Elon Musk e o bolsonarismo que vai da deficiência cognitiva ao mau-caratismo, passando pelo transtorno mental
"Uma distopia que consegue harmonizar fascismo e fundamentalismo religioso com democracia e liberdade de expressão", escreve Ricardo Nêggo Tom
Acreditar que um bilionário racista, misógino, egocêntrico e desonesto esteja preocupado em defender a liberdade de expressão no Brasil é o ponto X da identificação bolsonarista com o que há de mais fascista sob o Sol na atualidade. Parece que os patriotas e cidadãos de bem, que depositavam suas esperanças golpistas em orações feitas a pneus e invocações de seres alienígenas através da lanterna de seus celulares, finalmente foram atendidos pelo deus que, ao lado da pátria e da família, compõe o slogan originariamente nazista utilizado por Hitler para seduzir o gado alemão que o devotou como salvador, e que os bolsonaristas adotaram com total propriedade como seu.
Dentro dessa distopia transtornada que consegue harmonizar fascismo e fundamentalismo religioso com democracia e liberdade de expressão, podemos entender que Jair Bolsonaro foi uma espécie de João Batista que veio anunciar o verdadeiro salvador da pátria brasileira: Elon Musk. Aquele ao qual Bolsonaro não é digno de amarrar as sandálias de ouro e diamante que costuma calçar em sua extravagância capitalista. Silas Malafaia gravou um vídeo agradecendo a intervenção divina do dono da Tesla sobre a nação brasileira; parlamentares bolsonaristas, como Nikolas Ferreira, o projeto de bestinha apocalíptica da extrema-direita, estão interagindo com Musk via X e simulando um diálogo libertário contra o que eles chamam de ditadura da toga. A "toga da milonga do PT" usada por Alexandre de Moraes. Um devaneio, se não fosse puro mau-caratismo e desonestidade intelectual.
O gado está efusivo e em polvorosa. Elon Musk é a nova “72 horas” para Bolsonaro derrubar Xandão, golpear o país e reassumir o poder. Precisou um estrangeiro tomar as dores do povo brasileiro e defender a sua democracia, estão dizendo os bolsominions menos otimistas. Os mais confiantes já acreditam que Musk irá destituir Lula, fechar o Congresso, decretar novas eleições, declarar Bolsonaro presidente, nomear Allan dos Santos e Monark como novos ministros da Suprema Corte e instituir a ideologia de Silas Malafaia como a religião oficial do país. A epopeia dos sonhos de todo fascista brasileiro. De fato, Musk é o que podemos de um legítimo bolsonarista, daqueles que gostam de cantar de galo no terreiro dos outros, mas vê outro galo enquadrá-lo em seu próprio território. Nos EUA, o menino mimado Elon não se cria. Ele tentou processar e censurar diversas entidades e pesquisadores que faziam críticas ao comportamento do seu “X”, mas perdeu os processos nas cortes americanas.
Apesar do revés diante da justiça norte-americana, não se pode negar que Musk representa um sério risco à soberania dos países onde se instala com suas empresas, pelo fato de ele deter o poder sobre os meios de produção de linguagem nos dias atuais. E quem domina a linguagem utilizada pela população nas redes sociais pode ter essa população em suas mãos. Basta observarmos o crescimento da extrema direita - a ideologia defendida por Elon - no mundo inteiro, e não apenas no Brasil. Por trás dos ataques do bilionário ao Ministro Alexandre de Moraes, e, mais recentemente, ao presidente Lula, ao qual sugeriu estar sendo mantido na “coleira” por Moraes, possivelmente, sob alguma chantagem, existe o start de ações coordenadas para viabilizar e legitimar a sua manifestação como uma defesa da democracia brasileira.
Ao ser enquadrado por Moraes e se ver sob o risco de ter a sua rede X banida do país e o contrato da sua empresa Starlink revisto pelo governo, Musk dobra a aposta atacando Lula e declarando que fornecerá internet de graça para todas as escolas públicas do país, para provar que os seus “princípios” não estão acima do lucro de suas empresas. Um blefe que o governo precisa pagar para ver até onde vai todo o altruísmo e abnegação de uma das figuras mais sórdidas da extrema-direita mundial e do capitalismo. Vale lembrar que os contratos firmados pela Starlink no Brasil foram sob o governo Bolsonaro visando atender 19 mil escolas de áreas rurais do país, além de monitorar o desmatamento e os incêndios ilegais na Amazônia. O mesmo que colocar Nero para impedir alguém de incendiar Roma. O alinhamento de Elon Musk com o bolsonarismo é um projeto colonizador que deve ser refutado com todas as forças pelo atual governo e pelos poderes constituídos do país.
Alexandre de Moraes precisa contar com o total apoio do campo progressista neste momento, se não quisermos ter um novo 08/01 com a participação de bolsonaristas vindos de Marte ou de outros planetas já colonizados pelo excêntrico ricaço defensor da liberdade de expressão universal. O claro intento de Musk de fragilizar e descredibilizar nossas instituições democráticas, sobretudo, o STF, conta com o apoio total e irrestrito dos golpistas daqui. O autoritarismo que ele acredita poder exercer em qualquer país, graças ao seu capital financeiro, não pode ficar sem uma resposta à altura, da mesma forma que não deve ser subestimado, em se tratando de um Brasil que ainda vive sob a ameaça constante do bolsonarismo e numa constante luta pela estabilização de sua democracia. A soberania nacional está em risco e o Estado democrático de direito precisa ser defendido pelo governo e pela sociedade. Ou, pelo menos, pela sua parte que não é golpista pela própria natureza.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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