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    Heraldo Campos

    Graduado em geologia (1976) pelo Instituto de Geociências e Ciências Exatas (UNESP), mestre em Geologia Geral e de Aplicação (1987) e doutor em Ciências (1993) pela USP. Pós-doutor (2000) pela Universidad Politécnica de Cataluña - UPC e pós-doutorado (2010) pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP)

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    Avenida Caraguatatuba-Ubatuba

    Há cerca de quatro décadas, se podia dizer que a Rodovia Rio-Santos era uma estrada de fato. Hoje, chamá-la de Avenida Caraguatatuba-Ubatuba não seria incorreto

    Abrigo de ônibus de linha intermunicipal na Rodovia Rio-Santos, Litoral Norte do Estado de São Paulo, Ubatuba, parada Saco da Ribeira (Foto: Heraldo Campos)

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    Há cerca de pelo menos quatro décadas, se podia dizer que a Rodovia Rio-Santos, localizada no Litoral Norte do Estado de São Paulo e no trecho entre as cidades de Caraguatatuba e Ubatuba, que distam 50 km uma da outra, era uma estrada de fato. Hoje, pelo intenso fluxo diário de veículos (automóveis, ônibus e caminhões), mesmo fora do período da temporada de verão, chamá-la de Avenida Caraguatatuba-Ubatuba não seria totalmente incorreto.

    As margens da rodovia, com adensamento cada vez maior de comércio, com bares, supermercados, hotéis, quiosques, entre outros estabelecimentos, associado ao grande número de lombadas distribuídas no asfalto, para diminuir a velocidade dos veículos, faz com que o tempo de viagem, em ônibus de linha intermunicipal, dure, no mínimo, 1 hora e 45 minutos. É muito tempo gasto nesse deslocamento.

    Por outro lado, durante esse percurso, o passageiro sentado na janelinha do coletivo pode constatar, ao mesmo tempo que usufrui da beleza das praias dessa região e quando a visão destas não está bloqueada pelas edificações, que determinados empreendimentos tomaram conta de certos setores, dificultando o acesso do cidadão para as praias que são públicas.

    Por esse motivo, a recente notícia de que a “PEC das Praias beneficia ao menos 295 políticos, de vereadores a senadores” [1] é estarrecedora.

    “Convenhamos que isso não vem de agora. Muitas praias ao longo do litoral da costa brasileira foram cercadas, fechadas para acesso livre do público, sempre com guaritas muito bem equipadas e privatizadas na prática. Uma pedra cantada há décadas e que agora parte dos ilustres deputados querem botar uma pá de cal nesse sensível tema ambiental, para entregar de vez o que é de todos para certos grupos especuladores. Isso nem é coisa de parlamentar conservador. É atitude de parlamentar predador.” [2]

    Assim, nunca é demais lembrar que a especulação imobiliária, que ocorre há tempos nessa região e a ocupação desordenada dos territórios municipais, principalmente ao longo da orla marítima, produzem graves prejuízos ao meio ambiente.

    “Várias cidades do litoral brasileiro, por exemplo, que avançaram com sua ocupação urbana as faixas de areia das praias (e que não deveriam ser ocupadas), hoje sofrem com os processos erosivos provocados pelas oscilações do nível do mar e vira e mexe os administradores públicos acabam jogando a culpa nas mudanças climáticas. Setores colados nas faixas de areia das praias, muitas vezes ocupados por residências, restaurantes, quiosques e outros equipamentos urbanos, que não deveriam estar assentados nesses lugares, podem ter a sua destruição causada pela ação das águas do mar e, ao mesmo tempo, interferir de forma desfavorável nos serviços ecossistêmicos, prejudicando a regulação biológica de extensas áreas da orla marítima.” [3]

    “Nesse cenário, de manjadas associações, parece que a afronta contra a vida, na sua forma mais plena, é visível com essa PEC aprovada na Câmara Federal e que agora tramita junto aos senadores da república. Espera-se que essa PEC seja brecada no Senado. Por outro lado, e em outra escala, as eleições municipais estão próximas e não é possível imaginar que eleitores que vivem no litoral brasileiro deem corda e mandato para os políticos locais predadores. Quem se dispõe a isso, votantes e votados, salvo melhor juízo, parece que acabam mesmo é flertando, mutuamente, com a maldade.” [2]

    Para encerrar, nesse cenário da Avenida Caraguatatuba-Ubatuba, aqui fica uma pergunta: será que está tudo contaminado e chegamos num ponto sem volta e, infelizmente, temos que concordar com a triste frase do escritor uruguaio, Eduardo Galeano, que disse que “Na luta do bem contra o mal, é sempre o povo que morre.”?

    Fontes

    [1] Notícia “PEC das Praias beneficia ao menos 295 políticos, de vereadores a senadores”.

    https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2024/06/12/vereador-senador-politicos-favorecidos-pec-das-praias.htm

    [2] Crônica “Privatizar praias é pedra cantada”.

    https://jornalggn.com.br/cidadania/privatizar-praias-e-pedra-cantada-por-heraldo-campos/

    [3] Crônica “Biscoito de polvilho”.

    https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2022/04/biscoito-de-polvilho.html

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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