Em nome de Deus ardemos no inferno
O ministro da Educação foi flagrado em uma pregação pecaminosa, escreve o jornalista Weiller Diniz
Por Weiller Diniz - A cada dia abrem-se novas e abrasivas fendas no inferno bolsonarista recendendo o enxofre nauseante. Os pecados, a degeneração, as vilanias, os crimes, as infâmias e as mortes vão se acumulando sem castigo. Escancarados os umbrais das profundezas, padecemos no submundo da escuridão, das moléstias e das maldições. Jair Bolsonaro evangeliza diabolicamente nas trevas. É o pároco dos salteadores, pastor dos malfeitores, preceptor dos infames, idólatra de ditadores, vigário do caos, professante dos golpes, blasfemador da democracia, clérigo dos ogros, sacerdote da morte, cardeal da mentira e pontífice da estupidez.
Ocioso e rudimentar, prega o evangelho das calamidades, dos flagelos e do obscurantismo, embrenhando o País no mais profundo dos abismos. Nesse mergulho vertiginoso os golpistas, ladrões, fascistas e assassinos comungam em uma catedral confortável e cometem crimes. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, foi a anunciação da seita mefistofélica em 2018, tendo vários demônios como seguidores.
O ex-ministro da Educação não sabia escrever, errava nas contas e pregou a prisão dos “vagabundos” do STF. Sacrilégios irremissíveis. O atual, cujo nome não era pronunciado até recentemente, também exorciza as universidades e excomunga o conhecimento. O evangélico, protegido pelas sombras da prelazia ministerial, mostrou-se devoto de cultos satânicos com o dinheiro público, repassando-os aos poucos eleitos em razão da servidão ao bezerro de ouro.
A missa macabra iluminou hereges, sacerdotes que extorquiam muito além do dízimo e profanaram a hóstia pública ao restringi-la aos fiéis do bolsonarismo. Na penitência, o prefeito da cidade de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga, confessou que o pastor Arilton Moura – missionário do gabinete paralelo na Educação -, cobrou R$ 15 mil antecipados para abençoar as súplicas da cidade junto a diocese ministerial. Pediu também a caridade de um quilo de ouro após a liberação dos recursos para construção de escolas e creches. Outros prefeitos também se ajoelharam na basílica do crime. Afinal, é dando que se recebe.
Flagrado em uma pregação pecaminosa, divulgada pela imprensa, o apóstolo da Educação, Milton Ribeiro, aparece doutrinando heresias constitucionais e legais, onde o governo federal prioriza as prefeituras fidelizadas a dois pastores que, mesmo sem cargos na paróquia do MEC, atuavam como uma ordem religiosa secreta para obtenção de verbas. Segundo a confissão indiscreta do ministro, essa era uma epístola do próprio Jair Bolsonaro. “Foi um pedido especial que o Presidente da República fez para mim sobre a questão do (pastor) Gilmar”, disse o ministro em um púlpito, que pensava secreto, esconjurando a impessoalidade, a economicidade e transparência dos cânones legais. Ribeiro confessou o pecado com os lobistas da pastoral da má-fé, mas remiu Jair Bolsonaro. Como nos tempos do governador romano, Pôncio Pilatos, Barrabás foi poupado.
Os evangélicos abençoados pela graça bolsonarista são Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia. Parelha com acesso privilegiado a diocese demoníaca de Bolsonaro na Educação. Flávio Bolsonaro, o papa do chocolate e alquimista imobiliário, já fez orações em louvor de um deles, Gilmar Silva. Sem cargos na capela pública, evangelizaram como missionários informais no bispado do reverendo presbiteriano Milton Ribeiro e benziam as verbas bilionárias da pasta para os seguidores mais fiéis. Uma ação, ilegal, entre fariseus que, em tese, configuram muitos pecados. Entre eles prevaricação, corrupção, advocacia administrativa e tráfico de influência. A gravidade da profanação ensejou até mesmo a ressurreição de Augusto Aras, o PGR que assiste letárgico a devassidão ética, moral, política e institucional como um católico piedoso, que a tudo redime ou faz vistas grossas. Os falsos evangélicos estão infernizando o Brasil. Antes do Arilton havia o Amilton.
Em meados de 2021, a Nação foi apresentada a outro santo do pau oco que operava um conto do vigário de propinas nas vacinas. Amilton Gomes de Paula é um pastor evangélico formado na Assembleia de Deus, representante da Igreja Batista. É um missionário que se apresenta como representante de várias instituições e nenhuma o reconhece como seu professante. Presidente de uma ONG registrada na área da educação e produção cinematográfica negociava vacinas com mesma liturgia: portas abertas no éden da ganância do Ministério da Saúde, onde tudo que reluzia a ouro atraía. Amilton de Paula é bolsonarista de batismo, mas amaldiçoado depois da crucificação pública. Em seu depoimento à CPI da Pandemia do Senado Federal tentou proteger o grande Satã nas sucessivas tentativas de roubar a sacristia da prelazia da Saúde. Amilton e Arilton dão o mesmo tom penitente.
Após o recesso parlamentar do meio do ano de 2021, Amilton Gomes de Paula foi chamado para que os senadores investigassem os sacrilégios da cobrança de US$ 1 de propina por dose de vacinas da AstraZeneca. Chorou, se disse arrependido de ter atuado junto ao governo, mas pouco acrescentou à investigação. Colaborou apenas para expor a fragilidade no processo de compra dos imunizantes. Chamou a atenção o fato de as portas do purgatório da Saúde terem sido escancaradas para ele. Teve ao menos três encontros com os evangelizadores no Ministério, nos quais foram oferecidas 400 milhões de doses de vacina contra Covid-19. Amilton de Paula era o intermediador da Davati Medical Suplly, que dizia ter condições de vender os imunizantes da AstraZeneca e da Pfizer. Na prática era pura vigarice.
O milagre é dos acessos tão ágeis em plena pandemia. Os laboratórios oficiais e respeitados, como Pfizer, Butantan e outros, purgaram meses na fila comum dos devotos e, mesmo com sucessivas tentativas de comunicação via e-mails e conversas instantâneas, foram solenemente ignorados pelo Ministério da Saúde. Verdadeira dádiva, as portas foram abertas ao religioso que disse não conhecer ninguém naquela sacristia. Em seu depoimento, o reverendo Amilton afirmou que apenas mandou um e-mail ao alto clero da Saúde solicitando uma audiência. Foi recebido no mesmo dia. Quatro horas após enviar a mensagem eletrônica. Uma graça celestial. Os penitentes da Pfizer levaram seis meses para serem atendidos. Nas catedrais das redes sociais, o beato Amilton postou fotos ao lado do onipresente Flávio Bolsonaro. Ele admitiu ter feito campanha para Jair Bolsonaro em 2018.
De acordo com o TSE, entre janeiro de 2019 e abril de 2021 foi filiado ao PSL em Brasília, o partido pelo qual Bolsonaro se elegeu. Diante de documentos obtidos após as quebras de sigilos telemáticos de outros investigados, o reverendo ainda admitiu ter cometido o pecado do perjúrio e que bravateou em ao menos duas ocasiões. Em uma delas confidenciou a um de seus companheiros de desvio, Luiz Paulo Dominghetti, que a primeira-dama Michelle Bolsonaro o ajudaria na tramoia dos imunizantes. “Michelle entrou no circuito”, dizia uma mensagem enviada pelo reverendo a Dominghetti.
Na outra, enviada no dia 16 de março de 2021, afirmou que teria conversado com quem mandava no governo. “Ontem falei com quem manda. Tudo certo. Estão fazendo uma corrida compliance da informação da grande quantidade de vacinas”. No dia 15 de março, o endiabrado Dominghetti contou uma terceira pessoa que o reverendo havia se encontrado com Bolsonaro. “O reverendo, nesse momento, está com o 01”. Na CPI, o religioso se exibiu contrito. “É, isso aí foi uma bravata”. Dominghetti também conseguiu uma agenda quase instantânea professando sua fé pelos botequins de Brasília.
Outro que evoca Deus com recorrente agressividade e sem voto de pobreza, mais se assemelha a um prior da legião bolsonarista. A solidariedade impressiona pela devoção messiânica. Em 6 de agosto de 2021 foi às redes sociais pregar para que Bolsonaro usasse as Forças Armadas para intervir no Supremo Tribunal Federal. No Facebook e no Twitter, o pastor bolsonarista disse que os ministros do STF são ‘tiranos’ por investigar o presidente e que a ‘intervenção militar’ seria a única maneira de acabar com a “ditadura da toga”. Repetiu a mesma missa sombria em junho de 2020: “FORÇAS ARMADAS CONTRA ESSE DITADOR DA TOGA! Artigo 142 da CF contra esse absurdo! O apoio da imprensa a essa safadeza de Alexandre de Moraes, querem derrubar Bolsonaro porque perderam bilhões, o silêncio de Davi Alcolumbre, Rodrigo Maia e o presidente da OAB. VERGONHA TOTAL!”. No movimento golpista de 7 de setembro de 2021, o apoio evangélico chegou na semana anterior.
O pastor Silas Malafaia também convocou fiéis para engrossar a peregrinação autoritária que malogrou depois do rarefeito apoio, pouco mais de 200 mil fiéis em Brasília e São Paulo. A última missa da tirania, a reedição da marcha com Deus pela família, foi cancelada por carência de devotos. Bolsonarista terrivelmente evangélico, o pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC, e seus dois filhos, Filipe Pereira e Laércio Pereira, foram presos em agosto de 2020 na Operação Tris in Idem, que também determinou o exorcismo do cargo e posterior impeachment do ex-governador Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, eleito com Bolsonaro, Jair e Flávio, os Bórgias tupiniquins. O pastor foi citado na delação premiada do ex-secretário de Saúde, Edmar Santos, por conta da ascendência dele no Palácio Guanabara, e preso por corrupção. Segundo o índex da corrupção carioca, era o pastor Everaldo o profeta na saúde do Rio de Janeiro. Preso por suspeita de corrupção, é mais um do grupo da sacralidade de fachada, cujos segredos do confessionário revelam comportamentos diabólicos.
A ex-deputada, bolsonarista de batismo e evangélica, Flordelis, está recolhida na clausura, só que atrás das grades. Ela foi presa no mesmo dia de Roberto Jefferson, em sua casa, em Niterói, no Rio de Janeiro, 48 horas depois de ser excomungada do paraíso do foro privilegiado da Câmara dos Deputados. Ao deixar a residência, a ex-deputada carregava uma Bíblia e repetia a seus familiares: “Amo vocês, fé em Deus”. Flordelis é acusada de ser a mandante da morte do então marido, o pastor Anderson, assassinado na porta de casa em 18 de junho de 2019. Ela responde por homicídio triplamente qualificado – motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima – tentativa de homicídio, uso de documento falso e associação criminosa armada. É santo de casa, da casa bolsonarista, mas o Messias não faz milagres. Muitos dos seus devotos endiabrados já foram ou estão em cana depois de chegaram ao poder com o calvário da Lava Jato.
Deltan Dallagnol também é evangélico fervoroso. É outro falso profeta que abriu as portas para nossa estação no inferno. Delta, como é chamado pelos adoradores, acumula riquezas suspeitas, persegue inocentes e abusa das referências bíblicas para expiar suas profanações. É a Inquisição reencarnada. Em sua filiação partidária, depois de instrumentalizar o MP com objetivos políticos, também invocou a palavra de Deus, em vão: “Combater a corrupção é defender os princípios éticos e morais da Bíblia e da maioria das religiões que nos orientam a cuidar dos mais vulneráveis. O combate à corrupção foi a causa com que Deus me chamou para servir a sociedade e cuidar dos vulneráveis”. A falsa causa divina gerou uma penitência, decidia pelo STJ. Foi condenado a indenizar o ex-presidente Lula pelas blasfêmias no herético “power point”. Antes, por pecados iguais, que misturam a cobiça e a vaidade, foi punido no CNMP e condenado a indenizar outra de suas vítimas. Verdadeiro algoz, a coroa de espinhos do mártir não lhe serve. As condenações vão seccionando a falsa santidade.
Outro idólatra da prelazia bolsonarista trapaceou, praguejou contra a democracia, corrompeu a Justiça e o Ministério Público até ser recompensado com um altar reluzente dentro da seita maligna, no mais baixo clero que o Brasil tem notícia. Depois de tangenciar todos os 7 pecados, foi renegado pelos blasfemos que endeusou. Anunciado como redentor, hoje é só uma alma penada que não desencarna. Ex-juiz e ex-ministro, Sérgio Moro inaugurou a purgação atual, emporcalhou o Estado Democrático de Direito com pregações fascistas para alcançar a glória política. Ainda reza repetidas novenas pela ascensão ao poder, cada vez mais distante. Há outros anjos caídos, santos dos pés de barro, que completam a legião dos mal-intencionados, da má-fé e da incapacidade. Formam a teologia do crime e da morte, vaticinada no apocalipse, que não será perdoada pela história e nem pelos brasileiros: “Eis que surgirá um falso Messias que se unirá a falsos Profetas e muitos falsos Cristãos irão adorá-lo”.
Poucos decaídos que apostolaram fervorosamente no templo maligno do missionário da mentira, da morte, da miséria, da mamata, da milícia e dos milicos expiam por suas devoções pagãs. Os pecados mortais contra o Estado Democrático e a lei são irremissíveis: golpes, propinas em vacinas, no MEC, ministros investigados, dinheiro em cuecas, mansões milionárias, fábricas fantásticas de chocolate, rachadinhas, farras com dinheiro público, fake news, células paraestatais, funcionários fantasmas, depósitos para a evangélica Michelle Bolsonaro, narcotráfico no avião presidencial, orçamentos secretos e outros pecadilhos não perecem, se eternizam agônicos para os ímpios. Alguns tentarão reencarnar em outubro com a benção dos eleitores buscando o manto celestial do foro privilegiado. Mas muitos seguirão para o crepúsculo junto com o líder satânico e receberão, ao final, a extrema-unção política, profetizada pelas pesquisas. Que os anjos digam amém.
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* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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