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    Marcelo Pedroso Goulart

    Promotor de Justiça aposentado do Ministério Público de São Paulo, autor dos livros Ministério Público e democracia: teoria e práxis e Elementos para uma teoria geral do Ministério Público

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    Ciro perdeu o siso

    Parece-me que o estrago autoproduzido inviabiliza Ciro não somente para esta eleição presidencial, como também para as futuras. Uma pena

    Ciro Gomes (Foto: Reprodução/Facebook)

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    Ciro perdeu o siso.

    Meu voto, este ano, seria dado pela segunda vez a ele. Por quê? Porque é o único candidato que construiu um bom projeto para tirar o país do enrosco em que estamos metidos. Os demais não têm projeto. Ninguém, exceto Ciro, é explícito no combate ao neoliberalismo. 

    Acompanho há uma década, pela imprensa e pelos vídeos do YouTube, os passos de Ciro: nos inúmeros debates, palestras e entrevistas realizados em diversos ambientes, para diversos públicos, no Brasil e no exterior. Nesses espaços e por todo esse tempo, Ciro explicou, discutiu e submeteu à crítica esse projeto. Pariu um livro até. Convenci-me de que a proposta dele adequa-se, no atual momento histórico, às necessidades do país.

    Mas Ciro perdeu o siso.

    No momento em que a polarização eleitoral consolidou-se entre as candidaturas de Bolsonaro e Lula, inviabilizando as demais; no momento em que essa polarização passou a indicar o risco de eventual vitória em segundo turno do neofascismo, ou de golpe, estabelecendo-se, nas duas hipóteses, situação de insegurança política (evitável com a vitória de Lula); no momento em que se ensaiou a formação de uma frente ampla de apoio à chapa Lula/Alckmin, hoje concretizada, Ciro deveria ter renunciado à candidatura e negociado a introdução de pontos do seu projeto no programa da frente, como fizeram PSOL, MST, Marina Silva, e também banqueiros, burguesia burocrática (essa locução é de Caio Prado Júnior), o tucanato raiz e outros aliados táticos.

    Mas Ciro já havia perdido o siso ao optar por uma campanha verborragicamente agressiva, contra tudo e todos, espantando qualquer possibilidade de aliança e aproximação.

    E por perder o siso, embaraçou-se na própria língua, demonstrando que fazer política com ira de cônjuge traído é falta de inteligência estratégica. Parece-me que o estrago autoproduzido inviabiliza Ciro não somente para esta eleição presidencial, como também para as futuras. Uma pena.

    Assim, (i) por Ciro ter perdido o siso, (ii) contra o neofascismo, (iii) pelo risco que o segundo turno representa e (iv) em defesa da retomada do processo de democratização, não me resta alternativa: votarei, já no primeiro turno e por responsabilidade política, na frente ampla liderada pela chapa Lula/Alckmin.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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