Bolsonaro já está sob os efeitos colaterais da vacina de João Doria
"O governo acusou o golpe do anúncio do governador. Bolsonaro já sente os efeitos colaterais da vacina de João Doria, que podem ser mais devastadores nos próximos dias", escreve Moisés Mendes
Por Moisés Mendes
Complicou-se a estratégia negacionista de Bolsonaro diante da decisão de João Doria de anunciar ao país que terá vacina para quem quiser ir a São Paulo. E que a vacinação com a CoronaVac começa no dia 25 de janeiro.
Não basta para Bolsonaro correr para o Twitter, como fez na segunda-feira à tarde, e dizer que terá vacina para todos. Bolsonaro foi frouxo. Publicou uma foto com Paulo Guedes e deixou claro que o ministro foi quem disse: pode prometer porque eu garanto.
É um mico. O presidente da República precisa chamar o ministro da Fazenda, para que apareça numa foto ao seu lado como avalista do anúncio de que haverá vacina porque há dinheiro.
Sozinho, sem a muleta de Guedes, Bolsonaro não saberia dizer se tem recursos para a vacina? Como se fosse possível considerar a hipótese de que não haverá vacina se não houver dinheiro.
Doria não precisou de nada disso. O governador não falou em custos e dificuldades e não se referiu a nada que envolva dinheiro. Doria disse apenas: venham para São Paulo porque aqui haverá vacina para todos.
Bolsonaro foi embretado por Doria e pela decisão de Hamilton Mourão de anunciar, também na segunda, que pelo menos 150 milhões de brasileiros serão vacinados.
Doria se apresentou como o rei da vacina e, logo depois, em palestra para a Associação Comercial de São Paulo, o general apareceu para os empresários como o garantidor de que haverá imunização.
Com a nota no Twitter, Bolsonaro registrou a prova da promessa que relutou em fazer. Mas o compromisso não significa nada. Porque não há planejamento algum, não há nem seringas e não há vontade para vacinar.
Bolsonaro sentiu que estava duas voltas atrás de Doria e ficaria uma volta atrás de Mourão. E reagiu com a notinha no Twitter, talvez tardiamente.
Até Rodrigo Maia ameaça anunciar um plano de vacinação elaborado pelo Congresso, com ou sem o governo. Mas o duelo da vacina está só no começo.
Enquanto acha que enrola com a promessa de vacinação geral, Bolsonaro tentará complicar o plano de João Doria em duas frentes.
A Anvisa alertou, como ameaça, na sequência do aviso do governador, que ainda não recebeu relatórios dos testes da fase 3 e que o documento final da inspeção da produção da Sinovac pode ficar pronto só em 11 de janeiro.
Na segunda frente de ataques a Doria, corre no Ministério da Saúde, com avisos e alertas aos amigos da imprensa, a informação de que os governadores não têm autonomia para lançar um plano de vacinação estadual.
O governo especula até sobre a inconstitucionalidade de um programa estadual ou municipal, sem controle e articulação do governo federal. É o aviso a Doria de que Bolsonaro pode sabotar seu plano.
O certo é que Doria tentou jogar a bomba da vacina no colo de Bolsonaro e da Anvisa. Nesse momento, o governo tenta lançar a bomba de volta. Mas Bolsonaro não tem como evitar um efeito do gesto do governador.
É assunto em todo o país que São Paulo tem a vacina que Bolsonaro ainda não tem. E que Doria oferece a vacina chinesa para todos, enquanto Bolsonaro apenas enrola.
A Anvisa de Bolsonaro pode dizer, na véspera da data fixada por Doria, que a CoronaVac ainda não foi aprovada ou que a fábrica tem problemas a serem corrigidos. Será que pode? Bolsonaro pode tudo.
E até o dia 25 de janeiro teremos outras surpresas. O governo acusou o golpe do anúncio do governador. Bolsonaro já sente os efeitos colaterais da vacina de João Doria, que podem ser mais devastadores nos próximos dias.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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