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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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Desistam. O Brasil Não Vai Importar Guerra

O Brasil não desistirá. Não desistirá da paz. Não abandonará os princípios da solução pacífica das controvérsias e o da não intervenção

Mauro Vieira, Lula e Gaza ao fundo (Foto: ABr | Ricardo Stuckert/PR | REUTERS/Mohammed Salem)

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O jogo geopolítico mundial é pesado e implacável.

Há uma pressão enorme sobre os países do chamado Sul Global para que se alinhem a determinados interesses, par que “escolham” um “lado” de algum conflito, como o da Ucrânia e o de Gaza. 

Essa pressão inclui desinformação, sabotagens políticas, vetos inexplicáveis, ações diversionistas, insultos diplomáticos, intromissão em assuntos internos etc. Em última instância, a pressão pode se transformar em derrubada de governos, sanções econômicas ou intervenções militares.

O noticiário recente evidencia que o Brasil vem sendo bastante pressionado a abandonar sua posição de equilíbrio em relação ao conflito israelo-palestino, sua política pragmática no Oriente Médio e seu empenho na busca da paz.

Essa pressão tem, evidentemente, aliados internos importantes, como a oposição bolsonarista, sempre empenhada no ódio e no confronto. 

Mas o Brasil não cederá. 

Nosso país sempre teve uma política equilibrada, racional e legalista, no que tange àquele conflito. Só a abandonou, transitoriamente, no governo Bolsonaro. Agora, no novo governo Lula, a posição histórica do Brasil foi resgatada. 

E foi resgatada porque é a política correta. É a política consentânea com os princípios constitucionais que regem nossa política externa. É a política que espelha a alma do Brasil. 

Em 2010, quando Lula realizou a primeira visita de um Chefe de Estado brasileiro a Israel, ele fez um discurso no Knesset, o parlamento israelense, no qual defendeu a convivência pacífica entre um Estado israelense e um Estado palestino, conforme o que apregoa a ONU e a maioria da comunidade internacional, e lembrou da convivência pacífica entre árabes e judeus no Brasil. 

Lembrou que a paz era possível. Que a tolerância é o caminho.

Desde o Barão do Rio Branco, o Brasil procura resolver conflitos pacificamente e por meio de conversas. Negociações são o nosso negócio. E o fazemos bem, muito bem. 

Ao mesmo tempo, procuramos manter boas relações com todos os países, com base no respeito recíproco. Não descriminamos ninguém. Não dividimos o mundo entre o “Bem” e o “Mal,” de forma maniqueísta e obtusa. Deixamos isso para a mitologia moderna, para os fãs de Guerra nas Estrelas.

Temos bússola. Sabemos que o Sul é o nosso Norte.

Assim, os 34 brasileiros poderão ficar em Gaza por tempo indefinido. O embaixador de Israel poderá se reunir por quantas vezes desejar com Bolsonaro, afrontando o governo brasileiro e o artigo 2.4 da Carta das Nações Unidas. Os EUA poderão vetar quantas Resoluções humanitárias quiserem. Poderão surgir muitas “ameaças terroristas”, reais ou imaginárias. Poderão tentar nos indispor com alguns países, com os quais temos boas relações. Relações centenárias. 

Não há carência de cinismo na ordem mundial. 

Porém, o Brasil não desistirá. Não desistirá da paz. Não abandonará os princípios da solução pacífica das controvérsias e o da não intervenção. Não virará as costas para o Direito Humanitário Internacional. 

O Brasil não vai desistir de tentar salvar vidas. De proteger civis indefesos e crianças. 

Nosso país, nos governos Lula, sempre se esforçou em ampliar o comércio externo. Contudo, o Brasil, nesses governos, nunca importou e jamais irá importar a guerra de ninguém. Esse seria um erro monumental. Temos a nossa paz. Gostamos dela. Uma doce jabuticaba que oferecemos ao mundo.

Aqui, palestinos e judeus, cristãos e muçulmanos, continuarão a viver em harmonia. 

O Brasil continuará alinhado consigo mesmo. Com seus interesses próprios. 

O Brasil continuará do lado certo da História.

Desistam.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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