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    Reimont Otoni

    Deputado federal (PT-RJ), vice-líder do PT na Câmara e membro da Comissão de Trabalho

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    Bolsonaro fez da presidência curral particular

    "É hora do Brasil virar a página do fascismo", escreve Reimont

    Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Carlos Barria)

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    As informações sobre as investigações em torno de Bolsonaro mostram a cara da extrema-direita fascista que se encastelou no Brasil. É um show de horrores, que enlameou tudo a sua volta.

    Bolsonaro transformou a Presidência da República em curral particular, apequenou as instituições e as pessoas que giravam em torno dele. Envolveu oficiais do Exército brasileiro em tráfico de jóias, contaminou a estrutura de Saúde na farra de cartões falsos de vacinação, tentou transformar a Polícia Federal e a ABIN/ Agência Brasileira de Inteligência) em uma polícia particular, refém dos interesses dele e de seus filhos, como uma babá a evitar problemas para as “crianças”.

    O roteiro dessa tragicomédia inclui agentes escondidos atrás de árvores, malas de dinheiro, apropriação, venda e recompra de jóias presenteadas ao estado, investigações clandestinas de ministros do STF, políticos e jornalistas (é o que se sabe até agora) e atuação de grupos de zap como o auto-intitulado Grupo dos Malucos, responsável pela produção e disseminação intensiva de informações falsas (fake news). 

    Inclui o uso de avião presidencial (seria o mesmo flagrado em tráfico de cocaína?) para contrabandear os objetos roubados da República. E, como é próprio dos enredos novelescos, inclui traições, muitas traições. Ninguém confiava em ninguém. Na primeira, todos largaram as mãos de todos.

    O show de horrores tem um acúmulo de trapalhadas grotescas, mas não sei se incluiria entre elas a notícia de que o ex-diretor da ABIN Alexandre Ramagem, integrante ativíssimo do esquema, gravou uma conversa em que o ex-presidente combina com ele um plano para blindar o filho, senador Flavio. 

    Muitas perguntas me vêem a mente. Ramagem terá gravado clandestinamente Bolsonaro apenas uma vez? Haverá outros áudios? Terá sido precaução para se proteger no futuro? Terá sido um meio de “segurar” o ex-presidente e forçar uma lealdade? 

    Sempre soubemos que Bolsonaro governava em causa própria, lidava com a Presidência da República como quem lida com uma propriedade comprada com dinheiro vivo. Ele nunca se preocupou em esconder isso. Nem ele e nem os seus colaboradores mais próximos. A célebre gravação da reunião ministerial é prova da certeza da impunidade.

    Mas as revelações de agora chocam pela sordidez e pela prática sistemática do malfeito.

    A lista é longa, mas ainda falta muita coisa. Ao menos até agora, nem chegou perto da gestão criminosa da pandemia da covid-19, que provocou 700 mil mortes, milhares de portadores de sequelas, atraso nas vacinas e montanhas de gastos inúteis - de quase 100 milhões de reais na compra de remédios inadequados, como a ivermectina, e de R$ 1,3 milhão, que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército usou para comprar a matéria-prima da cloroquina. Isso não pode ser esquecido.

    Hoje, Ramagem se coloca como candidato a prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Embora os fatos indiquem que a democracia e a justiça triunfarão, devemos nos manter atentos a cada passo da extrema direita.

    Bolsonaro e seus cúmplices precisam ser exemplarmente punidos, pelo bem da Nação. É hora do Brasil virar a página do fascismo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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