Foram duas as tentativas de golpe
"8 de janeiro foi a farsa do golpe original que não se concretizou", afirma Tereza Cruvinel
A Operação Tempus Veritati, realizada nesta segunda-feira pela PF, permite a compreensão de que foram duas as tentativas de golpe de Estado para burlar o resultado da eleição presidencial e manter Bolsonaro no poder. As investigações revelam que Bolsonaro planejou um golpe com uso de tropas militares antes da posse de Lula, que o manteria no governo, prenderia ministros do STF e o presidente do Congresso e marcaria novas eleições presidenciais.
Como este golpe não aconteceu, em 8 de janeiro houve uma tentativa desesperada de realizá-lo, já com Lula empossado e Bolsonaro nos Estados Unidos, forçando a adoção de uma GLO com a invasão das sedes dos três poderes e o vandalismo generalizado que chocou o país. Esta, poderíamos dizer, foi a farsa do golpe original que não se concretizou.
Bolsonaro, que hoje teve apenas o passaporte apreendido, agora está definitivamente comprometido com o crime de golpe de Estado. Se em relação ao 8 de janeiro ele pode alegar que nem estava no país, agora existem provas de que ele planejou um golpe que seria dado antes da posse de seu sucessor eleito.
O golpe antes da posse seria consumado com a intervenção de tropas do Exército, através do batalhão do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), localizado em Goiânia e vinculado ao Comando Militar do Planalto. Por isso um dos alvos da operação desta segunda-feira foi o general Theóphilo Gaspar de Oliveira, que era na época o comandante da unidade.
A PF concluiu, a partir de mensagens obtidas no celular do ex-ajudante-de-ordens Mauro Cid, que o general Teóphilo reuniu-se com Bolsonaro no dia 9 de dezembro, três dias antes da diplomação de Lula, na qual foi acertada a participação de seu comando no golpe. Ele teria concluído e se colocado de prontidão.
Não por acaso, o ministro Alexandre revelou, em sua fala no ato que esconjurou a tentativa de golpe no último dia 8 de janeiro, que um dos planos era prendê-lo e levá-lo para Goiânia. Agora fica claro que seria para o batalhão terrestre comandando pelo general Teóphilo.
O plano previa que oficiais das Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos), atuariam prendendo o ministro do STF Alexandre de Morais e outras autoridades. O golpe previsto para antes da posse falhou mas vários Kids Pretos foram, de fato, vistos em ação na tentativa de ressuscitar o golpe de 8 de janeiro.
O plano para o golpe original seria baseado, juridicamente, em decreto cuja minuta foi apresentada a Bolsonaro pelo então assessor Filipe Martins, um dos presos nesta segunda-feira, e Amauri Feres Saad, outro assessor. O decreto, alegando interferências do STF no Executivo, determinaria a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Bolsonaro teria feito mudanças no texto, mantendo apenas a prisão de Morais, que teve monitorados os voos que realizou entre 14 e 31 de dezembro.
Como todos se lembram, no dia 12 de dezembro, em que Lula foi diplomado pelo TSE, falanges bolsonaristas tocaram o terror em Brasília, tentando inclusive invadir a sede da PF.
O que não está claro ainda é por que o golpe de antes da posse não aconteceu. Possivelmente, faltou coragem a Bolsonaro, que na hora H recuou e preferiu embarcar para os Estados Unidos. Todos se lembram da lenga-lenga sobre seu destino nos dias finais de dezembro de 2022. Ora se dizia que ele viajaria nesta ou naquela data, ora se dizia que ele resolvera passar a faixa presidencial para Lula. Nas vésperas do Natal foi abortado o plano para explodir uma bomba no aeroporto de Brasília. Talvez esta fosse a senha para o golpe. Fato é que ele não veio e Bolsonaro embarcou no dia 30 de dezembro.
Afora a conhecida covardia de Bolsonaro, talvez tenha havido, como sustenta o ministro José Múcio, alguma reação dos altos comandantes das Forças Armadas para impedir o golpe de antes da posse.
Ainda saberemos. A hora da verdade está mesmo chegando.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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