. E o centro ajudava, ao lado das esquerdas consentidas ou clandestinas, a desafiar os ditadores.

Outros correram depois de 1985 para esse centro amplo e acolhedor. Não só por estratégia política e eleitoral, mas também porque se sentiam mais confortáveis com o que de fato eram ou pensavam ser politicamente.

Mas o que prevalecia mesmo era a certeza de que a ditadura havia se esgotado como garantidora de mercado para todos. O espaço a ser ocupado era o ambiente dos que defendiam a redemocratização. 

Esse era o mercado. Hoje, o caminho é inverso para gente com perfis semelhantes aos dos velhos arenistas. Ciro Gomes corre em direção à extrema direita, sem saber ao certo de onde sai, porque esse é o nicho a ser disputado.

É uma questão mercadológica. Perde tempo quem tenta ver, no movimento de Ciro ao jogar-se nos braços da extrema direita nordestina, um retorno dele às origens direitistas.

Nada disso. O bolsonarismo, o centrão, as bancadas de balas, bois, garimpeiros, grileiros, biblieiros, nada disso tem relação com o que já foi a direita. Ciro tenta pegar a sua parte no latifúndio do espólio de Bolsonaro. 

Não tem ideologia, não tem convicção nesse movimento. Tem senso de oportunismo em busca de redutos que ainda podem ser ocupados nos extremos do ódio, da discriminação, da mentira, da difamação. 

É um gesto generalizado, em todas as áreas. Também fazem esse movimento na direção das bases e da audiência bolsonarista os jornalões que, nos anos 70 e 80, alinharam-se ao lado dos que lutavam pelo fim da ditadura.

A luta pela redemocratização era um mercado para os jornais. Era a audiência a ser conquistada. A audiência impositiva hoje, de quem ouve e lê discursos de políticos e consome todo tipo de conteúdo, das notícias dos meios tradicionais e das corporações aos memes dos humoristas amadores da extrema direita, é a do bolsonarismo.

Assim conquistam eleitores, leitores, telespectadores, ouvintes, seguidores em redes ou onde estiverem os que sustentam o extremismo e o antilulismo.

É o que está comprovado por monitoramento do consumidor das antigas mídias analógicas que se adaptam aos novos tempos, e do que é produzido, disseminado e consumido nas redes das big techs. O fascismo dá dinheiro porque tem audiência.

Se tem audiência, tem eleitores, tem mercado. Ciro Gomes acomoda-se nesse nicho, que é o que sobra para todos os que um dia se divertiram como centro e, no caso do próprio Ciro, até como esquerda fake.

Ciro não vai reencontrar sua turma lá da juventude, como alguns dizem, porque ela não existe mais. O mercado que ele pretende ocupar, mesmo que seja regional, é o mesmo que antigos direitistas, como Caiado, e novos direitistas, como Zema, esperam disputar nacionalmente com Tarcísio de Freitas, Ratinho Júnior e Michelle.

A extrema direita acolhe Ciro porque é o ônibus da direita. O resto não existe mais. É mais do que não ter relevância, é não existir mesmo. Ciro encerra a carreira como ajudante do bolsonarismo.

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