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    Rodolfo Melo

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    Com Rubem Alves seria mais fantástico

    Apesar de seus mais de 150 livros publicados, será que faltou competência para que lhe destinassem 20 segundos do programa dominical da rede Globo?

    A semana que passou foi, no mínimo, marcante para a sociedade brasileira. Em dias seguidos perdemos dois grandes nomes de nossa literatura, primeiro João Ubaldo Ribeiro, na sexta, e no sábado foi a vez de Rubem Alves.

    As notícias já seriam tristes em própria essência, mas ainda pioram devido à indiferença dos canais de televisão aberta diante delas.

    Minha relação com a Rede Globo sempre foi inconstante, chegando próximo à bipolaridade. Na infância, era o canal que reinava absoluto na tv de casa. Perdia espaço apenas na hora do almoço, pois trocava de canal para assistir aos programas do Chaves e do Chapolin no SBT.

    Já na adolescência, a relação ordeira passou para o outro extremo. A Globo se tornou a representação do diabo na terra. Revoltado contra o Sistema e, banhado por uma ingenuidade política, enxergava a emissora como o maior símbolo do capitalismo imperialista que empurrava o país ladeira abaixo.

    Agora, nos tempos atuais, larguei mão de certas ideologias. Encaro a emissora como uma empresa de entretenimento e jornalismo que, como todas, visa apenas seu lucro, fazendo o que for preciso para alcançá-lo. Inclusive manipular algumas informações, caso seja necessário. Hoje, o boicote adolescente acabou, assisto aos programas que me interessam e não acredito em tudo que eles falam. Tenho tv por assinatura em casa para fugir dos filmes dublados e acompanhar minhas séries favoritas.

    Mas o que tudo isso tem a ver com as mortes de João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves?

    Simples. Meu domingo não seria o mesmo se no fim da noite a televisão não estivesse sintonizada no Fantástico. Nem digo que é por interesse no conteúdo, mas trata-se mais de uma tradição familiar que não me importo em seguir.

    E no último domingo, dia 20, fiquei decepcionado com o programa. Não que tivesse criado grandes expectativas, mas o fato é que, embasado em seu objetivo de resumir os principais assuntos da semana, esperava uma nota sobre essas significativas perdas literárias, pelo menos. Mas não foi isso que aconteceu.

    Reconheço que fizeram uma boa matéria sobre a morte do João Ubaldo Ribeiro. A reportagem foi fidedigna à personalidade do escritor, mostrando o quanto ele era querido por seus amigos de bar, faltando apenas, em minha opinião, falar um pouco mais sobre suas obras. Porém o que importa é que, no fim das contas, ele foi lembrado.

    Mas e sobre Rubem Alves? Nada? Só porque não fizeram nenhuma minissérie global baseada em uma de suas obras? Só porque seus textos não lhe renderam uma cadeira na Academia Brasileira de Letras ao lado de ilustres pensadores como José Sarney e Fernando Henrique Cardoso? Sua contribuição para a educação do país não seria digna de nota? Apesar de seus mais de 150 livros publicados, será que faltou competência para que lhe destinassem 20 segundos do programa dominical da rede Globo?

    No último bloco, pouco antes dos gols da rodada do brasileirão, os apresentadores botaram uma expressão séria em seus belos rostos e começaram a ler uma nota sobre a morte de alguém.

    Juro, com toda sinceridade, pensei que seria sobre o escritor, educador e pensador contemporâneo, Rubem Alves. Mas, infelizmente, me enganei.

    A nota foi sobre o falecimento de Norberto Odebrecht, um dos fundadores da construtora que leva o seu sobrenome.

    O que esperar de um país onde determinados setores de sua imprensa dão mais ênfase aos empreiteiros do que aos educadores? A meu ver, nada diferente do que temos hoje.

    Talvez, se o grande pensador não fosse também um escritor e estudioso, mas um cantor de música popular, teriam lhe reservado um bloco inteiro do programa.

    A indiferença perante a morte de Rubem Alves é inversamente proporcional à importância dada à educação no Brasil. Ninguém liga, pois não se vende e nem dá ibope.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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