Esquerda, olhando para frente!
É preciso repactuar a esquerda, construir unidade de programa entre expoentes, partidos e movimentos sociais organizados, redefinir seus campos e uma nova hegemonia política que nos lidere em tempos de guerra
A principal tarefa não é disputar as eleições, isso faremos no automático com Lula candidato ou cabo eleitoral. Importante é a disputa de poder no médio e longo prazo, só assim restabeleceremos o equilíbrio social e político. O próximo período será de reorganizar a esquerda nacional, definir e redefinir um campo político que construa nova maioria e a hegemonize, acumule ações táticas e decisões estratégicas, dirija a retomada da esquerda ao Governo e dispute o poder real. A esquerda precisa se realinhar na disputa de classes, compreender o crescimento dos postos de trabalho do setor de serviços e a redução da classe operária clássica, o avanço das micro e pequenas empresas como alternativa real de força de trabalho, o retorno do trabalho informal, dos novos modelos de economia cooperativa, o avanço das tecnologias de serviço, do desemprego em grande escala e o impacto real da reforma trabalhista para o movimento sindical organizado e em nossa sociedade nos próximos períodos, sem contar o efeito que poderemos sofrer com a reforma previdenciária, o desmonte do Estado e a venda de ativos e riquezas naturais patrocinados pelo atual governo, congresso e o judiciário em conluio. Para isso é necessário um núcleo dirigente capaz de pautar as lutas e disputas reais, que mobilize a sociedade, supere as divergências tendenciais e de campos políticos, dialogue cotidianamente com a militância de esquerda, os movimentos sociais, com a classe artística, cultural e intelectual do país, com as igrejas católica e protestante, expressões religiosas de matrizes africanas, espiritualistas, kardecista e etc., se relacione com as bases e com o povo, com as diversas camadas da sociedade, em diálogo constante com as forças políticas e, que definitivamente produza uma nova leitura do país.
Atualizar nossa agenda de lutas, programa e projeto redefinindo bandeiras, tática e estratégia na disputa de classes e no enfretamento com o setor rentista financeiro, a grande mídia e as alas mais conservadoras do congresso que não hesitam e não hesitarão em produzir condições de ruptura institucional para retomada do controle do Estado e da exploração das riquezas naturais do país a qualquer tempo. É preciso coesão, unidade e relação de confiança entre os dirigentes e militantes dessa esquerda, respeitar a história de luta dos que a constroem desde a luta contra a ditadura militar, redemocratização e a juventude desta geração, carregada de novas percepções e sensibilidade de luta para compreender essa sociedade do século XXI, pré e pós Governos Popular e democrático. É indispensável respeitar e conhecer a história política do país e da esquerda, para produzirmos uma leitura real de cenário, com resposta e ação eficaz contra o avanço conservador, sectário e radicalizado da direita no país e na sociedade. Em outros momentos da história mundial a falta de estratégia e de direção do campo de esquerda, a falta de unidade em um programa que unifique a luta dos trabalhadores "se repetiu como tragédia e como farsa".
Que fique claro: não é sugerido nenhuma refundação do Partido dos Trabalhadores, sua extinção ou alcova. Que existem novas frentes de luta se formando, organismos sociais e de classes, novos contextos em curso é fato não se pode negá-los, mas, não é possível negar outra realidade, o petismo e o PT são maiores do que sua burocracia interna, CNPJ, seus dirigentes, correntes e suas disputas. A forma como foi organizada sua fundação, é o resultado de anos de luta, todo esse acumulo contra as injustiças sociais e pelos direitos da classe trabalhadora e pela liberdade do povo, articulado intrinsicamente com os movimentos sociais, sindicais, organismos internacionais, agrupamentos clandestinos e de resistência a ditadura em conjunto com parte da intelectualidade, artistas, campesinos e cidadãos de diversas camadas da sociedade e classe social, projetados por todo o território brasileiro, culminou em seu ato de fundação, 10 de fevereiro de 1980, no simbólico colégio Sion. A vida e o crescimento deste partido irradiou e enraizou uma ideia no consciente coletivo e popular aonde tudo o que é vermelho, de esquerda, de rebeldia, de luta, povo ou massa que envolvem este país se faz referência ao PT, mesmo sendo outra organização à frente, isso
precisa ser compreendido de forma mais clara, sincera e profunda. Só existirá outro partido de esquerda com capacidade de luta real, se o PT criar, se o PT quiser ou se o PT efetivamente rachar e não com simples cisões pontuais, por pautas de interesses coletivo ou individual.
O que precisamos perceber de movimento real é o que hoje não se organiza em nomenclaturas, não se limita a organizações partidárias ou instituições sociais, existe um movimento social e eleitoral silencioso, descrente da esquerda nacional, que espera um resgate da luta real e que represente a agenda progressista, nacionalista e desenvolvimentista de um novo Brasil, com atualização das bandeiras de lutas e de um projeto de país consistente ou algo novo que se forme a partir de uma hecatombe. Não atoa os votos brancos, nulos e abstenções são crescentes e de certa forma nos atingem, não eleitoralmente contra a direita durante o sufrágio, mas, durante o decorrer da história, no cotidiano, nas criticas constantes e contundentes. Somos perseguidos pelos nossos acertos, porém, chegamos onde estamos por conta de nossos erros, táticos e estratégicos, pela nossa falta de comando, de programa e de leitura de país, erros constantes de comunicação e nenhuma inteligência organizacional. Não atualizamos o programa ao povo brasileiro, não atualizamos as bandeiras de "um país para todos" ou produzimos tecnologia social, econômica que coubesse esta nova sociedade inclusa tecnologicamente, com acesso cada vez maior as universidades e ao ensino superior, comunicação digital e todos outros acertos que construímos em anos de gestões petistas.
Por certo, é preciso repactuar a esquerda, construir unidade de programa entre expoentes, partidos e movimentos sociais organizados, redefinir seus campos e uma nova hegemonia política que nos lidere em tempos de guerra, crise e golpe, permitindo avançar na sociedade para além de nós mesmos, sinais de que é possível conquistar novos corações e mentes tem se provado ser possível no decorrer deste período de combate ao golpe e de defesa da democracia e do Direito de Lula ser Candidato. Com o avanço das reformas e da destruição de nosso patrimônio nacional será ainda mais real, precisamos estar preparados para um período longo de lutas e de acumulo de força social.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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