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    Celso Raeder

    Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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    Bolsonaro não queria o golpe

    A eleição do presidente Lula evitou uma guerra civil no Brasil

    Bolsonaro e terroristas invadindo o Congresso Nacional (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | George Marques/via REUTERS)

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    A quebradeira de 8 de janeiro, em Brasília, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na vida de Jair Bolsonaro. E o que é pior: com a colaboração do governo, que ao assumir o papel de maior vítima de um plano golpista, partidarizou uma crise que envolvia a nação inteira. O que é a minuta do golpe, diante de tantas evidências de que Bolsonaro e sua camarilha orquestravam, de fato, uma guerra civil, nos mesmos moldes que levaram o Haiti à ruína? 

    Se tivéssemos um José Dirceu dentro do governo, hoje a Polícia Federal não estaria denunciando Bolsonaro por fraude em vacina, mas investigando seriamente as conexões que viabilizaram a entrada de milhares de armamentos de guerra, via CACs, e os organismos clandestinos que envolvem milhares de policiais, militares de baixa patente, Kids Pretos, bombeiros, empresários, entre outros Tonton Macoute que o general Heleno sabe muito bem para que servem. Foi por isso que os generais não embarcaram na aventura golpista do Bolsonaro. Eles sabiam perfeitamente que seriam vítimas dessa nova ordem política, tendo de bater continência para subalternos.  

    Jair Bolsonaro precisava ser reeleito para levar a cabo seu projeto banhado a sangue de brasileiros. E como ainda não estava preparado para se tornar o Papa Doc da América do Sul, buscou desesperadamente um plano que o mantivesse no poder. Vem daí os ataques à lisura das urnas eleitorais, as operações da Polícia Rodoviária Federal para impedir eleitores do nordeste de votar, na derrama de bilhões de reais para abastecer a caixinha secreta dos deputados, etc. Como nada disso deu certo, tentaram uma virada de mesa, que resultou na condenação de um bando de idiotas, a penas que chegam a 17 anos de prisão. 

    Todas as evidências de que Jair Bolsonaro tencionava uma guerra civil fratricida, estão associadas aos principais fatores que dão origem a este tipo de conflito. Senão, vejamos: 

    Disputas políticas: em quase todos os discursos em que se referiu aos adversários, Bolsonaro incitou sua plateia para o assassinato de desafetos. Ora empunhando tripés em forma de metralhadora, ora simulando empunhar uma arma com os dedos. 

    Diferenças Étnicas: Bolsonaro conseguiu, em apenas quatro anos, fomentar o ódio de boa parte dos sulistas em relação aos nordestinos. Esses filhos de imigrantes europeus, cujos bisavós desembarcaram no Brasil para não morrerem de fome nos seus países de origem, receberam terras e dinheiro público, além de carta-branca para assassinar negros que já habitavam a região, roubando suas propriedades rurais. Está no DNA dessa gente a crença de que são seres superiores, e que os nordestinos só servem para procriar miseráveis. Bolsonaro, que descende de italianos que atravessaram o Atlântico num porão de cargueiro, alimentou esse preconceito, quando afirmou que meninas nordestinas engravidam para ganhar geladeira, entre tantas outras barbaridades.

    Diferenças Religiosas: o fundamentalismo religioso ganhou ares de guerra santa no governo Bolsonaro. O ódio contra religiões de matriz africana já resultou na destruição de dezenas de terreiros de Candomblé e assassinatos de pais de santo, praticados, em sua maioria, por “traficantes de Deus”. O mais grave, no entanto, é a difusão maciça de uma pauta de costumes medieval, que tornam inimigos dos valores cristãos todos aqueles não se sujeitam à moral hipócrita e manipuladora dos bilionários da fé. 

    Desprezo à Cultura: Bolsonaro se esforçou o quanto pôde para jogar a cultura nas trevas. Teve, inclusive, um Secretário Especial de Cultura que idolatrava Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler. O resultado disso é que artistas consagrados, respeitados no mundo todo, ainda hoje sofrem perseguições e calúnias pelas redes sociais bolsonarentas. 

    Desmonte das instituições democráticas: A primeira coisa que vem na cabeça, ao se abordar esse quesito, é o Supremo Tribunal Federal. Bolsonaro viveu obcecadamente a ideia de fechar o STF, que foi na verdade a ÚNICA instituição do país a frear a ruptura institucional que o fascista colocou em marcha. A Câmara dos Deputados, comandada por Rodrigo Maia e Artur Lira, se acocorou. O Ministério Público, na figura de Augusto Aras, foi cúmplice e conivente. E mesmo depois de afastado do poder, ainda hoje Bolsonaro controla o Congresso Nacional. 

    Uma guerra civil generalizada é o resultado da soma de vários conflitos menores. O jornal francês Le Monde, por exemplo, registrou o recrudescimento do conflito entre madeireiros e lideranças indígenas, já no primeiro ano do governo Bolsonaro. E como se não bastasse, seu próprio ministro se viu metido num esquema de exportação ilegal de madeiras, o que demonstra a união de vontades entre criminosos e o governo. A morte do líder do Grupo de Defesa da Amazônia, Paulino Guajajara, é fruto desse fragmento da guerra civil.

    Outra frente de combate bolsonarista foi formada na figura de milhares de garimpeiros ilegais, armados e dispostos a tudo para invadir as terras Ianomâmis. Dá para imaginar o que estaria acontecendo na reserva indígena, neste exato momento, se o Lula não tivesse sido eleito? Ao invés de nos tornarmos defensores da vida de crianças palestinas, hoje seríamos réus em tribunais internacionais pelo genocídio de um povo da floresta. 

    No contexto urbano, a guerra civil de Bolsonaro tem seu braço mais forte na política de extermínio de criminosos, um disfarce para justificar a matança indiscriminada de pessoas pobres. Basta ver os comentários nas postagens feitas pelos jornais nas redes sociais, quando o assunto é policial. Quando morre uma criança vítima de bala perdida, dizem: “acidente de trabalho”. Quando matam um rapaz sem antecedentes criminais, com tiros nas costas por não ter parado numa blitz: “se não parou é porque estava devendo”. E todos aqueles que defendem essa política de extermínio, eu disse, TODOS! Querem usar armas para justiçamento. E os governadores bolsonaristas sabem disso. 

    A eleição do presidente Lula evitou uma guerra civil no Brasil. É isso que o governo precisa esclarecer para a sociedade. Ah, mas isso é um exagero! Meus caros, exagero é espalhar a mentira sobre a existência de uma ameaça comunista que nunca existiu. Estou defendendo uma tese amparada em pilhas de documentos, depoimentos, processos, vídeos, que provam que estava em marcha um projeto de tomada de poder pela violência. 

    Acreditem, não é exagero. O Brasil esteve muito próximo de se tornar uma republiqueta violenta, corrupta, comandada por bandidos com carta branca para destruir a Amazônia, saquear e contrabandear nosso ouro, entregar nossas jazidas de petróleo com o fim da Petrobras. Milhões de crianças seriam abandonadas para morrerem desnutridas, por falta de ossos para alimenta-las. Desemprego seria sinônimo de vagabundagem, e lugar de vagabundo é na vala. Universidade só para ricos.   

    Lula está derrapando nas pesquisas não por falta de resultados positivos no seu governo, mas pelo ‘coitadismo’ que está impregnado no núcleo pensante da sua administração. Me desculpe o termo, mas o povo está cag@ndo para essa coisa de golpe contra a posse do presidente. Mas quando o contexto do 8 de janeiro se inserir no conjunto de práticas acumuladas nos quatro anos anteriores, voltadas para o extermínio de minorias, esbulho, corrupção e extinção dos direitos civis, a sociedade compreenderá que o resultado das urnas, nas eleições de 2022, não apenas salvou a democracia, mas a nossa própria existência. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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