"É falso dizer que o Brasil vai emprestar dinheiro para a Argentina”, diz embaixador

O novo embaixador do Brasil na Argentina, Julio Bitelli, chamou de “falsas” as afirmações de que o Brasil emprestaria dinheiro para o país vizinho. Em entrevista à TV 247, Bitelli afirmou que a ideia seria financiar exportações de empresas brasileiras para a Argentina, que carece de divisas para pagar o que compra do exterior.

“Às vezes há uma percepção equivocada de que haveria um empréstimo ou algo sem retorno. É uma ideia completamente falsa. Quando se fala de financiamento e isso é muito importante para que as pessoas entendam que é para que os exportadores brasileiros possam continuar exportando para a Argentina. Quer dizer, no fundo é algo que é do nosso interesse”, disse Bitelli, na entrevista em seu gabinete em Buenos Aires.  Ele deixou claro, porém, que não há hoje qualquer financiamento definido e que qualquer medida obedeceria “regras técnicas e institucionais” do Brasil.

Na longa entrevista durante o programa ‘Brasil Agora’, conduzido por Dhayane Santos, o embaixador falou sobre a importância da relação bilateral – (que tinha ficado estancada ou até caminhado de ré durante o governo Bolsonaro). “A gente nunca deveria ter perdido a relação com a Argentina, que é uma relação pra nós muito importante em vários níveis e que durante um tempo acabou ficando menos prioritária do que historicamente foi e que nunca deveria deixar de ser”, disse Bitelli.

Entre os desafios está o de recuperar a balança comercial que caiu quase pela metade nos últimos dez anos. Dos cerca de U$ 40 bilhões, há uma década, agora o patamar, já em recuperação nestes seis meses do governo Lula, está em torno dos US$ 28 bilhões. A Argentina é o principal destino dos produtos industriais brasileiros. E o Brasil é o principal sócio da Argentina em termos globais. A falta de diálogo, durante o governo anterior, pode ter contribuído para o menor comércio e, portanto, para a retração na  geração de postos de trabalho neste âmbito dos dois países. “A preocupação do governo brasileiro é recolocar a integração sul-americana no trilho. Ela tinha sido completamente descarrilada”, disse o diplomata brasileiro. Bitelli é um conhecedor da América Latina. Foi diplomata no Uruguai, na Bolívia, na Colômbia e na própria Argentina (neste caso, antes de ser embaixador).

O objetivo da diplomacia brasileira, como o presidente tem deixado claro, é intensificar, cada vez mais, a relação com os países da região. Uma das primeiras mostras desta importância foi o fato de a Argentina ter sido o destino da primeira viagem internacional do presidente Lula, logo após a posse em janeiro.

Bitelli entende que o diálogo é fundamental para que a relação bilateral volte a ser energizada, fortalecida – diálogo e sinceridade, disse ele. No caso do gasoduto argentino, chamado Néstor Kirchner, que teve a primeira etapa inaugurada no dia 9 de julho e que prevê o fornecimento de gás para o mercado brasileiro, Bitelli afirma que será positivo para os dois países e para a América Latina como um todo – ‘porque a questão energética é cada vez mais estratégica no mundo todo’. Ao mesmo tempo, para ele, a era das exportações dos recursos naturais da nossa região, sem valor agregado, deveria ser superada. “Esse papel de quase neocolonial, isso já não tem mais cabido no mundo de hoje, não há a menor dúvida”, disse o novo embaixador do Brasil na Argentina.