Frente democrática com Bolsonaro?
"É bom ficar atento. Se houver um entendimento entre o fascismo e a Casa Grande, quem vai para a fogueira, mais uma vez, é a turma da senzala", escreve o jornalista Ricarco Cappelli
O editorial do jornal O Globo fez uma leitura interessante das aspirações totalitárias do presidente, defendeu o diálogo entre os democratas e concluiu:
“Esta via política não deve excluir Bolsonaro, que, por sua vez, precisa fazer um gesto pelo entendimento, a melhor alternativa também para ele e seu governo. Com a pacificação, o presidente abrirá espaços de negociação no Congresso, para além do centrão, a fim de executar sua agenda, paralisada, como tudo, devido à crise política.”
Será que a família Marinho pensa que o capitão é um ingênuo envolvido na marcha autoritária de forma desavisada? Acredita mesmo que ele pode ressurgir como um verdadeiro democrata?
Foi uma sinalização para um entendimento por cima? Ou uma tentativa de colocar no colo de Bolsonaro o impasse? Será um último aviso antes da ofensiva final pela sua derrubada?
O Globo fez este movimento descolado da Banca?
O jornal diz que a “esquerda democrática” deveria participar do entendimento. Quem estaria dentro desta “categoria global”? Quem seria excluído?
O texto diz que o importante é a agenda de Guedes avançar. Não é coincidência a emissora ter escondido o desempenho do ministro da Economia na reunião dos palavrões.
O editorial de hoje seguiu a mesma linha do editorial publicado pelo Estadão na semana passada. Num dia pediu a derrubada de Bolsonaro. No dia seguinte disse que ele e Lula são iguais.
Os liberais estão numa fria. Defendem a mesma agenda de Guedes, mas sabem que ela foi engolida pela pandemia. E temem que a cassação da chapa pelo TSE abra caminho para um novo processo eleitoral. Qual seria o desfecho?
Sabem que o neoliberalismo tardio não passa no voto popular. Podem estar fazendo as contas e optando pela “redução de danos” - é péssimo com Bolsonaro, mas pode ficar pior sem ele.
Por isso sinalizam por um acordo. Com as mortes escalando, o desemprego e o desalento explodindo, estamos virando um barril de pólvora, prestes a explodir. As conseqüências da crise, gravíssima e cada vez mais profunda, são imprevisíveis.
Um regime de força conseguiria avançar rapidamente nas “reformas” defendidas pelo mercado? As reformas da previdência, tributária e administrativa poderiam ganhar celeridade? O fascismo é a ditadura terrorista do capital financeiro?
A elite brasileira nunca teve apreço pela democracia. É antinacional e antipovo. Significa que devemos abrir guerra contra estes setores? Não.
Se o capitão decidir marchar por cima deles, eles podem "virar democratas", não por amor repentino à democracia, e sim pelo velho e bom instinto de sobrevivência.
Mas é bom ficar atento.
Se houver um entendimento entre o fascismo e a Casa Grande, quem vai para a fogueira, mais uma vez, é a turma da senzala.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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