Este governo se esgotou e fracassou
"Esse governo acabou, tenta sobreviver, mas sua sobrevivência só pode ser fazer às custas do Brasil, da situação social e da vida dos brasileiros, da democracia", escreve o sociólogo Emir Sader. "Fora Bolsonaro e seu governo. Fora os militares que tentam sequestrar o Estado. Fora os que resistem à democracia, aos direitos do povo"
Os mesmos que arquitetaram a chegada desse governo ao poder, agora tratam de colocar-lhe esparadrapos, como se fosse possível corrigir o já nasceu errado, como farsa, como atentado contra a democracia.
E o fazem, porque se dão conta que esse governo se esgotou e fracassou. O homem a quem eles apelaram para presidir o governo é incompetente para assumir o cargo, para presidir o país. E destitui até da capacidade de mudar um ministro que o afronta abertamente, sabendo que o presidente não preside, nem decide.
Quem se ocupa da economia, já antes da pandemia, já se havia revelado incapaz de fazer a economia andar, de criar empregos, mesmo destruindo patrimônio público, mesmo fazendo todas as concessões aos grandes empresários e em especial aos bancos. Estes preferem a especulação financeira ao investimento produtivo que gera crescimento e empregos. Preferem a sonegação à fuga de capitais.
Tiram poder a quem entregaram o poder. Relegam a um pape decorativo quem deveria estar comandando o país, mas que só atrapalha, desagrega ao invés de unir, ameaça em lugar de pacificar.
A direita – os grandes empresários, a mídia, os militares – tratam agora, embaixo da mesa, na calada da noite, de mudar as regras do jogo, de construir um governo dentro do governo, um poder que maneje as coisas de maneira subrepticia. Querem um parlamentarismo em que quem manda não foi eleito, não está submetido a nenhum tipo de controle, nem do Parlamento, nem do Judiciário, porque não dá as caras, governo e manda, sem assumir o ônus de fazê-lo.
Se constrói uma caricatura de democracia, em que vão aparecendo personagens soturnos, saídos das casernas, que festejam o golpe, a ditadura e as torturas. Que desprezam a democracia e a destroem cotidianamente. Que mandam de costas para a sociedade civil e para a cidadania, porque os negam com seu poder clandestino, que não foi delegado pelo povo, mas escolhido pelo presidente declarado incompetente para governar, depois de ter suas qualidades cantadas em prosa e verso por aqueles que agora se distanciam ou buscam uma forma de se reconciliarem com quem usurpa o poder desde dentro do Estado.
Mas não tem jeito, não ha remendo que recupere esse governo. Ele está doente de morte pela forma não legítima como foi eleito. Pela política econômica suicida para o Brasil, para o povo brasileiro e para a democracia. Pelo presidente que foi colocado lá, seus filhos e suas milícias. Pela participação dos militares, não eleitos, que ocupam o governo com fins de afirmarem seu papel conservador e repressivo. Pela incapacidade de todos eles de enfrentarem os graves problemas que o Brasil enfrenta. Não foram capazes de enfrentar a recessão e o desemprego. Não são capazes de enfrentar a pandemia. Não serão capazes de encarar a reconstrução do Brasil.
Porque o Brasil pós-pandemia vai ter que ser reconstruído inteiro: o Estado, a economia, a sociedade, a educação, a saúde, a cultura, a política internacional. Tudo, tudo. E ele só poder ser reconstruído a parir da sua esfera pública: de um Estado fortalecido, da recuperação da produção econômica, das políticas de distribuição de renda, da escola pública, da saúde pública, da mobilização de toda a população para a reconstrução do país: dos trabalhadores, dos pequenos e médios proprietários, dos jovens, das mulheres, dos negros, dos professores, dos artistas, dos intelectuais, de todo o povo, para que seja uma reconstrução coletiva, democrática, solidária.
Esse governo acabou, tenta sobreviver, mas sua sobrevivência só pode ser fazer às custas do Brasil, da situação social e da vida dos brasileiros, da democracia. Fora Bolsonaro e seu governo. Fora os militares que tentam sequestrar o Estado. Fora os que resistem à democracia, aos direitos do povo, à liberdade, ao livre debate, à criação artística, às escolas e aos estudantes, a um Brasil orgulhoso de si mesmo, porque dono de novo do seu destino.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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