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    Francis Bogossian

    Presidente do IBEP - Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, tendo sido Presidente do Clube de Engenharia, da ANE - Academia Nacional de Engenharia, da AEERJ - Associação de Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro, da ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica e do CREA-RJ

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    Atenção Brasil, o país precisa refletir sobre sua histórica responsabilidade com a engenharia nacional

    "A derivação desse complexo sistema gera trabalho, emprego, renda, evolução econômico-social e a elevação do padrão de vida"

    Luiz Inácio Lula da Silva em estaleiro no Rio de Janeiro (Foto: Ricardo Stuckert)

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    Engº Francis Bogossian - Presidente do IBEP e Ex-Presidente do Clube de Engenharia do  Rio de Janeiro

    Engº Civil Henrique Luduvice - Ex-Presidente do CREA/DF, MÚTUA e CONFEA 

    Na década de 70 do século XX o Brasil apresentava à humanidade  impressionantes taxas de crescimento em sua economia. Aquela  conjuntura fora provocada por robustos investimentos públicos em  infraestrutura, que visavam a ocupação soberana do imenso território  nacional. Os recursos utilizados provinham, majoritariamente, de valores  captados no exterior via empréstimos que se incorporavam ao orçamento  da União ou aos balanços de Empresas com predominância de capital  estatal. 

    No planejamento concebido na época, havia foco no  desenvolvimento de setores considerados estratégicos que contribuíssem  para situar o País em níveis civilizatórios avançados, viabilizassem a  participação de setores empresariais brasileiros, bem como o  espraiamento da população nas diferentes regiões geográficas. A  idealização, contratação de projetos, bem como a implementação do  modelo requereu conhecimentos específicos das diversas modalidades de  Engenharia.

    A iniciativa privada se incorporou de imediato às diretrizes  governamentais e se expandiu em ritmo acelerado, muitas vezes se  associando ou absorvendo informações, normas e padrões de suas  similares internacionais que já atuavam em solo pátrio, assim como  enviando colaboradores ao estrangeiro para qualificação em  especialidades ou temas ainda incipientes no contexto local. 

    Inúmeras empresas de Construção Civil (Edificações, Energia,  Pavimentação, Saneamento, Telecomunicações, Transportes), Indústrias  (Metalúrgica, Metal Mecânica e Petroquímica), Agricultura Intensiva,  Escritórios de Cálculo, Projetos e Consultoria, dentre tantas outras  vocações empreendedoras, se formaram nas infindáveis áreas da  tecnologia em uma velocidade superior à capacidade de formação de  Engenheiros daquele tempo, pelas principais Universidades do País. 

    A procura do mercado por esses profissionais assumiu proporções  inimagináveis, decorrente da enorme carência de quadros com os perfis  almejados. Neste segmento da história, estudantes de renomadas  Faculdades recebiam propostas de trabalho de empresas contratantes,  ainda nas etapas finais de sua Graduação. As instituições comerciais  adentravam no âmago dos Cursos, com o objetivo de assegurar vínculos  antecipados do escasso material humano a ser disponibilizado. A Nação assistia os Cérebros e Talentos do segundo grau estudarem  buscando, prioritariamente, os vestibulares de Engenharia. Afinal, estes  desejavam fazer carreiras em Profissões com indicações de mais  valorizadas e que propiciavam honorários atraentes. Neste diapasão,  sucediam-se honrosas rivalidades com a Medicina e o Direito.

    Os professores do segundo grau alertavam a todos que pretendiam  disputar vagas nos principais vestibulares das Engenharias. Impunha-se como obrigatório, além de estudar com afinco, manterem-se atentos à  extrema concorrência para essas alternativas. Em virtude da quantidade  de interessados, anexada a excelência intelectual dos concorrentes.

    Apenas a título de exemplo, ressalta-se, neste texto, o vestibular da  UnB (Universidade de Brasília) organizado em julho/1975, último em que  aquela renomada instituição divulgou a relação dos vinte (20) primeiros  classificados dentre todos os participantes. Esta prática acontecia antes do  início das menções a cada Curso e as consequentes identificações dos  respectivos candidatos que haviam se credenciado a ocupar as vagas  ofertadas, na tradicional ordem alfabética. 

    Naquela primeira nominata anunciada nos alto-falantes instalados  na Entrada Sul do Edifício Principal, restou consignado: doze (12) entre os  vinte mais bem colocados em todo o vestibular inscreveram-se para  Engenharia Elétrica. Um (1) optou por Engenharia Civil e outro pela  Engenharia Mecânica. Portanto, quatorze (14) para Cursos de Engenharia.  Com toda a reverência e respeito devidos, nenhum para Direito. Apenas  um para Medicina.

    Neste Século XXI, mais especificamente nos anos 2008, 2009 e  2010, o Brasil voltou a experimentar expressivas taxas percentuais de  crescimento do seu PIB (Produto Interno Bruto) equivalentes a 5,7, 6,4 e  7,5. Este período representou a resultante de estágios anteriores, nos  quais a Nação retornara a investir nas áreas e arcabouços acima  mencionados, adotando, contudo, propostas inclusivas e inovadoras. 

    Dentre muitos, que não serão citados devido à escassez de espaço  no texto, foram executados projetos e obras que mais que duplicaram a  capacidade de geração e transmissão de energia no País, eliminando riscos  de apagões e oportunizando a implantação do Programa de  Universalização de Energia, o premiado Luz para Todos.

    A chegada da energia elétrica proporcionou a melhoria da qualidade  de vida para milhões de famílias de trabalhadores brasileiros, radicados  em localidades do interior profundo, que, após recepcionarem a  iluminação, puderam adquirir máquinas, computadores e eletrodomésticos, incrementando seus confortos e produtividades. 

    As escolas das comunidades mais humildes puderam funcionar em  horários noturnos, reduzindo de forma drástica o analfabetismo dos  lavradores que labutam nos turnos da manhã e tarde, em que predomina  a luz do sol. 

    A energia elétrica propiciou, ademais, a instalação de refrigeradores  nesses ambientes, muitos deles distantes dos grandes centros, facultando  o armazenamento de vacinas e alguns remédios, com a consequente  otimização dos indicadores de saúde. 

    Em paralelo, foi concebido o Programa Água para Todos que  promoveu a colocação de mais de um milhão de cisternas de grande  capacidade, em companhia de calhas e tubulações adequadas, nos  terrenos e casas situados nos logradouros mais carentes. O objetivo desta  iniciativa é captar e estocar as águas de chuva que incidem sobre os  telhados de residências populares adredemente preparados para este fim,  nas regiões com precária ocorrência pluviométrica. Necessário se faz incluir a transposição do Rio São Francisco,  iniciativa monumental que atendeu a 385 cidades do semiárido nordestino  que sofriam sem o abastecimento regular de água, provocando migrações  de contingentes de pessoas nas secas mais contundentes. Hoje, a  imprensa não mais menciona este tema que se apresentava, antes de mais  uma façanha da Engenharia, como um fenômeno sazonal inevitável.A esta altura, impõe-se resgatar a construção, reforma ou ampliação  de dezenas de Aeroportos e Estádios em várias Unidades da Federação  que, associados aos aprimoramentos nas comunicações e transmissões de  dados, permitiram ao Brasil a realização de uma Copa do Mundo de Futebol  (2014) e das Olimpíadas (2016), com reconhecimentos internacionais.

    A indústria nacional operava a plena carga. 

    Atingimos outra vez o pleno emprego e, a exemplo do passado,  faltaram Engenheiros. A procura não se compatibilizava com a oferta. 

    E, conforme ocorrência anterior, em razão da acentuada demanda  por tais Profissionais, que no exercício de suas atividades induzem a  modernização de gestões e acréscimos de competitividade. Especialistas  que atuam nas transformações das ciências e saberes em produtos,  técnicas e equipamentos, que alavancam processos, fabricações e o  alcance de performances e desempenhos compatíveis com as expectativas  dos empreendimentos contemporâneos.

    A derivação desse complexo sistema gera trabalho, emprego, renda, evolução econômico-social e a elevação do padrão de vida da população. 

    Desnecessário seria discorrer sobre a Alemanha, EUA, França e  numerosos outros Ocidentais e, ainda, Coréia, Japão e China no Oriente.  Nações que, historicamente, trataram suas Engenharias na categoria de  prioridades nacionais. 

    Portanto, a criação e o acompanhamento de indicadores que  evidenciem o número de Engenheiros por Habitantes, compatibilizados  com o estabelecimento de carreiras e remunerações públicas atrativas nas  áreas de Engenharia deveriam ser, além de óbvias, obrigatórias nos 

    Municípios, nos Estados e no Brasil, se pretendemos uma sintonia com as  exigências contidas nos patamares de competição impostos no Planeta.

    O ambiente privado, certamente, replicaria de plano, sob risco de  não obter ou perder competências. Isto ensejaria intercâmbios virtuosos,  atração de protagonistas e sustentação dos ciclos de prosperidade. 

    Porque há um alerta a ser soado. 

    De imediato. 

    Em brados sublimes. 

    Existem informações que apontam para um desinteresse dos jovens  nos cursos de Engenharia. Matérias jornalísticas destacam vagas ociosas  em Universidades por falta de pretendentes. 

    Verifica-se, no presente, que uma significativa parcela da juventude  procura cursar Direito visando posições futuras de Delegados, Promotores,  Procuradores, Juízes, Desembargadores e Ministros de Tribunais  Superiores. Em busca de estabilidade e altos salários. Há, também, os que  se percebem antenados com o mercado dos novos direitos consignados  pós Constituição de 1988. Isto sem mencionar a recente e excessiva  judicialização das relações no País, causada por radicalizações  extremadas. Destaque-se, sempre, a importância de um Judiciário eficiente e  comprometido peremptoriamente com a democracia.

    Porém, de forma isolada, esta circunstância não assegura elevação  do PIB, avanços científicos, infraestruturas, exportações, postos de  trabalho, novos negócios, capacidade competitiva, progressos financeiros, ocupação racional do território, prevenção de desastres ou mesmo o  desenvolvimento de uma sociedade digna e justa em sua plenitude.

    Atenção, sem Engenharia, retorna-se à condição tradicional das  colônias. Em geral, exportadoras de produtos primários e importadoras de  manufaturados com complementos de cotação incorporados. 

    Ou regressa-se ao longínquo tempo em que a Engenharia era  contratada no exterior. 

    Definitivamente, não. 

    Inaceitável sob todos os vieses ou parâmetros. 

    As responsabilidades do País, com os brasileiros desta e das  próximas Gerações, clamam por efetivos reconhecimentos quanto a  relevância de sua área tecnológica. Os destinos da Nação encontram-se  plenamente atrelados aos imprescindíveis compromissos públicos e  governamentais com a Engenharia do Brasil.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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