Bolsonaro vai mal por que seu discurso vai contra o que quer a sociedade
"O país aprendeu na dor os efeitos do preconceito, da inutilidade das armas quando não há uma política de governo preocupada com os cidadãos", diz Denise Assis
Por Denise Assis, para o 247
A despeito do aspecto ideológico e humano a da pesquisa Datafolha que apontou uma tendência maior dos brasileiros (49%) a pautas até então consideradas “de esquerda” – maior tolerância à homofobia, por exemplo -, há um lado inescapável nessa questão. A comparação foi feita com a avaliação realizada em 2017, quando havia um “empate” entre os posicionados à esquerda (41%) e os à direita (40%). O Datafolha fez perguntas em torno de temas econômicos e sociais, em busca do perfil ideológico da população. O que encontrou, no entanto, nos explica por que Bolsonaro aparece sistematicamente distante do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na corrida presidencial.
Do que o candidato da ultradireita se distanciou, principalmente, foi do eleitorado que o elegeu em 2018. Sua pauta está distante do que quer a sociedade, hoje. Grande parte naquela eleição seguiu o seu discurso de apologia às armas e pela pena de morte, acreditando que estariam aí as saídas para o combate à criminalidade. Ledo engano.
Os ouvidos na pesquisa – não há como cravar, pois não conhecemos o universo pesquisado -, mas devem representar uma boa parcela dos “arrependidos”, que ao contrário da expectativa ao elegê-lo, em vez de ver baixar o índice de violência, assiste a cada dia mais mortes, enquanto o custo de vida sobe vertiginosamente e os índices econômicos despencam.
Um dos percentuais da pesquisa chama a atenção: 63% consideram que armas deveriam ser proibidas. Isto é um dado bastante elucidativo de que Bolsonaro hoje fala apenas para a sua bolha, os radicais que defendem o porte e o uso de armas. A sociedade, de modo geral, não compactua com a ideia de o governo transferir a obrigação da segurança para ela. Tampouco está interessada na “guerra particular” que ele convoca para salvar a própria pele.
Outro dado interessante é o posicionamento de 61% contra a aplicação da pena de morte. E, o índice mais surpreendente, em se tratando de uma sociedade que tem sido bombardeada por discursos homofóbicos vindos de Jair e dos integrantes ideológicos do seu governo: 79% declararam que a homossexualidade deve ser aceita. Apenas 16% disseram que a orientação deve ser desencorajada.
O que se vê, aqui, é um quadro totalmente contrário às ideias propagadas por Bolsonaro. Daí ficar muito claro que a próxima eleição lhe é desfavorável. O país aprendeu na dor os efeitos do preconceito, da inutilidade das armas quando não há uma política de governo preocupada com os cidadãos e de se punir com a morte, (obsessão do atual governante), que fez emergir na vida do país a tristeza, a violência, o desprezo pelos pretos e pobres. Essa onda, a julgar pelos números da pesquisa, vai passar. Outubro será uma grande oportunidade para isto. Fica a cada dia mais evidente que o posicionamento dos eleitores mudou e que Bolsonaro fala só para a sua bolha.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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