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Paulino Cardoso

Historiador, analista geopolítico e Editor do Mundo Multipolar

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Crise na Geórgia: Otan deseja uma nova frente para a Rússia

Algo nos diz que em algum momento o Kremlin será obrigado a dar uma resposta contundente aos líderes ocidentais

(Foto: Reuters)

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Por Paulino Cardoso - Geórgia é um pequeno e antigo país no ponto de encontro entre a Ásia e a Europa. Faz fronteira com Turquia, Armênia, Azerbaijão e a Rússia. Banhada pelo Mar Negro, possui cerca de 3,7 milhões de habitantes, sendo conhecida desde a antiguidade pelos seus metais preciosos e seus famosos vinhedos. 

Infelizmente, sua geografia, tornou-a atraente para os impérios romanos, persas, otomanos, russos, entre outros, transformando- a em um grande campo de batalha por séculos. 

Após a independência da União Soviética em 1991, o país viveu atribulados conflitos políticos, inclusive uma guerra civil envolvendo as regiões autônomas de Abecásia e Ossétia do Sul. No século XXI, o país sobreviveu a uma operação de mudança de regime, chamada de Revolução das Rosas em 2003, que levou a presidência da república  Mikhail Saakashvili e com ele uma aproximação com o Ocidente e um conflito com Rússia, que veio em defesa das minorias russas presentes em Ossétia do Sul e Abecásia em 2008.

Sua posição estratégica na fronteira Sul da Federação Russa, tornou-a alvo de grande investimento Ocidental. Lar de cerca 25 mil organizações não-governamentais, o Ocidente chegou ao ponto de converter a antiga embaixadora francesa, nascida em Paris, Salomé Zubashvili, em presidente da nação desde 2018. Não por acaso o país é candidato a ingressar na União Europeia e na Organização do Tratado do Atlântico Norte. 

Qual o problema? A presidenta não controla o parlamento que, inspirado em uma legislação russa, mas que também existe nos EUA, aprovou uma lei que obriga que as associações civis e meios de comunicação que recebam mais de 20% de financiamento externo, tenham que se registrar como  agente estrangeiro no Ministério de Relações Exteriores.

De acordo com reportagem da TeleSur, 80% do dinheiro que financia os meios de comunicação social e as organizações não governamentais na Geórgia não são transparentes e podem ser utilizados para ações de desestabilização, recordando as eleições parlamentares de 26 de outubro que ocorreram ainda este ano.

O Presidente do Parlamento georgiano, Shalva Papinashvili, salientou que “para que as organizações sem fins lucrativos (ONG) georgianas participem na tomada de decisões a todos os níveis e gozem de influência sobre a vida pública, devem fornecer um padrão básico de transparência”.

“A população deve saber quem ampara cada ator. Isto é verdade para as instituições estatais, isto é verdade para os partidos políticos, isto é verdade para os funcionários públicos, e isto também deveria ser verdade para as organizações sem fins lucrativos. A transparência financeira de todos estes intervenientes-chave no círculo de tomada de decisão é um princípio básico”, observou.

Esse foi o motivo para a promoção de uma Euromaidan 2.0. Milhares de manifestantes se reúnem diariamente em frente ao parlamento, portando a bandeira da União Europeia. Os mesmos métodos previstos por Gene Sharp (Da Ditadura À Democracia: Conceitos Fundamentais Para A Libertação 2018), pessoas com capacetes, rosto coberto e slogans a provocar as autoridades policiais. Apoiados por funcionários do Departamento de Estado dos Estados Unidos e da Comissão Européia, de toda mídia corporativa nacional e internacional, além das famosas ONGs. 

Nas manifestações, nos lembra Larry Johnson, ex-analista da CIA, que os ministros dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, da Estónia e da Islândia viajaram para Tbilissi e juntaram-se aos protestos, proferindo discursos perante multidões fervilhantes, denunciando as ações da legislatura georgiana.”

Kit Klaremberg, em reportagem para o GrayZone, afirma que uma atmosfera política sombria paira sobre a capital georgiana, Tbilisi, e torna-se mais sinistra a cada dia. Um comissário da UE disse  ao primeiro-ministro Irakli Kobakhidze que sofrerá o destino de Robert Fico, o líder eslovaco que ainda luta pela sua vida após uma  tentativa de assassinato  por parte de uma extrema-direita ucraniana. Os legisladores dos EUA tomaram medidas para sancionar os membros do partido governante Georgian Dream e, no parlamento, em 14 de maio, o deputado da oposição Tako Charkviani  ameaçou: “acredite em mim, haverá uma revolução colorida na Geórgia”.

Aprovada em 14 de maio, vetada quatro dias depois, em 28 de maio o veto foi derrubado pela maioria esmagadora dos deputados. Assim, , a lei entrará em vigor quando assinada pela presidenta, ou caso recuse, pelo presidente do parlamento. Neste meio tempo, Estados Unidos e União Europeia, por suas agências (NED, USAID, entre outras) intensificarão a mobilização da classe média georgiana.

O que está em jogo? Diante do fracasso da ofensiva de verão do Exército Ucraniano, na qual  se estima foram perdidos  cerca 150 mil soldados. E, por sua vez o avanço constante da Federação Russa, com conquistas de cidades estratégicas como Avdiivka e ameaçar Cracóvia, a segunda cidade mais importante da Ucrânia. A liderança ocidental pretende dobrar a aposta. Em primeiro lugar, autorizando o uso de armas doadas capazes de atingir as profundezas do território russo. De outro, promover uma mudança de regime que obriga abertura de mais uma frente de combate na fronteira sul, sob o risco de deixar vulneráveis as populações russas da Ossétia do Sul e da Abecásia.

Algo nos diz que em algum momento o Kremlin será obrigado a dar uma resposta contundente aos líderes ocidentais, sob pena de ser ele próprio desestabilizado. Aguardemos….  

Fonte: 

Telesur. Geórgia. Parlamento georgiano anula veto à lei sobre agentes estrangeiros. Resumo Latino-Americano em 28 de maio de 2024.

https://www.resumenlatinoamericano.org/2024/05/28/georgia-parlamento-georgiano-anula-veto-a-ley-sobre-agentes-extranjeros/

Larry C. Johnson. Georgia in my mind.

https://reseauinternational.net/georgia-on-my-mind/

Kit Klarenberg. Geórgia. Ativistas dos EUA e da UE promovem a revolução colorida em Tbilisi.Resumo Latino-Americano, 29 de maio de 2024.

https://www.resumenlatinoamericano.org/2024/05/29/georgia-activistas-de-estados-unidos-y-la-ue-impulsan-la-revolucion-del-color-en-tbilisi/

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