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Caitlin Johnstone

Jornalista independente da Austrália

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Esta civilização é profundamente antinatural

Esta civilização insana e invertida só nos parece normal porque foi deliberadamente normalizada ao longo de nossas vidas

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Publicado oiriginalmente pelo Caitlin’s Newsletter

Não há nada de natural nisso. A forma como as coisas são. A forma como estamos vivendo. Se essa fosse a maneira natural e saudável para a sociedade humana existir, não seriam necessárias montanhas de propaganda para mantê-la funcionando.

Sem quantidades copiosas de narrativas mentais sendo alimentadas a nós pelas pessoas no poder, jamais ocorreria a alguém que é uma ideia boa ou normal se comprometer com guerras de agressão do outro lado do planeta, ou apoiar genocídios, ou militarizar globalmente com centenas de postos militares ao redor do mundo, ou fomentar sistemas que permitem que poucas pessoas tenham muito enquanto outras têm muito pouco, ou destruir a biosfera da qual dependemos para sobreviver em prol dos lucros dos acionistas. Nunca aceitaríamos essas coisas se não estivéssemos vivendo nossas vidas saturadas por uma barragem ininterrupta de narrativas explicando que deveríamos aceitá-las.

Vivemos assim ao longo de toda a nossa vida. Através de manipulação psicológica em larga escala, nossas mentes são distorcidas de formas monstruosas e antinaturais para garantir que pensamos, falamos, agimos, trabalhamos, gastamos e votamos de maneiras que de outra forma nunca faríamos - tudo para manter as engrenagens dessa distopia monstruosa e antinatural girando. Se os poderosos não controlassem as narrativas dominantes dessa civilização, estaríamos vivendo em um mundo muito diferente do que vivemos hoje.

A narrativa é como os humanos tendem a se meter em encrencas. As histórias de pensamentos acreditadas em nossas mentes são o que nos levam a odiar, abusar, prejudicar e matar nossos semelhantes. São as que nos levam a um estado de ansiedade, mesmo em momentos em que nossos corpos estão completamente seguros e todas as nossas necessidades materiais estão sendo atendidas. São o que convenceram os humanos a marchar para guerras e cometer atrocidades ao longo dos tempos. A maior parte do sofrimento humano surge, em última análise, de histórias de pensamentos acreditadas.

Mas estórias de pensamentos acreditadas são o que moldam esta civilização. A única razão pela qual o poder existe onde existe, por que as nações e suas fronteiras existem como existem, por que o dinheiro opera da maneira que opera, por que as leis são escritas e obedecidas, é porque todos nós concordamos em acreditar em um monte de narrativas inventadas afirmando que essas coisas são verdadeiras. Amanhã, os americanos poderiam concordar que Taylor Swift é a Ditadora Suprema dos Estados Unidos e que os centavos de cobre são a única forma de dinheiro com qualquer valor, e se pessoas suficientes acreditassem nessas narrativas, essas narrativas se tornariam realidade.

Esse é o poder da narrativa, e é por isso que as pessoas poderosas investem tanta energia em aproveitá-la. Pelo poder da narrativa, podemos ser convencidos a consentir com coisas tão absurdas quanto fabricantes de armas usando a sua riqueza para fazer lobby por guerras e militarismo, o que lhes dá mais riqueza e que podem então gastar em mais lobby. Ou trabalhar quarenta horas por semana fazendo nosso chefe ganhar muito mais dinheiro do que somos pagos em uma empresa que está matando nosso ecossistema só para que possamos dar nossos contracheques a algum senhorio para viver em um prédio no planeta moribundo em que nascemos, unicamente porque o chefe e o senhorio tiveram a sorte de possuir a empresa e o prédio. Ou líderes mundiais brandindo armas do apocalipse uns contra os outros.

Esta civilização insana e invertida só nos parece normal porque foi deliberadamente normalizada ao longo de nossas vidas através do controle cuidadoso da narrativa pelas pessoas que se beneficiam dela. A narrativa governa nossas vidas.

Sem nenhuma narrativa acreditada em sua cabeça, há apenas um ser pacífico com o que é, e o corpo animal humano cuidando de suas poucas necessidades animais humanas. Adicione um monte de narrativas acreditadas e, de repente, você tem um eu, os outros, desejos, agendas, inimigos, posição social, objetivos, inadequação, estresse, um passado doloroso e um futuro assustador.

É possível que o organismo humano viva sem narrativas acreditadas na mudança de percepção comumente conhecida como iluminação espiritual, e é possível que os humanos como um todo abandonem as narrativas acreditadas que nos estão sendo impostas pelos poderosos da mesma maneira. E assim como a iluminação traz consigo a realização de que a antiga maneira de perceber era, na verdade, uma maneira antinatural de operar; despertar das narrativas dominantes de nossos dias nos permitirá abraçar uma maneira muito mais natural de existir uns com os outros e com o nosso ecossistema neste planeta.

Você pode chamar isso de um objetivo elevado e inatingível, se quiser, mas para mim estou apenas falando sobre a única adaptação que tem alguma chance de afastar a nossa espécie da aniquilação. Toda espécie atinge um ponto de inflexão de adaptação ou extinção em algum momento da sua existência, e estamos chegando ao nosso agora. Vamos transcender nosso o relacionamento doentio da narrativa, ou nos extinguiremos via uma guerra nuclear ou a destruição ambiental.

Todos os sinais que estou vendo agora sugerem que temos a capacidade de seguir por qualquer um dos dois caminhos.

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