Falhas do GSI expõem insegurança no entorno do presidente
"Não se sabe mais o que pode acontecer – e não é bom nem imaginar – para que se repense a política de segurança do entorno do presidente", escreve Denise Assis
Esculacho. É esse o nome que se dá a um ato que desmoraliza as forças de segurança de um governo. E que me perdoem os que prezam a linguagem clássica e formal, mas não há como classificar de outra forma episódios como esses que envolveram carros da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Rio de Janeiro, para a participação no encontro do G-20.
Um veículo alugado para dar suporte às equipes que atuavam durante a Cúpula do G-20 no Rio de Janeiro foi recuperado pela Polícia Militar menos de um dia após ser roubado (que eficientes!). A recuperação ocorreu nesse domingo (17/11), em uma ação coordenada pelo setor de inteligência da corporação no Complexo do Chapadão, na Zona Norte da cidade.
A notícia foi descrita nos mais variados veículos: “um Toyota Corolla branco foi roubado na noite de sábado em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Por volta das 20h, o veículo foi interceptado por outro automóvel, de onde desceram três homens armados com pistolas. Os criminosos forçaram o motorista a sair do carro e levaram tanto o veículo quanto o celular da vítima”.
E não ficou nisso. Este foi o segundo episódio envolvendo veículos ligados à cúpula internacional. Na última quinta-feira (14/11), outro carro, que fazia parte da comitiva do ministro Márcio Costa Macêdo, foi roubado no Centro do Rio (e se o ministro estivesse dentro?). A tentativa de recuperação desse automóvel resultou em confronto armado entre policiais e traficantes na Favela Nova Holanda, na Zona Norte. (Que beleza!).
Ainda recentemente, em São Paulo, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) passou por vexame semelhante. Sendo esse o órgão responsável pela “inteligência” do governo, foi ele vítima – ou alvo, melhor dizendo – daquilo que deveria prever: violência. Fatos que colocassem em risco a vida do presidente.
Naquela ocasião, quando equipes do 3º Distrito Policial de São Bernardo e da Polícia Militar encontraram o carro da comitiva do GSI, roubado durante uma operação de reconhecimento do local de votação do presidente Lula, ficou constatado que, além do roubo, houve desleixo com o material de trabalho. Dentro do veículo recuperado havia computadores, crachás de identificação da equipe da Presidência e celulares. O roubo ocorreu na tarde do dia 4, véspera do primeiro turno da eleição, em São Bernardo do Campo (SP).
Inevitável mencionar o atentado a bomba na noite da quarta-feira (13/11), em Brasília, na porta do Supremo Tribunal Federal (STF), quando o desempregado/chaveiro Francisco Wanderlei Luiz morreu depois de tentar atirar bombas na direção do Supremo, sendo ele atingido por uma delas e falecendo no local. (Não vou chamá-lo de Tiü França, para não amenizar o seu gesto).
No dia seguinte, o GSI tratou de comunicar à mídia a interceptação de um carro que tentou invadir a Granja do Torto, fato depois desmentido por uma pessoa muito próxima a Lula. O que aconteceu, de fato, foi um erro de percurso de um motorista, logo retificado. Porém, como estava muito mal na fita, o GSI tentou faturar, divulgando para a mídia um suposto “novo atentado”.
Não se sabe mais o que pode acontecer – e não é bom nem imaginar – para que se repense a política de segurança do entorno do presidente e do seu governo. Nos moldes em que está, não é mais possível continuar. A desgastada imagem do “queijo suíço” é totalmente cabível nessa situação. Há furos por todos os lados que se olhe na segurança do presidente. Sustos nacionais e internacionais – oito horas voando sobre o aeroporto do México – não foram suficientes para que tomassem providências ou fizessem alteração no esquema que se mostra, há muito, precário.
Não se trata de alarmismo. É a constatação de vexame sobre vexame e um passar de pano sem fim. O que mais é preciso acontecer, depois que, durante meses, um sujeito radicalizado posta insistentemente nas redes sociais ameaças explosivas e não é detectado pelo serviço de “inteligência” ou pelas investigações da Polícia Federal? Ele está morto. Quem mais será preciso ser alvo para que se discuta com vontade e responsabilidade uma política séria de inteligência?
Já se sabe que o governador do Distrito Federal está sempre ausente quando a barra pesa. Já se sabe que, mesmo ausente e distante, ele tem uma pronta resposta para as falhas de segurança na Praça dos Três Poderes. Desta vez, lá de Roma, ele já decretou, minutos depois da morte do homem que não tem sobrenome, apenas nomes próprios: “suicídio”. Portanto, com ele, para garantir pelo menos o entorno do Planalto, não se pode contar. O que se supõe é que seria papel do GSI antever cenários e riscos. Mas, por enquanto, eles se conformam em ser manchete. Na condição de vítimas. Não em plena atividade de prevenção, que deveria ser o trabalho deles.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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