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    Ronaldo Lima Lins

    Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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    Estado manietado

    Logo viraremos amantes da paralisia no clube da estupidez. Já perdemos a cultura, a indústria naval, a da construção civil... Perdemos a guerra contra a epidemia, com pilhas de mortos e enfermos. No terreno das perdas, falta-nos pouco para destacar. Que, pelo menos, tenham medo da CPI do Senado. É possível que ela, intimidando-os, lhes diminua a sede de poder

    O Estado moderno fez da contradição um de seus alicerces. Ao contrário das monarquias absolutas ou das tiranias de várias colorações, nele se entende que a discussão e a circulação de ideias ajudam a adotar as opções do ponto de vista do bom ajuste das diferenças. Nas ditaduras não é assim. O esforço se encaminha no sentido de uma formulação unívoca, não se admitindo contestações. A simples existência de um funcionário com visões alternativas provoca crises que o conduzem à demissão. No governo Bolsonaro, estamos próximos disso. É uma tragédia que aponta para uma situação de paralisia em que nem caminhamos, nem concebemos soluções para o combate à estagnação. Se não batemos ainda nas traves do regime de exceção, sem dúvida namoramos com ele. E a nação assiste, atônita, ao panorama de uma carência tentacular que nos rouba as antigas qualidades da formulação cultural, da criatividade e do debate das questões. 

    Não há necessidade de esforço para detectar o brilho das algemas nas várias funções da República. E os seus malefícios. No Ministério da Educação, substituiu-se o presidente da CAPES por uma senhora de Bauru – Cláudia Mansani Queda de Toledo - sem qualificação para o cargo, o qual, por tradição e pela natureza de suas funções, devia se destinar a pesquisadores de renome. Privilegiou-se a identidade ideológica de direita, de modo que todos, dentre em pouco, falem a mesma língua e exercitem os mesmos ideogramas da mediocridade. Medidas semelhantes ou piores, já foram tomadas em outras instâncias, incluindo no desmatamento da Amazônia, no qual nos aventuramos, a passos de gigante, no sentido da devastação. 

    Por inspiração do FBI, nos Estados Unidos, e da Scotland Yard, na Grã-Bretanha, a Polícia Federal se fortaleceu em torno de uma autonomia que lhe permitisse investigar acima do quadro político e de seus interesses imediatos. Administrações anteriores no Ministério da Justiça caíram, em parte por defendem tal postura. O Estado manietado não admite independência. Só deseja escutar a própria voz, embora desafine no plano internacional. Ricardo Salles, do meio ambiente, chocou-se com o superintendente da Polícia Federal Alexandre Saraiva. Não lhe agradou que lhe impedissem a boiada de passar. Saraiva entrava com uma notícia crime no STF, sob o argumento de que o Ministro do Meio Ambiente obstruía as investigações contra os madeireiros. A administração Bolsonaro, como lhe é de hábito, quer a uniformidade, não a justiça. Salles ficou; Saraiva saiu. 

    Logo viraremos amantes da paralisia no clube da estupidez. Já perdemos a cultura, a indústria naval, a da construção civil... Perdemos a guerra contra a epidemia, com pilhas de mortos e enfermos. No terreno das perdas, falta-nos pouco para destacar. Que, pelo menos, tenham medo da CPI do Senado. É possível que ela, intimidando-os, lhes diminua a sede de poder.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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