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    Nívea Carpes

    Doutora em Ciência Política e mestre em Antropologia Social

    27 artigos

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    Farsesco capitalismo parasitário!

    Rosa de Luxemburgo já discutia a sustentabilidade do capitalismo, romper com suas regras originais seria violar sua própria existência. Explorar as “terras virgens” está no seu cerne, apesar de negar “terras virgens” às nações que explora, impondo uma espécie de limite a si mesmo.

    Rosa de Luxemburgo já discutia a sustentabilidade do capitalismo, romper com suas regras originais seria violar sua própria existência. Explorar as “terras virgens” está no seu cerne, apesar de negar “terras virgens” às nações que explora, impondo uma espécie de limite a si mesmo.

    Ao viver de forma parasitária, desmantelando as forças dos hospedeiros, não tarda em necessitar de outras vítimas, a cada novo ciclo. Criatividade para “inventar e reinventar” é essencial para esse modelo econômico, levando a novos hospedeiros. O que mudou com o passar dos séculos foi a perspectiva, talvez expectativa, que num primeiro momento buscava conquistar a estabilidade econômica, mas que na sua configuração mais atual não se perturba com a instabilidade. Com isso, tem desenvolvido artimanhas em campos múltiplos de ação, que garantem a submissão aos ideais capitalistas. A conquista ideológica propícia o tempo necessário para inovar-se, enquanto as mentes, os estilos de vida e a visão de mundo coletiva defendem seus princípios.

    No mundo do capital tudo é negócio, inclusive o endividamento das pessoas, uma forma de garantir acesso ao dinheiro avido através do trabalho, sem precisar investir na produção. O mercado aposta até mesmo no descontrole diante das facilidades de se endividar e está focado na atração que gera novos e novos motivos de gastos. É uma bola de neve, a oferta do endividamento eterno, o refinanciamento de dívidas e os ganhos empenhados, ainda que sem novas aquisições. Tudo garantido pela conquista do pensamento cooptado pelo estilo consumista.

    O capitalismo parasitário aposta no atoleiro de quem podia consumir e de quem não podia, com as facilidades de financiamentos, de créditos e da tomada de empréstimos, podendo entrar em colapso pela falta de sintonia entre a produção de riqueza abaixo do endividamento. A solução costuma ser auxílio do Estado aos bancos, e políticas para restabelecer a capacidade de consumo das pessoas. 

    O Estado acode para retomar a roda do consumo. O Estado, que segundo a “cartilha” do bom capitalismo, deve ser fraco, sempre socorre o empresariado. Esse grupo de, majoritariamente, hipócritas, que rezam, que votam e que fazem votar pelo Estado mínimo.O capitalismo forma uma espécie de cultura, uma delas, a de subordinar as pessoas a resolver seus problemas existenciais dentro de uma mesma lógica, recorrendo ao mercado, seja de empréstimos, de serviços ou de produtos. Como viciados, sociedades inteiras, de países periféricos ou do centro capitalista, envolvem-se profundamente nessa lógica e não sabem viver de outro modo e com base em outros valores.

    O papel do Estado arrecadador de impostos, supostamente, deve ser mínimo, para a satisfação dos discursos liberais. Na realidade, é o Estado assistencial dos ricos, mínimo somente para o povo, como se esse não tivesse direito a parte da riqueza gerada.

    Em plena pandemia, a analogia a vírus parece muito apropriada para o capitalismo, uma vez que se dissemina com imensa velocidade e oportunismo, com destacada capacidade de adaptação às idiossincrasias dos novos hospedeiros. Apesar de tudo, a grande questão é se realmente existirão sempre “terras virgens” a serem desbravadas e parasitadas.

    O chamado dos pequenos consumidores para o mercado de ações é uma dessas tentativas, trazer o dinheiro dos comuns para as grandes artimanhas das bolsas do mundo. Quiçá, serão os pagadores dos prejuízos em alguma situação de crash, uma vez que são os menos capazes de perceber os sinais de esgotamento.Simon Jenkins, colunista do Guardian, escreve que o capitalismo contemporâneo está de tal maneira, em termos de solução de problemas que “é como um piloto protestando que seu avião está funcionando muito bem, com exceção dos motores”. E assim é que vivemos o Estado assistencial para os ricos, assim é que o Estado encontra formas de canalizar para a mão de privados um recurso que a sociedade não concordaria em entregar diretamente à burguesia.

    O capitalismo é ainda a cooperação entre Estado e mercado. 

    No Rio Grande do Sul, uma cartilha do governo LGBT de Eduardo Leite discute privatizações e questiona o que as privatizações tem a ver com os serviços essenciais como saúde, segurança e educação. A resposta é a de que o Estado tem que se livrar do peso das empresas públicas para se dedicar às áreas onde realmente é insubstituível. Afirma que a gestão pública cada vez menos tem espaço para ideologias, que os cidadãos exigem serviços que estejam à altura dos impostos pagos. 

    Pergunta e resposta casadas, prontas a oferecer uma narrativa canalha e vazia, que ao fim nada diz, mas garante um caminho do dinheiro público às empresas privadas. 

    É o capitalismo parasitário, preguiçoso, cansado de se reinventar, buscando a solução fácil para chegar à acumulação pelo menor esforço, hospedando o Estado, a central de arrecadação de recursos do trabalhador. 

    Esse é o mesmo tipo de proposta de acesso selvagem às riquezas praticados nos golpes que se espalham pelos países periféricos fartos em riquezas naturais. Nações que são praticamente assaltadas e forçadas a entregar suas riquezas, alvos de ataques de países ricos que incentivam cenários artificiais de desinvestimento e corrupção, que facilitam a tomada desses recursos. 

    Esse sistema só pode sobreviver com o auxílio das economias periféricas!

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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