TV 247 logo
    Carlos Alberto Mattos avatar

    Carlos Alberto Mattos

    Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

    264 artigos

    HOME > blog

    Cinema: Quase um conto de fadas

    “A Menina Silenciosa” é pequeno na estatura, oferece mais expectativas que substância, mas tem uma condução tão suave e enredante que pode nos cativar

    "A Menina Silenciosa" (Foto: Divulgação)

    A primeira cena de A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin) me lembrou o famoso quadro Christina’s World, de Andrew Wyeth. Uma garota se ergue aos poucos da relva onde se escondia dos chamados de casa distante. Mas, ao contrário da personagem da pintura, Cáit (Catherine Clinch) não tem uma deficiência física, mas sim um déficit emocional. Retraída, move-se o mínimo possível, tem dificuldades para aprender a ler, sofre bullying e é tratada como lixo pelos pais pobres na Irlanda rural de 1981. Quase uma figura de conto de fadas.

    Durante as férias de verão, os pais a despacham para a casa de um casal, parentes distantes da mãe, a fim de ter menos despesa em casa enquanto esperam um novo filho. “Ela come a despensa inteira”, reclama o pai.

    Na casa de Eibhlín (Carrie Crowley) e Seán (Andrew Bennett), Cáitl encontrará atenção e cuidado, ainda que dentro dos padrões secos e duros da Irlanda profunda. Ali a menina sairá um pouco do seu casulo, mesmo que custe a descobrir (e nós também) a função que sua presença assumia naquela casa.

    O filme de Colm Bairéad, adaptado de um conto de Claire Keegan, é pequeno na estatura, oferece mais expectativas do que substância dramática, mas tem uma condução tão suave e enredante que pode nos cativar plenamente. São muitos os detalhes a nos envolver nas sutilezas das relações entre Cáitl e suas duas “famílias”. A aparente sisudez de Seán, por exemplo, que ocultava uma ternura reprimida; a afabilidade permanente de Eibhlín a dissimular a sombra de um trauma; a inocência de Cáitl exposta em suas respostas prosaicas às questões mais graves. Um mundo de pequenas nuances para quem as aprecia.

    Colm Bairéad adota um ritmo compassado e sedoso, pontuado por algumas belas simultaneidades temporais. Seu estilo me trouxe à memória ora os retratos familiares melancólicos de Terence Davies, ora a fabulação de Céline Sciamma em Pequena Mamãe. Mesmo assim, trata-se de uma obra singular em sua capacidade de nos tocar intimamente, assim como no uso do idioma irlandês (o gaélico) nos diálogos. Foi um dos filmes indicados ao Oscar depois de premiado nacionalmente e no Festival de Berlim.

    >> A Menina Silenciosa está nos cinemas.

    O trailer:

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: