Boa romaria faz, quem em sua casa fica em paz
'O conceito de liberdade de Javier Milei atende pelo nome de fascismo', escreve a colunista Denise Assis
Desde que o Brasil passou pelas mãos do troglodita que nos assombrou por quatro anos, tudo por aqui vira Fla X Flu. Ainda estamos na luta para atenuar a violência verbal e a troca dos posts-metralhadoras. Sem contar que já se percebe a mídia tradicional assoprando as brasas com a volta das matérias apimentadas. Um belicismo verbal que parece ter vindo para ficar.
Como todos vimos (e já era de se esperar), a ultradireita conseguiu uma vitória retumbante ali ao lado. Sim, estou falando de Milei. Para dizer a verdade, tamanha é a sua insignificância e indigência política, que nem consegui guardar o seu nome todo. Tenho que consultar sempre, para me lembrar de que se trata de “Javier Milei”.
Independente do meu bloqueio é ele o novo presidente da Argentina, país amigo - com quem transacionamos fortemente. Milei tomará posse no lugar do peronista Alberto Fernández, no dia 10 de dezembro. Pronto. Armada a nova peleja. Desta vez, a polêmica é: se o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, amigo de Fernández, vai ou não à posse. Como cantaria o saudoso Tim Maia: me dê motivos...
Motivos há, e à mancheia, para Lula não ir. O Brasil, país dirigido por ele - sim, aqui viramos o jogo -, é o maior da América do Sul. Sua economia é a sexta economia do mundo. São dados conhecidos e propalados. A Argentina, vizinha e amiga, ocupa nesse ranking uma posição que nem sequer vale a pena mencionar para não deixar mal o país com quem temos 1.200 km de fronteira e é o nosso terceiro parceiro comercial. Portanto, Lula está muito à vontade para escolher se vai ou não vai. Qualquer que seja a sua opção, nada vai mudar na balança comercial.
O primeiro a se manifestar publicamente sobre a questão foi o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta. Ele afirmou nesta segunda-feira, 20/11, que o presidente eleito da Argentina, Javier Milei, deveria ‘pedir desculpa’ ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por tê-lo ofendido de “forma gratuita”. O ministro condicionou a que uma ligação seja realizada, para o início das relações entre os dois governantes.
Do ponto de vista pessoal, o presidente não tem razão para se abalar em tirar do hangar o avião presidencial – que já serviu a missão mais nobre, como buscar, num gesto humanitário, os brasileiros retidos em Gaza -, para participar de salamaleques a Javier.
Seria altamente indigesto experimentar canapés da recepção de alguém que já o chamou em entrevistas a importantes veículos mundo afora, de: “comunista furioso”, “ladrão”, ex-presidiário. Disse, também, que se eleito se recusaria a recebê-lo. Por fim, descreveu o nosso sistema político da seguinte forma: “um regime que não está de acordo com as ideias de liberdade”.
A fala soa imprópria, na boca de alguém que prometeu acabar com os programas sociais, dolarizar a economia, ignora uma ditadura sanguinária que resultou em 30 mil mortos e tem uma vice - Victoria Villarruel - que apontou como solução para o país que ambos irão dirigir, “a tirania”.
Imaginem Lula se despencando daqui para passar o vexame de ser barrado na porta! (Sem contar o fator segurança. Sua vida é muito cara ao nosso país).
Diante disso, concluo que o conceito de liberdade de Milei, em meus compêndios, está em outro capítulo. Atende pelo nome de fascismo. E se o assunto é confraternização, como quem se senta à mesa de um fascista se iguala aos seus princípios, faz muito bem o Lula da Silva de se ausentar da festa. Isto, sim, é liberdade. A de escolher com quem divide os talheres.
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