Conflito na fronteira russa-ucraniana é parte da luta por um mundo multipolar
Nas últimas duas semanas, a Rússia vem deslocando tropas e blindados para a sua fronteira com a Ucrânia, em regiões de conflito que muitos chamam de guerra civil ucraniana. Tudo que acontece agora naquela conflitiva região passa a ter um significado geopolítico de proporções mundiais, como veremos neste pequeno ensaio.
De tudo que tenho lido, ouvido e escrito sobre tensões e conflitos internacionais, este que agora presenciamos na fronteira entre Ucrânia e Rússia, é o que mais preocupa. Os veículos de imprensa mais sensacionalistas dizem que é iminente uma guerra entre esses dois países. E, que as tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte-OTAN atuariam na defesa da Ucrânia, mesmo ela não tendo ainda sido admitida como membro dessa organização militar (1).
Eu não acho que chegarão a esse extremo de deflagração de uma guerra entre os dois países. Antes de entrar no conteúdo do problema, é preciso que façamos um histórico da origem deste conflito, que vai significar contar um pouco a história da Ucrânia, não desde a época medieval, quando ela era conhecida como a Rússia de Kiev, que é a sua capital. Aquela região é habitada milenarmente há quatro mil anos. Paleoantropólogos afirmam que foi naquela região que o cavalo foi domesticado pela primeira vez.
O que nos interessa é a história mais recente da Ucrânia, especialmente, quando dois anos depois da Revolução Bolchevique, na Rússia de 7 de novembro de 1917, a Ucrânia muda seu nome para República Soviética Socialista da Ucrânia. A União Soviética ainda não tinha sido criada. Ela só seria formalizada em dezembro de 1922, no ano da morte de Lênin.
Então, a Ucrânia é um dos primeiros países que gravitavam em torno da Rússia, um dos primeiros a criar a sua própria República Soviética Socialista. Por que este nome soviético? A partir da chegada de Lênin na Rússia, na noite do dia 3 para 4 de abril de 1917, vindo do exílio em Zurique, na Suíça, ele vai apresentar o que ficou conhecido como as suas “Teses de Abril”.
Esse é um documento que ele apresenta à reunião do Comitê Central do Partido. O livro que conhecemos como “Teses de abril” é uma coletânea de cinco cartas que ele enviou ao Partido antes de sua chegada à Rússia (conhecidas como “Cartas de longe”) e mais alguns outros anexos. Todos esses textos escritos no mesmo mês de abril.
Será nessas teses que Lênin dará início a duas coisas muito importantes. Primeiro, a criação do Partido Comunista, inicialmente da Rússia, depois, da União Soviética. Os bolcheviques não militavam num partido comunista, que não existia. Marx e Engels lançaram “O Manifesto do Partido Comunista”, em fevereiro de 1848, mas nenhum deles fundou o partido, e nem os que se seguiram a eles.
Lênin, que é o fundador, só vai ajudar a construir o partido, a partir de abril de 1917. Os comunistas marxistas da Rússia, do período pré-revolução, atuavam desde o final do século XIX, no POSDR, que era o Partido Operário Social Democrata Russo. Lembro que social-democrata nessa época, era quase que sinônimo de ser de esquerda, socialista, comunista etc. Mas, tinham alguns que não eram nem socialistas nem comunistas.
Esta social-democracia, nada tem a ver com a que tem como um dos seus fundadores, Max Webber na Alemanha que, inclusive, fez maioria na chamada República de Weimar, que é onde foi elaborada a Constituição da República Federal da Alemanha de em 1920. Isso foi um momento pós-primeira guerra mundial, onde a Alemanha havia sido arrasada.
Disse tudo isto para mostrar que, a partir desses textos de Lênin, ele cria o Partido Comunista e diz que tem que fortalecer o poder dos sovietes (comitê ou conselho em russo). É o poder dos conselhos. Lênin registra nesse livro que havia na Rússia uma dualidade do poder. De um lado o regime parlamentar, com plenos poderes, advindos da Revolução de fevereiro, que derrubou o czarismo e implantou a democracia burguesa.
Os comunistas, liderados por Lênin, não participam desse governo. No entanto, Lênin disse que esse governo foi muito importante, porque ele garantiu as chamadas liberdades democráticas burguesas: expressão, organização, sindical, partidária. Tanto que o Partido foi legalizado e Lênin disse: “a nós interessam essas liberdades, para que nós possamos falar direto com as massas”. Lênin elogia esta etapa que ele vai chamar de “Primeira Etapa da Revolução”, que tem a participação da burguesia. Depois ele vai descrever a Segunda Etapa, que vai se realizar oito meses depois, outubro, com a revolução proletária.
Então, o modelo soviético, que foi edificado na Rússia, berço do modelo, foi adotado por outros países vizinhos e, a Ucrânia, foi um dos primeiros: República Soviética Socialista da Ucrânia. Isto foi crescendo e a Rússia tinha ao seu redor, 14 outras repúblicas, com o mesmo modelo: Armênia, Azerbaijão, Belarus, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Moldova, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão. Todas elas foram se transformando em Repúblicas Soviéticas Socialistas.
Eles então decidiram formar uma União de todas essas repúblicas, de forma consciente e voluntária, que passou a ser um ente federativo único. Um governo central, soviético e, cada país, com a sua autonomia, seu parlamento, dirigido pelo partido comunista. Criou-se até uma identidade e cidadania, a soviética. Então, foi essa a história mais recente da Ucrânia, que permaneceu um país socialista até o fim da URSS, em dezembro de 1991.
Em dezembro de 1991 ocorre o colapso da União Soviética, que tinha se iniciado a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim. Isso foi uma onda no Leste Europeu, que abalou todos os países do chamado campo socialista, que foram caindo um a um.
A Iugoslávia se dividiu em sete países, a Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, os países bálticos. Tudo foi em decorrência de uma onda anticomunista. O mundo tinha eleito Ronald Reagan em 1980, reeleito em 1984, e que fez o seu sucessor em 1988, que fica até 1992. É um período em que se vive todo este desabamento do Bloco Socialista, sob a Presidência de Georg Bush (pai).
Era basicamente a mesma coisa, o anticomunismo, com o objetivo de destruir a URSS, e eles conseguiram. Com a ajuda do papa Karol Wojtyla (que adotou o nome de João Paulo II), que foi canonizado santo, e teve papel preponderante nessa onda anticomunista. E a Ucrânia caiu junto, não sobrou ninguém. A partir desse momento, foi criado uma organização para ficar no lugar da União Soviética, que eles chamaram de Comunidade dos Estados Independentes – CEI.
Passados 13 anos, em 2004, um cidadão chamado Viktor Yanukovych, que mantinha boas relações com Vladimir Putin, que já estava no poder desde 7 de maio de 2000, passa a defender que a Ucrânia ficasse na órbita da Rússia, que não era mais soviética nem socialista, mas que sempre guardou muita coisa do período socialista. Ao mesmo tempo em que ele não se colocava contra uma aproximação maior com a Europa.
É verdade que entre 1991 e 2000, a Rússia foi governada por um bêbado chamado Boris Yeltsin, um agente da CIA, um homem dos Estados Unidos na Rússia, que não tinha autonomia nenhuma. Aí vem a era Putin, ora como presidente, ora como primeiro-ministro. Agora, novamente, como presidente. A Rússia é um misto de presidencialismo-parlamentarismo, igual ao modelo francês. E ele mudou a Constituição Russa, que permitirá que ele permaneça no poder até 2036.
Viktor Yanukovych ganhou as eleições em 2004 e aí veio a onda de acusação que nós estamos acostumados a ouvir por essas bandas aqui, de que ele era corrupto e que tinha fraudado as eleições. Sem que fossem apresentadas nenhuma prova. Isto em nosso país, já havia acontecido com Getúlio, Juscelino, Jango e Lula, sempre governos de estrato mais popular. Nessa época acontece a chamada Revolução Laranja, organizada de fora para dentro, com o claro intuito de desestabilizar governos.
Ele acabou não tomando posse. Aí, o presidente e a primeira-ministra que são empossados, é um outro Viktor, o Yushchenko e, a primeira-ministra, Yulia Timoshenko. São pessoas absolutamente ligadas ao ocidente e que desejavam que a Ucrânia se vinculasse à União Europeia e se afastasse da Rússia e, se possível, aderisse à OTAN, para que fossem instaladas bases militares na fronteira com a Rússia. Passam mais alguns anos, em 2006, o Yanukovych volta ao poder pelo voto, mesmo sendo acusado de tudo isso, e consegue ser reeleito em 2010, quando as coisas começam a ficar diferentes no mundo.
A partir daí, nós sabemos o que que aconteceu. Em 2011 houve a tal Primavera Árabe e, dois anos depois no fatídico ano de 2013 onde, em novembro, começaram os protestos violentos na capital da Ucrânia, Kiev, com o objetivo de tirar do poder Viktor Yanukovych, mais próximo da Rússia. Ele nunca foi contra que a Ucrânia fizesse acordos com União Europeia. Era contra que tais acordos pudessem significar o rompimento de laços históricos com a Rússia.
Ele resiste o máximo que pode. Lembremos que em junho de 2013, no primeiro governo da Dilma, ocorrem as famosas e famigeradas jornadas de junho, que acusavam o governo tanto da Dilma, quanto do presidente Lula, de corrupção. Não acusavam de fraude, porque nunca houve fraude nas eleições no Brasil, depois que se implantou o sistema eletrônico.
Ele resistiu exatos 93 dias, desde que o país se levantou. O incêndio chegou literalmente à capital. Eles criaram o movimento chamado “Euromaidan”, literalmente: “Europraça” ou “Praça da Independência”, na capital de Kiev. Euro, porque era um movimento que queria jogar Urânia nos braços da União Europeia. Essas praças ficaram famosas como no Egito, por exemplo, no Cairo, a famosa Praça Tahir, que foi o berço da tal Revolução Árabe.
Nos últimos dias naquela última semana, antes do dia 22 de fevereiro, chegaram a morrer 67 pessoas. É um conflito entre esses militantes insuflados de fora para dentro. Como foi assim em tudo quanto é lugar. Essa é uma experiência que a CIA adquiriu, um grande know how que teve início em agosto de 1953, quando ela derrubou o primeiro-ministro mais popular da história do Irã, Mohamed Mossadeh. Eles têm tecnologia para isso. Financiam ONGs, dão dinheiro para sindicatos, corrompem parlamentares. E assim, tem tecnologia, tem cartilha que ensina a fazer isso. E, nesses 93 dias, culminaram com a morte de 67 pessoas. Yanukovych deve que cair fora do poder.
A partir daí, nós entramos em sete anos uma situação extremamente tensa na Ucrânia que perdura até os dias atuais. Por vários motivos. A região da Península da Crimeia, que é a parte da Ucrânia mais estratégica, não só pelas riquezas que ela possui, mas, por ser estar localizada ali onde fica a estratégica cidade de Sebastopol ou Sevastopol, em russo. E o que que tem nessa cidade? Tem a sede da poderosa Frota do Mar Negro da antiga União Soviética, que hoje é da Rússia. Então, a Crimeia é um local estratégico, ela fica no Mar Negro e do lado do Mar Azove, tudo fronteira. Banha de um lado a Ucrânia e a Crimeia, do outro lado da Costa, banha a Rússia.
Fizeram um plebiscito na Crimeia, ainda em 2014 e, os Estados Unidos não reconheceram o processo. Você sabe que eles têm um poder tão grande no mundo, que se eles não reconhecem, parece que não tem validade. O resultado foi impressionante. Votaram mais de 1,2 milhão de ucranianos da Crimeia, cujo resultado foi de 96,8% favorável a sair da Ucrânia e vincular-se à Rússia (2).
Então, a partir daí, a Ucrânia é governada por gente totalmente submissa ao imperialismo estadunidense. E, ela chega ao cúmulo de nos últimos meses, pedir o ingresso na OTAN. Isso é uma afronta à Rússia. O Putin não vai permitir e não pode permitir que isso ocorra. Isto significaria a Rússia ficar cercada de bases da OTAN. As bases da Organização estão da Ucrânia para trás. Isso não quer dizer que os mísseis da OTAN na atinjam a Rússia. Atingem! O problema é o deslocamento de tropas para invadir. O grande sonho é tomar a Rússia, não se iludam, o grande sonho do imperialismo é voltar a ser o mundo unipolar, onde só eles mandem.
Mesmo eu, sendo um dos analistas internacionais que tem batido na tecla que não é verdade que seja a mesma coisa Trump e Biden – e não é mesmo –, no entanto Biden jamais renunciará ao seu destino de ser chefe de um império e, que para que eles sejam hegemônicos, eles têm que destruir a Rússia e a China. Não é inexorável isso. Há até livros que preveem a guerra entre os Estados Unidos e a China: “Destinados à guerra” é a chamada “Armadilha de Thucydides” do professor Graham Allison, não tem tradução no Brasil (3).
Então, essa é uma situação hoje no mundo das mais tensas. Aí, o povo da Crimeia, que fala russo e ucraniano, diz: “nós não queremos ficar com a Ucrânia; nós queremos ficar com a Rússia”. Depois do Plebiscito – que os EUA e a tal “comunidade internacional’ não reconhece – a Rússia passa a administrar a região e mantém tropas ali.
Até hoje toda a imprensa que reverbera a opinião do império, como esses jornais da burguesia no Brasil, dizem que a Rússia “anexou” (sic) a Ucrânia. É uma barbaridade. O povo decide por quase unanimidade sair da Ucrânia e ir para a Rússia, e eles dizem que a Rússia anexou. Mas, é assim, os meios de comunicação. Ainda bem que nós temos nossos espaços que, por menor que sejam, onde nós contamos a outra versão.
Alguns autores chamam esses movimentos que aconteceram na Ucrânia, de Primavera Ucraniana. É preciso aqui registrar que a partir de 7 de abril do mesmo ano de 2014, a região do leste da Ucrânia, chamada de Donetsk, proclama a criação da República Popular de Donetsk.
Após 20 dias, outra região da fronteira com Donetsk – que são como se fossem províncias ou estados –, chamado Lugansk também declara-se independente da Ucrânia e proclama a sua República Popular de Lugansk. E, no mês seguinte, em 24 de maio, eles fundem estas duas repúblicas populares, e criam uma Novorossiya (Nova Rússia).
Eles criaram algo como se fosse um novo país: uma República Popular. E estão em guerra civil contra a Ucrânia, para expulsar as tropas ucranianas que ficam nessa região de fronteira com a Rússia. Ou seja, se a Rússia não puder recuperar a Ucrânia inteira, como um país amigo, que pelo menos recupere estes dois estados fronteiriços, o que dificultaria uma invasão por terra, porque você tem esse paredão de dois estados, que agora viraram um país, que também o mundo inteiro não reconhece, porque o imperialismo não reconhece.
Denominação do que ocorre na Ucrânia
Pelas pesquisas que fiz, apurei que existem cinco denominações do que está acontecendo ali. Vejam como modifica o ponto de vista, conforme for a instituição que analisa os fatos. Como é que a OTAN caracteriza o que acontece ali? Ela diz que é uma “guerra de soldados irregulares russos, contra a Ucrânia”. Soldados irregulares são os guerrilheiros de Lugansk e Donetsk.
Nesse conflito já morreram 7.500, entre guerrilheiros e a população civil, que está de armas na mão para sua independência. Eles não querem saber da Ucrânia. Do lado da Ucrânia, morreram cinco mil dos seus soldados regulares. Registramos um milhão de refugiados, 1,5 milhão de deslocados em uma população de pouco mais de 40 milhões de habitantes.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, tipo uma ONG, mas é vinculado à ONU, classifica aquele conflito como um “conflito armado não internacional”. Na verdade, é aquilo que os analistas chamam de guerra por procuração. Aquilo é uma guerra da Rússia contra os Estados Unidos, mas eles usam a Ucrânia e usam esses guerrilheiros que são apoiados pela Rússia, que fornece apoio logístico, material, inteligência, comunicações.
E como é que a Rússia e a Agência Reuters de notícia que é a maior é do mundo, como é que eles classificam o que acontece ali? Dizem simplesmente que é uma Guerra civil. E, por fim, o Parlamento Unicameral da Ucrânia, que lá chama Verkhovna Rada, que é uma espécie de Conselho Supremo, é o Poder Legislativo Unicameral, ele afirma que o que acontece ali, é uma guerra da Rússia contra a Ucrânia.
Qualquer que seja a interpretação, nós internacionalistas temos lado. Eu estudo conjuntura internacional há muitos anos. Minha análise não é neutra, eu tenho lado. Este fato de ter ou não ter um lado, não me torna cego, porque eu sou dialético, sou marxista. Ter um lado significa tomar posição e ser solidário. E qual é o lado neste conflito? Seja lá o nome que ele tenha, eu escolho ficar ao lado dessas repúblicas populares que querem sua independência, ficar ao lado da Rússia, que é contra a Ucrânia entrar na OTAN. Me coloco contra o governo da Ucrânia, hoje uma serviçal da União Europeia e dos EUA.
Qual é o pano de fundo desse conflito?
O pano de fundo é a luta por um mundo multipolar, contra a hegemonia dos Estados Unidos, que a Rússia defende, que a China defende. Temos que entender que Biden tem um duplo papel a cumprir. Ele é presidente de um país, mas é chefe de um império. Internamente pode estar até fazendo um governo progressista – acho que ele será mais keynesiano que Roosevelt. Agora mesmo, ele antecipou para 19 de abril, a finalização das duas doses da vacina em toda a população adulta dos Estados Unidos. Hoje, morrem nos Estados Unidos uma média de 700 pessoas por dia. Morriam quatro mil. Hoje isso acontece no Brasil, onde por dias, já ultrapassamos os quatro mil mortos.
Então, internamente ele age de uma forma mas, externamente, ele age de outra forma. Porque ele está destinado, ele tem que cumprir um papel que se não cumprir esse papel, ele é substituído, ele é derrubado. Eles não derrubam por impeachment. Lá eles matam. Quatro assassinados em 46 presidentes. Quatro outros foram vítimas de atentados, mas não morreram. Então, se eles não conseguem matar, eles não reelegem. Esse é o sistema do império.
Então, ele vai ter que emparedar, vai ter que enfraquecer e, se possível, liquidar a China e a Rússia. Este é o pano de fundo. Muitos me perguntam se aquilo pode virar um conflito de proporções que possa atingir uma caracterização de uma guerra mundial. Eu não vou dizer que sim, mas também não vou dizer que não. Supondo que a Ucrânia use toda a sua força militar e ainda peça ajuda para a OTAN, para esmagar estes guerrilheiros, dessas repúblicas populares, ali na fronteira. O que fará a Rússia?
A Rússia está deslocando centenas de blindados para aquela região. Esses blindados, caminhões e tanques são deslocados por trem. Centenas de vagões carregados de blindados, que já estão ali estacionadas na fronteira. Quatro ou cinco generais de alta patente do exército Russo já se deslocaram para a fronteira e para a Crimeia, que é do outro lado do Mar Azove. Pode acontecer de a Rússia responder? Pode! E, se a Rússia responder, como agirão os Estados Unidos? Nós estamos na iminência de assistir à primeira guerra na gestão Biden. Clinton e Obama, democratas, fizeram várias, o Trump não começou nenhuma, mas manteve todas que estavam em andamento.
O Trump se elegeu em novembro de 2016, dizendo que em janeiro de 2017 quando tomasse posse, iria retirar as tropas da Síria, mas não fez isso. O Biden não sei se fará. Anunciou no dia 7 de abril, que vai retirar do Iraque. Lá tem cinco mil soldados. Na Síria ele tem de dois a quatro mil. Eles dizem que essas tropas na Síria são para combater o Estado Islâmico e o terrorismo, o que é uma mentira. Os EUA apoiam os terroristas.
Nunca usem o termo que a Síria vive uma guerra civil que ser você ofenderá o povo sírio. Muito mais de 90% dos sírios têm consciência e sabem que aquilo não é uma guerra civil de sírios contra sírios, é uma guerra do imperialismo que usa mercenários e terroristas, vindos de fora para dentro, para poder derrubar o governo sírio. Perderam a guerra, não conseguiram. Destruíram o país inteiro, como destruíram o Iraque. Como destruíram o Líbano.
Assim, não tenho a menor dúvida, na conjuntura mundial atual que o conflito na fronteira russo-ucraniana, se insere no mesmo contexto da tensão que se vive no Mar do Sul da China e mais recentemente o conflito na fronteira venezuelana-colombiana. Ele é parte de uma luta renhida entre o imperialismo estadunidense que quer continuar a sua hegemonia, contra os que defendem um mundo multipolar, como a Rússia, a China e todos os patriotas, democratas, comunistas, socialistas, cristãos e muçulmanos, por um outro mundo, justo, solidário, com equilíbrio de forças e com paz e desenvolvimento.
1. Os estatutos da OTAN dizem que para um país ser admitido na sua estrutura militar ele não pode ter em seu território nenhum conflito militar que se assemelhe a uma guerra civil como ocorre hoje;
2. Para mais informações acesso este link: https://glo.bo/2POxKEy;
3. ALLISON, Graham. Destined for war: can America and China escape Thucydides’ trap? Boston, New York: Mariner Books, 2017, 364 páginas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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