Bolsonaro é uma lançadeira
"Voltar atrás, às vezes, é sintoma de nobreza e humildade, mas no caso desse presidente é sinal de insegurança, incompetência e preguiça. Ele é incapaz de procurar se inteirar dos assuntos de seu governo", escreve a colunista Denise Assis, do Jornalistas Pela Democracia; "Diante de tal quadro de idas e vindas, só posso, a exemplo do que fazia a minha mãe, chegar a uma conclusão: o presidente Jair Bolsonaro está parecendo uma lançadeira!"
Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Na minha casa tinha uma máquina de costura Singer. Preta, com florões dourados. Dali saíam fiapos que levavam meu pai à exasperação, quando um deles aparecia preso à sua calça de vinco impecável, que vestia às 7h da manhã, depois de um banho longo e do barbear que enchia a casa do cheiro de loção.
Daquela máquina de costura saíam também modelos maravilhosos que as amigas queriam copiar, e quando a minha mãe assentia, e as recebia para as provas, era visível o mau humor do meu pai, a praguejar contra mais fiapos pela casa, sem destino, até o aprontar do modelo. Mas daquela máquina saíam também o barulho repetitivo do motor, a luz acesa para iluminar o rumo do tecido e, principalmente, o praguejar da minha mãe, cada vez que a linha da costura embolava. “De novo! A linha na lançadeira!”
De tanto ouvir a expressão, eu que já atinava para as palavras, quis saber que diabo era aquela tal de “lançadeira”, que se interpunha entre a minha mãe e os pespontos sobre o tecido. E foi então que fiquei sabendo a utilidade da peça da máquina Singer, além de irritar a minha mãe, em sua costura. A lançadeira fazia o movimento pra-lá-e-prá-cá indo e voltando levando e trazendo, o fio de linha no unir das peças para compor a roupa.
Quando nos mostrávamos indecisos, escolhendo e desistindo, era assim que éramos chamados a atenção: “vocês estão parecendo lançadeiras!”
E por que, afinal, estou eu aqui me lembrando da pecinha da máquina de costura? Porque estamos no país em que o presidente da República pela manhã conclama seu gabinete para uma manifestação e à noite desconvoca. Ele assina o decreto de compras de armas, para depois declarar que pode desistir, ou mudá-lo (ainda bem). Briga com o Congresso, ao mesmo tempo em que declara querer diálogo e conciliação. Bolsonaro provoca atritos com o Supremo e recebe o seu presidente, Dias Toffoli, com salamaleques e juras de harmonia.
Voltar atrás, às vezes, é sintoma de nobreza e humildade, mas no caso desse presidente é sinal de insegurança, incompetência e preguiça. Ele é incapaz de procurar se inteirar dos assuntos de seu governo.
Diante de tal quadro de idas e vindas, só posso, a exemplo do que fazia a minha mãe, chegar a uma conclusão: o presidente Jair Bolsonaro está parecendo uma lançadeira!
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