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Paulo Moreira Leite

Colunista e comentarista na TV 247

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Casagrande, a face humana do futebol

"Tratado como indisciplinado e rebelde, Casagrande simplesmente recusou-se a renunciar a própria condição humana", escreve Paulo Moreira Leite

Walter Casagrande Jr (Foto: Reprodução/Instagram)

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Por Paulo Moreira Leite 

Num ambiente dominado por personagens esculpidos por estratégias marketing, Casagrande jamais abriu mão de seus direitos como cidadão, escreve Paulo Moreira Leite, do Brasil 247. 

No início de minha vida como jornalista, passei cinco na editoria de Esportes do Jornal da Tarde, o Estadão de jeans, como definiu Tarso de Castro. Acompanhava treinos, comparecia a estádios, fazia entrevistas e viajava a serviço.  

Eu já havia mudado de área quando surgiu a Democracia Corintiana. Caso único num país marcado por uma história de  censura e violência do aparato policial, em 1984 dirigentes e jogadores do clube mais popular resolveram dedicar fama e prestígio a uma causa de primeira grandeza -- aprovar a emenda das Diretas-Já e derrotar o regime de 64. 

Embora a emenda não tenha sido aprovada, o engajamento político tornou-se um traço próprio daquele período,  inclusive no futebol -- onde os clubes costumavam submeter atletas a uma rotina  rígida e autoritária, típica dos colégios internos do início do século passado. 

Essa tendencia seria reforçada quando a publicidade tornou-se uma das principais fontes de receitas dos clubes, necessitando de atletas mudos e despersonalizados, como garotos-propaganda que anunciam uma marca de refrigerante ou de pasta de dentes. 

Sempre sob a liderança de Sócrates  (1954-2011), ao lado de um pequeno grupo de atletas Casagrande permaneceu fiel aos direitos de cidadania afirmados naquele período, exercitando sua liberdade num grau sempre negado a maioria dos brasileiros e brasileiras, em particular das camadas subalternas, ainda mais sob a disciplina do futebol profissional.  

Não surpreende que tenha acumulado uma sequencia de conflitos e polêmicas, inclusive depois de pendurar as chuteiras, tornando-se comentarista da Globo, atividade que exerceu por 25 anos, contra 17 no futebol profissional. 

"Vai ser bom para as duas partes," disse Casagrande, na semana passada, ao anunciar a saída da Globo -- quando a campanha presidencial entre Lula x Bolsonaro promete cenas inéditas de tensão e conflito, situação na qual seria pressionado a silenciar sobre suas opiniões políticas.

Tratado como indisciplinado e rebelde, Casagrande simplesmente recusou-se a renunciar a própria condição humana.

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