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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Condenado por sonegação: Quem é o primeiro empresário denunciado por financiar atos golpistas

Dono de duas empresas de engenharia, Pedro Kurunczi não é peixe pequeno, mas está longe de ser os tubarões que também precisam ser responsabilizados

(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O primeiro empresário denunciado pelo Ministério Público Federal por financiar os atos golpistas de 8 de janeiro tem em seu currículo uma anotação que faz jus ao termo bolsonarista.

Pedro Luis Kurunczi já foi condenado por crime contra a ordem tributária. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, o empresário declarou que uma de suas empresas em 2011 e 2012 teve receitas de R$ 2 milhões, enquanto a Receita Federal descobriu que os livros contábeis da empresa registravam R$ 14,5 milhões em notas fiscais. 

Pelo crime, já transitado em julgado, ele cumpriu pena de dois anos em regime aberto, que, segundo sua advogada, foi convertida em prestação de serviços à comunidade e multa. No total, foram sonegados mais de R$ 1,2 milhão em imposto de renda e outros tributos.

Para promover o levante contra a democracia, ele contratou quatro ônibus que foram a Brasília a partir de Londrina, cidade onde ele tem duas empresas, a Laris Empreendimentos Ltda. e E.E.G.P. Escritório de Engenharia e Gestão de Projetos Ltda.

Procurada, a advogada dele, Ana Paula Delgado de Souza Barroso, não retornou o contato.

Em janeiro do ano passado, quando a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) informou que ele havia fretado quatro ônibus para Brasília, Ana Paula Delgado declarou:

"Ele não pagou e não financiou esse valor todo. Mas o contrato precisa ficar no nome de uma pessoa e, ele sendo empresário esclarecido, acabou deixando no nome dele. Foram várias pessoas que resolveram fazer essa arrecadação para poder participar dessa manifestação em Brasília."

A advogada disse ainda que a ideia de Kurunczi era realizar uma manifestação pacífica. "O Pedro não tinha conhecimento e muito menos incentivaria atos de vandalismo. Eles simplesmente ajuizaram uma ação contra todos que fretaram ônibus a Brasília. É regra ter uma relação de passageiros e eles têm condições de apurar se algum deles teve relação com o vandalismo", declarou.

A denúncia do Ministério Público Federal descreve que ele teve sim participação nos atos de violência contra as sedes dos três poderes, o que caracteriza o ato golpista.

A investigação é mantida sob sigilo. Em comunicado à Folha de S. Paulo, que divulgou a notícia, o Ministério Público Federal informou:

"Em período próximo aos eventos criminosos, ele passou a encaminhar postagens incitando a subversão da ordem democrática e tratando da organização do transporte para Brasília. No início de janeiro, ele enviou mensagem informando que alguns ônibus sairiam de Londrina no dia 6 de janeiro, para uma ‘tomada’ do Congresso Nacional".

A assessoria de comunicação do MPF informou ainda: "Em outra mensagem, evidenciou sua ampla adesão e relevante participação para a concretização dos atos, uma vez que estava empenhado em garantir arrecadações para pagar as despesas, inclusive de alimentação, das pessoas que iriam à Capital Federal."

Um dos passageiros dos ônibus fretados por Kurunczi foi Orlando Ribeiro Júnior, preso no Palácio do Planalto no dia 8 e condenado pelo STF a três anos de prisão.

Kurunczi não é um peixe pequeno, mas está longe de ser um dos tubarões que apoiaram as manifestações golpistas. 

A CPI dos Atos Antidemocráticos chegou a aprovar requerimento de convocação do executivo Josmar Verillo, que era o número 2 da gigante multinacional Paper Excellence, controlada pela família indonésia Widjaja.

Verillo não chegou a ser ouvido, mas, depois da convocação, comunicou a agentes do mercado que estava renunciando a seu posto na empresa.

O deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), autor do requerimento, justificou assim a convocação:

"Josmar Verillo vinha se manifestando desde 2021 quando, em suas redes sociais, expunha seu desapreço pelo Supremo Tribunal Federal, em ofensas diretas a seus integrantes. Mais recentemente, atacou por meio das redes sociais autoridades como o Ministro da Justiça Flavio Dino, o senador Randolfe Rodrigues, a primeira-dama Janja e o próprio perfil do Presidente Lula".

A pergunta não respondida é se Verillo agia por conta própria ou cumpria missão da Paper, que manteve laços públicos com o governo Bolsonaro, inclusive recepcionando no exterior o então vice-presidente da república, Hamilton Mourão, e o filho de Jair Bolsonaro, Eduardo.

Quando o 247 revelou em reportagem a militância de extrema direita de Verillo, a Paper se manifestou em nota:

"A Paper não é investigada por atentados de 8 de janeiro. Pois não financiou deslocamentos para Brasília nem manutenção de abrigos".


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