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    Moisés Mendes

    Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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    E se Bolsonaro invadisse os cemitérios?

    "Parece que não há como imaginar nada mais cruel do que a comemoração do suicídio de um cidadão que integrava o grupo disposto a contribuir para a descoberta de uma vacina. Mas para Bolsonaro há", diz o colunista Moisés Mendes. "Que os mortos nos protejam, porque os vivos se comportam como se já tivessem morrido"

    Jair Bolsonaro e enterro de pessoas mortas por Covid-19 (Foto: Reuters)

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    Depois de comemorar um suicídio, para assim festejar o que achava ser uma vitória política, que outro desatino ainda mais macabro Bolsonaro pode cometer?

    Parece que não há como imaginar nada mais cruel do que a comemoração do suicídio de um cidadão que integrava o grupo disposto a contribuir para a descoberta de uma vacina. Mas para Bolsonaro há.

    Um roteiro macabro poderia incluir a invasão de cemitérios, com ele à frente de hordas enlouquecidas, para atacar os mortos que fraquejaram diante da pandemia, os maricas que comprometem a imagem de um Brasil macho.

    Veríamos cenas de Bolsonaro gritando maricas, maricas, maricas, e seus seguidores desferindo golpes nos túmulos dos que ele define como fracos e que por isso sucumbiram à peste.

    Não considere improvável que as hordas bolsonaristas, que invadiram hospitais e agrediram enfermeiras, possam profanar as áreas de covas compartilhadas onde estão os restos dos maricas miseráveis.

    Não se esforcem para duvidar. Tudo ainda pode acontecer, porque os vivos não impõem limites a Bolsonaro. Faltam limites pela frouxidão das estruturas que deveriam enquadrá-lo.

    Faltam limites pela fraqueza e pela ausência de imposição das instituições, do Congresso, da Justiça, das universidades, dos estudantes. Ausência de limites por omissão e por apatia.

    Bolsonaro poderá, daqui a pouco, assoprar velinhas ao lado dos filhos quando a pandemia tiver matado 200 mil brasileiros. Eles farão a festa e não acontecerá nada.

    O Brasil não tem, como tiveram os bolivianos e os chilenos, força para reagir. Vamos ouvir ministros do Supremo condenando Bolsonaro por atacar os mortos em seus túmulos.

    Ouviremos Rodrigo Maia batendo forte em Bolsonaro. Mas Rodrigo Maia está sentado sobre mais de meia centena de pedidos de impeachment de Bolsonaro. Maia é apenas um trovador.

    Se amanhã Bolsonaro invadir cemitérios, a OAB emitirá uma nota. Artistas da Globo assinarão manifestos. E jornalistas escreverão textos indignados, como esse que escrevo agora.

    Mas nada serve para mais nada. Serve apenas para produzir mais indignação. E a indignação pela indignação é o diversionismo dos acovardados. O covarde acha que a indignação o absolve de todo o resto.

    O Brasil não fará nada além de se indignar, se amanhã Bolsonaro decidir reabrir as covas com os mortos pela Covid, para expor os cadáveres dos maricas.

    E nada acontecerá se ele disser que vai impedir a distribuição de qualquer vacina, chinesa ou inglesa, na rede pública, para maricas que ainda temem a pandemia.

    Nada mais contém Bolsonaro. Toda a família Bolsonaro debocha do Brasil que apenas se espanta com seus crimes. Queiroz debocha. Ronnie Lessa está na cadeia, mas debochando.

    Os Bolsonaros sabem que os apelos pelo impeachment não dão em nada. Que os processos no Supremo não andam. Que todos os fascistas investigados pelos atos pró-golpe e pela fábrica de fake news continuam soltos. Que Flavio Bolsonaro tem certeza de que continuará impune.

    Os Bolsonaros sabem que a única instituição capaz de enfrentá-los é o bravo Ministério Público do Rio. A única instituição que ainda resiste.

    Mas até quando? Qual é a capacidade de resistência do MP do Rio diante do poder e da impunidade dos Bolsonaros?

    Que os mortos nos protejam, porque os vivos se comportam como se já tivessem morrido.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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