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    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

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    Frente ampla desmobiliza o social e concentra o capital levando esquerda à derrota eleitoral

    A estratégia da frente ampla vitoriosa em 2022 resultou na desmobilização política dos trabalhadores, de um lado, e da concentração dos capitalistas, de outro

    Ricardo Nunes e Guilherme Boulos (Foto: Edson Lopes JR./Prefeitura SP e Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados)

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    O que aconteceu em SP, berço dos trabalhadores, foi paradigmático, com reflexos em todo o país, sinalizando que nas eleições municipais de 2024 se encontra o germe que deverá se materializar em 2026: comprovação de que a estratégia da frente ampla vitoriosa em 2022 resultou na desmobilização política dos trabalhadores, de um lado, e da concentração dos capitalistas, de outro, levando o país para o centro-direita com consequente derrota da esquerda.

    A luta de classe foi ganha pelo capital com a derrota ampla do trabalho.

    A força da mobilização social dos trabalhadores não aconteceu, porque ela se revelou consequência da estratégia da renúncia da esquerda à luta popular contra o neoliberalismo, para enfrentar a direita que a puxou para o seu lado endireitando-a e, consequentemente, derrotando-a.

    A luta política partidária burocratizou a esquerda debaixo de um Congresso conservador, de perfil semiparlamentarista, semipresidencialista pró-mercado, pró-Faria Lima, antidesenvolvimentista, antinacionalista, com ampla maioria, que organizou o centro-direita e ultradireita para a vitória.

    Dessa forma, restringindo-se, apenas, à luta parlamentar, deixando de lado a mobilização social, a esquerda deixou campo aberto à direita e ultradireita para conquistarem as prefeituras por meio da estratégia das emendas parlamentares que abastecerem suas bases eleitorais de dinheiro.

    Em situação desfavorável, nesse cenário, a esquerda, politicamente, descapitalizada, graças à desmobilização social, perdeu força para a luta decisiva.

    Em termos amplos, o modelo neoliberal se mostrou eleitoralmente vitorioso, graças à articulação formada pelo Congresso conservador, dominado pelo semipresidencialismo inconstitucional, que anulou o presidencialismo constitucional, configurando aliança com o mercado especulativo, predominante nas políticas monetárias anti desenvolvimentistas, conduzidas pelo Banco Central Independente, via taxa de juro extorsivas, bloqueando as forças produtivas, ou seja, o lulismo desenvolvimentista, em nome do ajuste fiscal ultraneoliberal pregado pela Faria Lima.

    Derrota das conquistas sociais - A armação da direita e ultradireita destruiu as conquistas sociais históricas das forças progressistas e consagrou a vitória do seu oposto, das forças anti sociais reacionárias.

    A correlação de forças vitoriosa do centro-direita-ultradireita impôs à esquerda papel secundário para a conformação da estratégia política que se avizinha para se materializar em 2026.

    O centro-esquerda perdeu importância, porque as forças centristas conservadoras reacionárias se organizaram para abandonar a esquerda que ficou, no geral, isolada, sem força de conjunto, por causa da desmobilização social.

    A armação conciliatória da frente ampla de cima para baixo se enfraqueceu na hora decisão fundamental do voto porque desdenhou da organização de baixo para cima, isto é, da mobilização social.

    Resultado: a esquerda, no desespero, conciliou-se, demasiadamente, com a direita, mas isso contrariou a sua natureza, de ser aliada dos trabalhadores, que se sentiram traídos, na posição desconfortável de ter que abraçar o urso, que os engoliu.

    A direita isolou a esquerda que se endireitou e perdeu, portanto, sua especificidade, sua função política aos olhos dos trabalhadores, que se sentiram órfãos.

    Trabalhadores enganados - O fenômeno político que caracterizou a ascensão do oportunista Pablo Marçal, de ultradireita, demonstrou tentativa ilusória, desesperada dos trabalhadores de enfrentarem a direita e o centro, forças conservadoras anti-trabalho.

    Quase deu certo.

    Se Marçal tivesse triunfado, teria ocorrido, no segundo turno em SP, disputa de direita com ultradireita, como aconteceu em outros estados.

    No entanto, como a esquerda, socialmente desmobilizada caiu na armadilha da direita neoliberal de priorizar o identitarismo como luta política essencial e não virtual, meramente, acessória, verificou-se, no final, com Guilherme Boulos, do PSOL, o equívoco total.

    As teses identitárias que, histórica e contraditoriamente, contrariam o espírito conservador da própria classe trabalhadora, produzindo o chamado pobre de direita, como teorizou Jessé Freire, levaram à vitória do bolsonarismo em número de votos, embora as forças bolsonaristas tenham se dividido, evidenciando choques de lideranças que se refletirão na rearrumação prevista das forças conservadoras, para a luta decisiva em 2026.

    O fato é que as eleições municipais desmancharam o que aparentemente se mostrava sólido: a força do PT como norte da aliança que levou o presidente Lula ao Planalto em 2022, derrotando a direita e ultradireita, vitoriosas em 2018 com Bolsonaro.

    Divisão aparente - Dessa vez, ocorreu, na aparência, racha nas forças de direita, com certo isolamento da ultradireita fascista bolsonarista, mas de forma insuficiente, capaz de permitir a vitória das forças progressistas.

    Esse fenômeno se deu porque com a frente ampla o que se verificou foi a ampla desmobilização dos trabalhadores, isto é, das forças sociais progressistas, devido à renúncia à organização política combativa da esquerda, capaz de puxar o centro para si.

    Ao contrário, a esquerda foi arrastada para a direita, e seu destino, se não mudar, mediante organização de baixo para cima, das forças sociais trabalhistas, despossuídas pelo modelo neoliberal, o resultado será a derrota em 2026.

    Essa perspectiva embute ou não ascensão provável do centro-direita, com apoio do fascismo de ultra direita radical, com discurso semelhante ao do presidente Javier Milei, da Argentina?

    De agora em diante, ou o governo muda a política neoliberal, que acaba de derrotá-lo nas urnas municipais, ou se prepara – consciente ou inconscientemente? – para nova derrocada, caso continue priorizando o teto de gasto imposto pela Faria Lima, que visa cortes nos programas sociais para continuar a política do rentismo.

    O efeito dessa estratégia econômica, politicamente, suicida, evidenciada na derrota municipal, será manter a economia em banho maria, sob juro alto, com baixos salários etc.

    Os trabalhadores, politicamente, desmobilizados pelo neoliberalismo rentista, abandonariam ou não a esquerda, como acabou de acontecer, consagrando vitória do centro-direita-ultradireita na sucessão presidencial?

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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