Cinema: Amigos beckettianos
A premiada peça “Aldeotas”, de Gero Camilo, ganhou versão cinematográfica muito esperta e cuidadosa. Está na plataforma gratuita Sesc Digital até 7/1
A peça homônima de Gero Camilo esteve em cartaz por mais de uma década nos anos 2000, ganhou o prêmio Shell e foi muito elogiada. Chegou ao cinema numa versão muito esperta e cuidadosa do próprio autor e com os mesmos Gero e Marat Descartes nos dois únicos papéis. Uma adaptação que, embora conserve o espírito teatral, tem sutilezas cinematográficas muito expressivas através dos cenários minimalistas de Carla Café e de alguns recursos gráficos. Na direção de arte, eu destacaria os elementos lúdicos como bambolê, pião, roda gigante e manequins que Gero Camilo usa poeticamente para pontuar as aventuras dos dois protagonistas.
Levi (Gero) e Elias (Marat) eram amigos de infância inseparáveis na pequena e conservadora Cotia das Fuças. Separaram-se por 17 anos quando Levi cumpriu o seu desejo de fugir daquele lugarzinho. Elias, porém, não conseguiu concretizar o plano conjunto. É uma história de abusos familiares e sexuais.
Aos 50 anos, Levi está voltando a Cotia para o funeral de Elias. Abre-se o espaço para vinhetas de sabor becketiano, evocando Esperando Godot, que recontam a amizade dos dois num período de formação. Juntos criaram o Padaria Espiritual, jornal de poesia que recebe um mimeógrafo em evento de tom felliniano.
Aldeotas é um filme muito imaginativo, sustentado por texto sucinto, inteligente e por fim bastante comovente. Só me faltou compreender por que os personagens são Levi e Elias, nomes do Antigo Testamento ligados à tradição judaica.
>> Aldeotas está até 7 de janeiro na plataforma gratuita Sesc Digital.
O trailer:
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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