De onde vem a força de Eduardo Cunha
Se o Palácio do Planalto decidir buscar seu apoio em troca de cargos na administração federal, correrá o risco de ser humilhado publicamente
Derrotado e isolado na disputa da Câmara dos Deputados, depois da temerária aposta numa candidatura própria do PT, o governo federal cometerá um erro ainda maior se tentar, agora, após o leite derramado, compor com o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) usando os métodos da chamada "velha política". Se o Palácio do Planalto decidir buscar apoio em troca de cargos na administração federal, correrá o risco de ser humilhado publicamente.
Durante anos, Cunha foi rotulado por seus adversários, dentro e fora do governo, como um "chantagista profissional". Justa ou injusta, a crítica o apontava como alguém sempre disposto a barganhar favores, em troca de facilidades ou dificuldades no processo legislativo – que, como todos reconhecem, Cunha conhece a fundo.
A partir de agora, o novo presidente da Câmara dos Deputados construirá uma nova imagem. Sua força, diante de quem o elegeu, não derivará de cargos em empresas estatais ou postos de comando nos fundos de pensão. A força de Cunha é consequência direta da independência do Parlamento. Quanto maior a distância em relação ao Planalto, mais forte ele será.
Não por acaso, em sua primeira semana, ele leu o requerimento que permitirá a criação de uma nova CPI da Petrobras. Além disso, sinalizou como agirá em temas como a reforma política, a regulação dos meios de comunicação e o orçamento impositivo – na maioria das vezes, fora de sintonia com o Palácio do Planalto.
A insubmissão de Cunha não significa, porém, que ele tenha fechado com a oposição. Especialmente no tema que mais interessa a alguns de seus líderes, que é o eventual impeachment de Dilma Rousseff. Cunha diz ter uma posição de mérito sobre o caso. Jamais permitirá a abertura de processo sobre o que aconteceu no governo passado. A partir de agora, a conta está zerada.
No mesmo dia em que leu o requerimento da nova CPI da Petrobras, Cunha foi recebido por Dilma e pelo vice Michel Temer no Palácio do Planalto. Não estava ali como quem se apresenta para uma eventual cooptação. Ele, que se tornou a terceira pessoa na linha de sucessão da República por mérito próprio, sem dever favores a ninguém, quer também governar, na parte que lhe toca. Pela primeira vez em muito tempo, o Legislativo voltará a legislar. O que significa que o centro de gravidade do poder começa a se deslocar em Brasília.
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