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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    Bolsonaro já está sob os efeitos colaterais da vacina de João Doria

    "O governo acusou o golpe do anúncio do governador. Bolsonaro já sente os efeitos colaterais da vacina de João Doria, que podem ser mais devastadores nos próximos dias", escreve Moisés Mendes

    Jair Bolsonaro e Doria segurando a vacina CoronaVac (Foto: REUTERS/Adriano Machado | GOVSP)

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    Por Moisés Mendes

    Complicou-se a estratégia negacionista de Bolsonaro diante da decisão de João Doria de anunciar ao país que terá vacina para quem quiser ir a São Paulo. E que a vacinação com a CoronaVac começa no dia 25 de janeiro.

    Não basta para Bolsonaro correr para o Twitter, como fez na segunda-feira à tarde, e dizer que terá vacina para todos. Bolsonaro foi frouxo. Publicou uma foto com Paulo Guedes e deixou claro que o ministro foi quem disse: pode prometer porque eu garanto.

    É um mico. O presidente da República precisa chamar o ministro da Fazenda, para que apareça numa foto ao seu lado como avalista do anúncio de que haverá vacina porque há dinheiro.

    Sozinho, sem a muleta de Guedes, Bolsonaro não saberia dizer se tem recursos para a vacina? Como se fosse possível considerar a hipótese de que não haverá vacina se não houver dinheiro.

    Doria não precisou de nada disso. O governador não falou em custos e dificuldades e não se referiu a nada que envolva dinheiro. Doria disse apenas: venham para São Paulo porque aqui haverá vacina para todos.

    Bolsonaro foi embretado por Doria e pela decisão de Hamilton Mourão de anunciar, também na segunda, que pelo menos 150 milhões de brasileiros serão vacinados.

    Doria se apresentou como o rei da vacina e, logo depois, em palestra para a Associação Comercial de São Paulo, o general apareceu para os empresários como o garantidor de que haverá imunização.

    Com a nota no Twitter, Bolsonaro registrou a prova da promessa que relutou em fazer. Mas o compromisso não significa nada. Porque não há planejamento algum, não há nem seringas e não há vontade para vacinar.

    Bolsonaro sentiu que estava duas voltas atrás de Doria e ficaria uma volta atrás de Mourão. E reagiu com a notinha no Twitter, talvez tardiamente.

    Até Rodrigo Maia ameaça anunciar um plano de vacinação elaborado pelo Congresso, com ou sem o governo. Mas o duelo da vacina está só no começo.

    Enquanto acha que enrola com a promessa de vacinação geral, Bolsonaro tentará complicar o plano de João Doria em duas frentes.

    A Anvisa alertou, como ameaça, na sequência do aviso do governador, que ainda não recebeu relatórios dos testes da fase 3 e que o documento final da inspeção da produção da Sinovac pode ficar pronto só em 11 de janeiro.

    Na segunda frente de ataques a Doria, corre no Ministério da Saúde, com avisos e alertas aos amigos da imprensa, a informação de que os governadores não têm autonomia para lançar um plano de vacinação estadual.

    O governo especula até sobre a inconstitucionalidade de um programa estadual ou municipal, sem controle e articulação do governo federal. É o aviso a Doria de que Bolsonaro pode sabotar seu plano.

    O certo é que Doria tentou jogar a bomba da vacina no colo de Bolsonaro e da Anvisa. Nesse momento, o governo tenta lançar a bomba de volta. Mas Bolsonaro não tem como evitar um efeito do gesto do governador.

    É assunto em todo o país que São Paulo tem a vacina que Bolsonaro ainda não tem. E que Doria oferece a vacina chinesa para todos, enquanto Bolsonaro apenas enrola.

    A Anvisa de Bolsonaro pode dizer, na véspera da data fixada por Doria, que a CoronaVac ainda não foi aprovada ou que a fábrica tem problemas a serem corrigidos. Será que pode? Bolsonaro pode tudo.

    E até o dia 25 de janeiro teremos outras surpresas. O governo acusou o golpe do anúncio do governador. Bolsonaro já sente os efeitos colaterais da vacina de João Doria, que podem ser mais devastadores nos próximos dias.


    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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