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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Bolsonaro volta a ser Bolsonaro

    A colunista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, afirma que Bolsonaro recobrou a identidade. Ela diz: "Bolsonaro, recolhido desde a prisão do amigo Queiroz e da certeza de que o Artigo 142 não pode ser usado pelo executivo, sobre os demais poderes, volta a ser Bolsonaro"

    É claro que Bolsonaro é um miliciano que faz um governo mafioso (Foto: Antonio Cruz - ABR)

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    Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Há dois meses o país tem à frente do Ministério da Saúde, o general da ativa, Eduardo Pazuello, no comando do que deveria ser uma operação sanitária de proteção à vida dos brasileiros contra o coronavírus, uma desgraça que já levou 75 mil vidas no Brasil e milhões mundo a fora e não dá mostras de ir embora tão cedo. Pelo contrário. Há quem diga que prepara uma segunda onda, quem sabe até mais violenta e daninha. Não. Ele não morre com um tiro. E por isto não se entende o porquê de o general ter levado com ele, para o ministério, uma tropa de cerca de 20 oficiais do Exército. Algum médico? Não.

    A situação, além de incomodar a quem tem juízo, tirou dos seus cuidados o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que desde sábado não faz outra coisa a não ser desviar-se dos ataques da ala militar e do seio do governo, por ter dito o que cada um de nós tem vontade de dizer, mas não tem o foro privilegiado do ministro, que falou por todos nós: “o Exército está se associando a este genocídio”.

    Além de traduzir o que um país inteiro observa, mas não tem voz ou púlpito adequado para se expressar, Gilmar Mendes agitou as três Forças que, para surpresa geral, reagiram com virulência, em nota conjunta com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O assunto está na mídia há dois dias e, tal como a Covid-19, não dá mostras de arrefecer. Pois, embora tenha tirado o termo “genocídio”, da explicação do que disse, palavras, e-mails enviados e flechas lançadas, não têm volta. Ficou sob o fogo cruzado.

    Tudo isto teria sido evitado, se Bolsonaro tivesse tido o capricho e a preocupação com um setor sensível para a vida nacional, no momento, nomeando para a pasta um profissional do ramo. Um médico, como os dois que antecederam Pazuello no cargo: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Não só não o fez, como diz – embora a situação esteja insustentável -, que não irá tirá-lo de lá.

    Um “Aviso nº 009/GAB/85”, que tramitou dentro do SNI, em 1985, lido hoje, passados 35 anos, nos leva a concluir que os militares do período da ditadura (1964-1985), tinham um pouco mais de preocupação neste sentido.

    Vendo que já tinha gente com a mão no interruptor para jogar luz na escuridão que se abateu sobre o Brasil naqueles anos, um dirigente do SNI, de nome “Ricardo Magalhães”, enviou ao então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, sugerindo, em uma “Exposição de Motivos”, que “os cargos de vice-chefe da “Agência Central  do SNI e de Chefes de Agências Regionais deste Serviço no Rio de Janeiro e em São Paulo, não mais sejam exercidos por oficiais-generais da ativa”.

    Talvez consciente da mudança dos ventos, o militar queria tirar do “foco” os oficiais do Exército, a fim de dar curso ao “novo-normal” da época. E, quem sabe, assumir uma postura mais discreta no novo cenário nacional. Sabia que aqueles tempos exigiam o retorno aos quartéis, de onde assistiriam grande parcela do país desprezá-los pelos abusos cometidos enquanto estiveram no poder.

    Foram anos de recolhimento aos limites dos muros de suas unidades, até que em 2018 o general Villas Boas, (comandante do Exército até janeiro de 2019), resolveu sair dos seus cuidados para assombrar os ministros do STF com um Twitter. Cederam à pressão e retiraram da corrida presidencial, o possível vitorioso das eleições vindouras, Luiz Inácio Lula da Silva. Desde então, o que se viu foi o assanhamento das tropas em direção aos cargos que o ex-colega de fardas lhes proporcionou, fora os agrados. Poupá-los da reforma da Previdência foi um deles.

    Em tempos de Bolsonaro, os militares não só misturam os das suas fileiras com o governo, como se apressam em assinar nota de desagravo a um ex-capitão expulso, porque em última instância é disto que se trata. A defesa feita, o respaldo dado, foi ao “comandante em chefe” das Forças Armadas, Jair Bolsonaro. Com isto, puxam para o colo todo o peso do fracasso do general da ativa, Eduardo Pazuello, no combate à pandemia, e ainda passam um recado claro de que estão com Bolsonaro e não abrem. E tanto é assim, que ele já se sentiu à vontade para tuitar mais uma de suas mentiras contra a “esquerda”. Bolsonaro, recolhido desde a prisão do amigo Queiroz e da certeza de que o Artigo 142 não pode ser usado pelo executivo, sobre os demais poderes, volta a ser Bolsonaro.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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