Cuidado, Regina Duarte... Cuidado, Brasil...
"Não tenho dúvida em duvidar de sua capacidade de gestão. Uma coisa é gerir fazendas e estábulos, outro é gerir uma instituição pública de delicada complexidade como deve ser a da estrutura de governo destinada a cuidar, ao menos em tese, das artes e da cultura", diz o colunista Eric Nepomuceno, membro do Jornalistas pela Democracia
Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia - Em primeiro lugar quero esclarecer que ao longo da vida tive pouquíssimos contatos com Regina Duarte, que foram sempre cordiais e agradáveis. Duvido, aliás, que ela se lembre de mim.
Portanto, o que digo aqui não tem nada de pessoal a favor ou contra.
Pois continuo convicto de que, para Jair Messias e seu projeto de país, muito mais, muitíssimo mais útil e conveniente do que Regina Duarte poderá tentar ser, era mesmo Roberto Rego Pinheiro, o que se diz “Alvim”. Para Jair Messias e os militares empijamados que perambulam à sua volta, para Moro e Guedes e o resto da corja, uma perda inestimável.
Para fortalecer minha convicção, basta ver a maneira que Regina Duarte inventou para chegar ao governo: falou em “noivado”, uma leviandade sem graça quando o que temos pela frente é um funeral, e disse que quer “pacificar” a relação do governo com a classe artística e cultural.
Ora, ora: para Jair Messias, a única forma de “pacificar” sua relação com a classe artística e cultural ou com quem for, é a submissão absoluta aos seus desvariados surtos de desequilíbrio, ou então a paz dos cemitérios.
O grande erro de Rego Pinheiro, o tal “Alvim”, foi ter aberto o jogo. Único e solitário erro, porque todo o resto de sua brevíssima gestão foi, aos olhos do que pretendem Jair Messias, o clã miliciano-familiar e todo o resto do governo, exemplar. Uma capacidade de destruição comparável apenas, e justamente, à de Adolf Hitler.
Ao escancarar a afinidade íntima do governo com o nazismo, o infausto aspirante à glória das glórias, o ressentido extremo que, sabe-se lá a troco de quais aspirações, enterrou uma carreira que até que era interessante, despencou de vez para os porões da história.
Há uma única, isolada e solitária distância entre ele, Jair Messias e o clã familiar: Rego Pinheiro ao menos leu e entendeu o que tinha lido. Tanto assim que disse “assinar embaixo” o conceito cultural e propagandístico de Joseph Goebbels.
Jair Messias e seus filhos hidrófobos e seus seguidores apatetatos e patéticos e bizarros não só jamais tinham ouvido falar do alemão como jamais leram nada de nada.
Pois vamos lá, Regina Duarte: o perigo não estava no Rego Pinheiro que se faz chamar de “Alvim”, está no desequilibrado que ocupa a poltrona presidencial. E além do desequilibrado, o grande perigo não era nem é o defenestrado: o grande perigo atende pelos nomes de duas figuras abjetas, Sérgio Moro e Paulo Guedes. O resto, ou é inutilidade, ou bobagem.
Confesso, Regina, que me atrevo a pôr em dúvida, séria dúvida, seu preparo e sua formação para ocupar o posto que corresponderia ao de ministro da Cultura. E não tenho dúvida em duvidar de sua capacidade de gestão. Uma coisa é gerir fazendas e estábulos, outro é gerir uma instituição pública de delicada complexidade como deve ser a da estrutura de governo destinada a cuidar, ao menos em tese, das artes e da cultura.
Ah, tem mais: uma coisa é se declarar “conservadora” e outra, radicalmente contrária, é apoiar e ir trabalhar num governo de ultradireita, fundamentalista em seu reacionarismo mais absoluto.
Há uma distância essencial, Regina, entre um conservador e um reacionário. E parece que você não sabe disso. Jair Messias não é conservador. Aliás, nem é reacionário: é uma aberração.
É primata, tem tudo de nazista embora nem saiba direito o que isso quer dizer. Tanto assim que seu ministro de Aberrações Exteriores, e depois ele mesmo, disseram que o nazismo era de esquerda...
Cuidado, Regina: você corre o sério risco de mergulhar fundo no lodo irremediavelmente enlodaçado do desprezo.
Cuidado, Brasil: parece que ela gostou da ideia.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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